Fazer os filhos comerem coisas saudáveis nem sempre é uma tarefa fácil: a quantidade de tentações industrializadas e coloridas nas gôndolas do mercado e a falta de tempo para o preparo de coisas mais naturais são alguns dos principais empecilhos.
Mas a partir do momento que isso se torna uma prioridade, é possível mudar. Leva tempo, exige dedicação, mas tem solução. Quem garante é a engenheira de alimentos e chef Mayra Abucham, que participou recentemente do quadro Meu Filho não Come, do programa Bem Estar.
Ela também está à frente do projeto Dedinho de Moça, consultoria em alimentação infantil, que já atendeu cerca de 500 famílias em busca de melhores hábitos neste campo. Segundo a especialista, as famílias que têm filhos tendem a ficar mais abertas para a mudança. “Mudar é difícil, mas os pais querem oferecer um bom exemplo, querem dar uma oportunidade para as crianças em todos os sentidos. E a alimentação é uma delas”, observa.
Mayra ressalta que o primeiro passo para convencer as crianças a terem uma alimentação mais saudável é envolvê-las no processo. “Desde conhecer os ingredientes no supermercado, na feira ou na horta, até saber o que está indo na lancheira da escola”, indica.
Mas engana-se quem pensa que isso significa dar exatamente o que a criança quer. A chave principal, segundo ela, está no conhecimento dos pais. “Pais instruídos e orientados conseguem direcionar as crianças para fazerem escolhas dentro do que eles acham aceitáveis, sem muito radicalismo. Com equilíbrio, tudo pode”, pontua.
Criança não é café com leite
Mayra defende que os pais incluam os filhos nas decisões relacionadas à cozinha da casa. “Criança não é café com leite, ela não vai sentar lá simplesmente e comer o que eu der”, afirma. Ela recomenda a participação das crianças inclusive no preparo. “Filho, vamos fazer um macarrão, me ajuda a mexer o molho, me ajuda a por a mesa? Essa salada, que tem alface e tomate, o que a gente pode fazer para ela ficar diferente? O que você tá com vontade de comer? Será que um pedacinho de queijo vai ficar legal? E aquele ovo de codorna que você comeu na casa da sua vó?”, indica.
Segundo ela, muitos pais não sabem que as crianças estão preparadas para interagir neste assunto. “As crianças adoram receber tarefas. Os pais ficam pensando, ‘vou chamar as crianças aqui vão fazer uma zona, não tenho tempo’. Mas não é verdade, a criança pode te ajudar a limpar, inclusive”, pontua.​
Para a especialista, incluir as crianças nas decisões relacionadas à alimentação é uma forma de conseguir bons resultados Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Para a especialista, incluir as crianças nas decisões relacionadas à alimentação é uma forma de conseguir bons resultados
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Vilões da má-alimentação
A especialista não concorda em culpar os pais pela má-alimentação de algumas crianças. “Eles  sempre fazem o melhor que eles podem. Mas é uma questão de informação que não chega nas famílias”.
Mas um dos principais problemas citados por ela é a expectativa que os próprios pais colocam sobre a relação dos filhos com a comida. “Os pais querem que as crianças comam muito, porque eles estão ausentes ou porque eles não têm informação.O tamanho do estômago de uma criança é o tamanho da mãozinha dela fechada. Aí os pais querem que as crianças façam aquele pratão, que repita, que coma de novo, que raspe o prato”, analisa.
Este hábito, segundo Mayra, acaba trazendo um segundo problema, que está ligado à capacidade de a criança conhecer seu próprio limite de saciedade. A partir do momento que sempre é forçada a comer mais, acaba perdendo este referencial.
No caso das crianças que comem muito pouco, os pais tendem a tentar suprir este déficit com iogurtes, chocolates ou outros itens mais atrativos. E o ciclo dos maus hábitos se inicia – já sabendo que vai ganhar algo mais apetitoso se não comer o prato saudável, a criança não tem por que comer na próxima refeição. “É uma questão movida pela expectativa errada dos pais.
A lancheira do vizinho
Outro problema comum enfrentado pelas mães é a tentação da comida dos amigos na escola: se uma mãe arruma a lancheira com frutas e sanduíches saudáveis, e a outra, com bolachas recheadas, fica um pouco difícil competir.
No entanto, Mayra afirma que o problema mora um pouco antes da hora do recreio. “Quem tem que participar da lancheira é o filho“, afirma. Segundo ela, quando a criança se compromete a montara refeição, se compromete mais com o ato de comer. “Uma mãe orientada sabe o que ela tem que colocar na lancheira. Sabe que um dia pode colocar uma coisa mais gostosa que não é tão saudável, mas que no balanço da semana isso está equilibrado. Então esse filho vai se comprometer com aquele lanche.”
A mesma regra se aplica ao menu da semana. “Sabendo o que vai comer, ela já sabe que de repente na terça, no almoço, ela não gosta muito, mas quarta vai ter o jantar preferido dela.”
Driblando a falta de tempo
Para as mães que não têm tempo, a dica de Mayra é a organização. Ela sugere a criação de quatro cardápios diferentes, com suas respectivas listas de compras, que podem ser utilizados por um mês e depois reutilizados no mês seguinte.
Com planejamento, a falta de tempo ou de criatividade deixam de ser obstáculos. “É importante não improvisar, não deixar para a última hora, porque senão você abre a geladeira e tem sempre os mesmos ingredientes, você acaba fazendo as mesmas coisas.”

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