quarta-feira, 6 de maio de 2015

Biografia e obras de Paula Ney


FRANCISCO DE PAULA NEI

Francisco de Paula Ney foi um poeta e jornalista cearense. Nasceu em Aracati no dia 2 de fevereiro de 1858 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de novembro de 1897. Era filho de Mariano de Melo Nei – alfaiate – primeiro Mestre do corte em Fortaleza e D. Carlota Cavalcanti de Sousa Pinheiro. Paula Ney nutria um grande amor pelo Ceará. Ele costumava dizer: "Pelo Brasil eu morro e pelo Ceará eu mato!".

Quando menino, constituiu-se o tormento de distintas casas de ensino. Em Fortaleza estudou no Ateneu Cearense, sendo contemporâneo de Capistrano de Abreu, Rocha Lima, Domingos Olímpio, João Lopes, Rodolfo Teófilo e Xilderico de Farias. Em 1873 passou a estudar no Seminário de Fortaleza, atendendo ao desejo de seus pais. Por falta de vocação e mal comportamento, é devolvido aos pais, ingressando então no Liceu Cearense. No Rio de Janeiro começou a estudar na Faculdade Nacional de Medicina. Após uma desilusão amorosa e a reprovação nos exames, decidiu dar continuidade aos seus estudos na Faculdade de Medicina da Bahia. Desistindo de estudar medicina e, saudoso da boemia carioca, retorna ao Rio de Janeiro. 

Paula Ney foi uma figura marcante no Rio de Janeiro, fazendo parte de uma brilhante geração de literatos. Em sua época, os cafés e as confeitarias eram os lugares de encontro dos intelectuais. O grupo frequentava a Confeitaria Pascoal, na Rua do Ouvidor e, posteriormente, migraram para a Confeitaria Colombo, com sua fundação, na Gonçalves Dias em 1894. Seus companheiros de boemia eram: Olavo Bilac, Coelho Neto, José do Patrocínio, Pardal Mallet, Luís Murat e Guimarães Passos. 

Desde cedo descobriu que sua verdadeira vocação era o jornalismo e, por essa profissão, largou o curso de medicina. Paula Ney trabalhou com José do Patrocínio no jornal Gazeta de Notícias. Ambos propagavam a abolição dos escravos, tendo trabalhado com afinco em prol dessa causa. Foi Paula Ney quem trouxe José do Patrocínio ao Ceará para trazer mais um incentivo à causa abolicionista, porque no Ceará o movimento já era uma realidade. É de José do Patrocínio a famosa frase: "O Ceará é a terra da luz!"

Era um homem muito inteligente e tinha respostas prontas para todas as ocasiões. Fazia rir a todo mundo. Suas piadas ficaram famosas. Ciro Vieira da Cunha publicou um livro contendo 100 piadas de Paula Ney.


Alguns versos de Paula Ney:

SONETO

[dedicado a FORTALEZA, Ceará, Brasil]

Ao longe, em brancas praias embalada
Pelas ondas azuis dos verdes mares,
A Fortaleza, a loura desposada
Do sol, dormita à sombra dos palmares.

Loura de sol e branca de luares,
Como uma hóstia de luz cristalizada,
Entre verbenas e jardins pousada
Na brancura de místicos altares.

Lá canta em cada ramo um passarinho,
Há pipilos de amor em cada ninho,
Na solidão dos verdes matagais...

É minha terra! A terra de Iracema,
O decantado e esplêndido poema
De alegria e beleza universais!


A ABOLIÇÃO

A justiça de um povo generoso,
Pesando sobre a negra escravidão,
Esmagou-a de um modo glorioso,
Sufocando-a com a lei da Abolição.

Esse passado tétrico, horroroso,
Da mais nefanda e torpe instituição,
Rolou no chão, no abismo pavoroso,
Assombrado com a luz da Redenção.

Não mais dos homens os fatais horrores,
Não mais o vil zumbir das vergastadas,
Salpicando de sangue o chão e as flores.

Não mais escravos pelas esplanadas!
São todos livres! Não há mais senhores!
Foi-se a noite: só temos alvoradas!

SEM TÍTULO

Aquele piano, que ontem soluçava,
Triste e dolente, a doce cavatina
Dos teus olhos, oh! lânguida bonina,
Parecia uma órfã que chorava...

Parecia uma nuvem que espalhava
A branda luz da estrela matutina;
Parecia uma pomba que arrulhava
Na orla verde-negra da campina.

E eu chorava também... Tinha em meu peito
A dor da ausência, o perenal martírio
Dum grande amor passado e já desfeito!

Então, pedia às brisas que corriam,
Puras e leves, como o odor do lírio,
Para falar-te; e as brisas me fugiam...


A TRANÇA

Esta santa relíquia imaculada,
De teu saudoso amor, esta lembrança,
Da vida que fugiu, arrebatada,
Ligeira, como um sonho de criança,

Nos sonos de uma noite de bonança...
- Eu guardo, junto a mim, oh! noiva amada,
Enquanto minha vista não se cansa
De vê-la e adorá-la, extasiada!

Com o fio desta trança, tão escura,
Tão negra, sim - que até minha amargura
Lhe invejaria a cor - e tão macia...

Quais pétalas de rosa, eu teço, à noite,
Da viração sentindo o brando açoite,
- O epitáfio de minha campa fria!...


DE VIAGEM

Voa minh'alma, voa pelos ares,
Como o trapo de nuvem flutuante,
Vai perdida, sozinha e soluçante,
Distende as asas tuas sobre os mares!

Leva contigo os lânguidos cismares,
Que um dia acalentaste, delirante,
Como acalenta o vento roçagante,
A copa verde-negra dos palmares.

Atira tudo isso aos pés de Deus,
Lá onde brilha a luz e estão os céus
E virgens mil c'roadas de verbena.

Isto que já brilhou como uma estrela,
_ Adeus! dirás, só pertenceu a ela,
Corpo de um anjo, coração de hiena!


ADORAÇÃO

Tu és minha, afinal! Enfim, te vejo
Sobre os meus braços, lânguida, prostrada,
Enquanto em tua face, descorada,
Os lábios colo e sorvo-te num beijo.

Vibra em minh'alma o lúbrico desejo,
De assim gozar-te a sós, abandonada,
De sentir o que sentes, minha amada,
De escutar-te do peito o doce arpejo!

Quando, entretanto, eu sinto que teu seio
Palpita delirante em doido anseio,
Como a luz que do sol à terra emana,

Eu digo dentro em mim: se eu te manchara,
Se eu te manchara, Flor, ai! não te amara,
Oh! branca espuma da beleza humana!

Fonte: Biblioteca virtual da UFC

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