Modernismo
O movimento denominado Modernismo iniciou-se em 11 de fevereiro de 1922, com o evento chamado “Semana da Arte Moderna”. Mas muitos consideram o inicio do movimento a partir do ano de 1920, pois as características modernistas já haviam sido incorporadas aos escritores pré-modernistas.
A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo, o qual contou com inúmeros eventos, como apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música e vários grandes nomes da literatura brasileiras, tais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida e muitos outros.
A arte exposta nesse evento causou uma enorme polêmica à sociedade da época, e atravessou o século XX, nos impressionando até os dias de hoje.
O movimento denominado Modernismo iniciou-se em 11 de fevereiro de 1922, com o evento chamado “Semana da Arte Moderna”. Mas muitos consideram o inicio do movimento a partir do ano de 1920, pois as características modernistas já haviam sido incorporadas aos escritores pré-modernistas.
A Semana de Arte Moderna foi um evento ocorrido no Teatro Municipal de São Paulo, o qual contou com inúmeros eventos, como apresentação de conferências, leitura de poemas, dança e música e vários grandes nomes da literatura brasileiras, tais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Graça Aranha, Guilherme de Almeida e muitos outros.
A arte exposta nesse evento causou uma enorme polêmica à sociedade da época, e atravessou o século XX, nos impressionando até os dias de hoje.
O movimento dividi-se em três fases:
Primeira Fase (1922-1930)
Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posições. Período rico em manifestos e revistas de vida efêmera.
Um mês depois da Semana de Arte Moderna, a política vive dois momentos importantes: eleições para Presidência da República e congresso (RJ) para fundação do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da política, surge em 1926 o Partido Democrático que teve entre seus fundadores Mário de Andrade.
É a fase mais radical justamente em conseqüência da necessidade de definições e do rompimento de todas as estruturas do passado. Caráter anárquico e forte sentido destruidor.
Nessa fase várias obras, grupos, movimentos, revistas e manifestos ganharam o cenário intelectual brasileiro, numa investigação profunda e por vezes radical de novos conteúdos e de novas formas de expressão.
Entre os fatos mais importantes, destacam-se a publicação da revista Klaxon, lançada para dar continuidade ao processo de divulgação das ideias modernistas, e o lançamento de quatro movimentos culturais: o Pau-Brasil, o Verde-Amarelismo, a Antropofagia e a Anta.
Esses movimentos representavam duas tendências ideológicas distintas, duas formas diferentes de expressar o nacionalismo.
O movimento Pau-Brasil defendia a criação de uma poesia primitivista, construída com base na revisão crítica de nosso passado histórico e cultural e na aceitação e valorização das riquezas e contrastes da realidade e da cultura brasileiras.
A Antropofagia, a exemplo dos rituais antropofágicos dos índios brasileiros, nos quais eles devoram seus inimigos para lhes extrair força, Oswald propõe a devoração simbólica da cultura do colonizador europeu, sem com isso perder nossa identidade cultural.
Em oposição a essas tendências, os movimentos Verde-Amarelismo e Anta, defendiam um nacionalismo ufanista, com evidente inclinação para o nazifascismo.
Principais autores desta fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado.
Características
• busca do moderno, original e polêmico
• nacionalismo em suas múltiplas facetas
• volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro
• “língua brasileira” – falada pelo povo nas ruas
• paródias – tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras
• nacionalismo em suas múltiplas facetas
• volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro
• “língua brasileira” – falada pelo povo nas ruas
• paródias – tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras
A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:
• nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas.
• nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.
• nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade, identificado politicamente com as esquerdas.
• nacionalismo ufanista, utópico, exagerado, identificado com as correntes de extrema direita.
Mário de Andrade
Mário Raul de Morais Andrade (1893 - 1945) foi um poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo e ensaísta brasileiro. Foi um dos criadores do modernismo no Brasil.
Nascido em São Paulo, em meios aristocráticos, foi na música que Mário de Andrade começou sua carreira artistica, se formando em Música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde seria professor de História de Música.
Seu contato com a literatura começou cedo, em críticas escritas para jornais e revistas. Publicou o primeiro livro assinado com o pseudônimo Mário Sobral: "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema" (1917).
Junto com Oswald e outros intelectuais, Mário ajudou a preparar a Semana de Arte Moderna de 1922, onde ganhou notoriedade. Respirou como ninguém os ares do novo movimento, vindo a publicar Paulicéia Desvairada (1922), o primeiro livro de poesias do Modernismo.
"Amar, Verbo Intransitivo" (1927), foi o seu primeiro romance.
Nascido em São Paulo, em meios aristocráticos, foi na música que Mário de Andrade começou sua carreira artistica, se formando em Música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde seria professor de História de Música.
Seu contato com a literatura começou cedo, em críticas escritas para jornais e revistas. Publicou o primeiro livro assinado com o pseudônimo Mário Sobral: "Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema" (1917).
Junto com Oswald e outros intelectuais, Mário ajudou a preparar a Semana de Arte Moderna de 1922, onde ganhou notoriedade. Respirou como ninguém os ares do novo movimento, vindo a publicar Paulicéia Desvairada (1922), o primeiro livro de poesias do Modernismo.
"Amar, Verbo Intransitivo" (1927), foi o seu primeiro romance.
Suas obras estão agrupadas em dezenove volumes com o título de Obras Completas. As principais são:
Poesia
Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), Paulicéia Desvairada (1922), Losango Cáqui (1926), Clã do Jabuti (1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941), Lira Paulistana (1946), O Carro da Miséria (1946), Poesias Completas (1955).
Romance
Amar, Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928).
Contos
Primeiro Andar (1926), Belasarte (1934), Contos Novos (1947).
Crônicas
Os filhos da Candinha (1943).
Ensaios
A Escrava que não é Isaura (1925), O Aleijadinho de Álvares de Azevedo (1935), O Movimento Modernista (1942), O Baile das Quatro Artes (1943), O Empalhador de Passarinhos (1944), O Banquete (1978).
Reconhecido por sua contribuição na criação de idéias inovadoras, Mário de Andrade morreu em São Paulo no ano de 1945.
Características da obra Macunaíma de Mário de Andrade
Macunaíma é um livro escrito por Mário de Andrade, sendo uma “paródia de epopeia , ou seja, uma mistura de contos populares, anedotas, narrativas míticas. Ele foi escrito todo em 3ª pessoa, onde o narrador é onisciente que reproduz a história ouvida do papagaio ensinado de Macunaíma.
Características da obra Macunaíma de Mário de Andrade
Macunaíma é um livro escrito por Mário de Andrade, sendo uma “paródia de epopeia , ou seja, uma mistura de contos populares, anedotas, narrativas míticas. Ele foi escrito todo em 3ª pessoa, onde o narrador é onisciente que reproduz a história ouvida do papagaio ensinado de Macunaíma.
Macunaíma nasce no meio do mato, em meio a floresta amazônica. Durante o livro passa por transformações de caráter, sendo que seu estereótipo muda durante o livro (índio, branco, pato, inseto, peixe).
A história se desenrola de tal forma que Macunaíma vai à São Paulo (em busca de um talismã seu que foi roubado), falha ao tentar recuperar seu adorno e é direcionado ao Rio de Janeiro (mais uma tentativa falha de recuperar seu adorno).
Macunaíma parte a viajar pelo Brasil com seus irmãos (Maanape e Jiguê), até que o anti-herói decide enfrentar seu inimigo Venceslau, onde finalmente consegue reaver sua muiraquitã. Na ida para casa, reconhece suas raízes e some.
Algumas características da história:
-Tempo mítico: há uma indeterminação do tempo, ocorrendo simultaneidade de épocas diferentes;
-Macunaíma é o anti-herói sem nenhum caráter, sendo uma mistura de raças e síntese de defeitos do povo brasileiro;
-Este livro usa de humor, ironia, carnavalização e lirismo, sendo considerado uma reinvenção da língua literária brasileira, influências das Vanguardas Européias;
Oswald de Andrade
Um dos maiores nomes do movimento modernista brasileiro, José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 1890. Na época, chegava a São Paulo a industrialização e a tecnologia, a cidade se urbanizava e Oswald logo assimilaria fascinado: o bonde elétrico, o rádio, o cinema, a propaganda, etc.
Em 1911 fundou a revista O Pirralho e em 1919 formou-se bacharel em Direito em São Paulo e dois anos depois começou a articular a campanha modernista, com o apoio do poeta Mário de Andrade, e de outros artistas e intelectuais, como Anita Malfatti e Manuel Bandeira, que participariam na Semana de Arte Moderna, em 1922.
Foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna, e dela participou ativamente tendo como companheiro inseparável seu amigo Mário de Andrade, com o qual formou a dupla de maior expressão da literatura modernista no Brasil.
Tinha 22 anos quando fez a primeira viagem à Europa (1912), onde entrou conheceu os movimentos de vanguarda. Só dez anos depois viria a empregar as técnicas aprendidas. Foi divulgador do Futurismo e do Cubismo.
Na década de 1920, escreveu para muitos periódicos, publicou os romances da Trilogia do Exílio e trabalhou na divulgação da estética modernista com os manifestos Pau-Brasil (1924), que utilizava elementos da vanguarda francesa e pregava a criação de uma poesia primitiva e nacionalista; e o movimento Antropofágico (1928) que questionava a estrutura política, econômica e cultural do país. Nos anos seguintes publicou diversos romances.
Entre 1931 e 1945 foi integrante do Partido Comunista, e sofreu perseguições políticas pela sua militância. Em 1945 tornou-se livre-docente em Literatura Brasileira na USP, com a tese A Arcádia e a Inconfidência. Oswald também atuou como cronista. escrevendo em estilo macarrônico, e como crítico da literatura e das artes na época.
Faleceu em São Paulo, em 1954.
PRINCIPAIS OBRAS de Oswald de Andrade
Romances
Os Condenados (1922), Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Estrela de Absinto (1927), Serafim Ponte Grande (1933), A Escada Vermelha (1934), Os Condenados (l941) - reunindo os livros de 1922,1927 e 1934, constituindo a Trilogia do Exílio, Marco Zero I - Revolução Melancólica (1943), Marco Zero II - Chão (1946).
Poesia
Pau-Brasil (1925), Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927), Poesias Reunidas (1945).
Teatro
O Homem e o Cavalo (1943), Teatro (A Morta, O Rei da Vela), (1937).
Ensaio
Ponta de Lança (1945?), A Arcádia e a Inconfidência (1945), A Crise da Filosofia Messiânica (1950), A Marcha das Utopias (1966).
Memórias
Um Homem sem Profissão (1954).
Características de Memórias sentimentais de João Miramar de Oswald de Andrade
Trata-se de uma obra que atualmente ainda desassossega o espírito do leitor por seu teor inovador, e é vista como uma das produções literárias mais significativas do Ocidente. Ela mescla prosa e poesia nos 163 fragmentos concisos que retratam a história de um protagonista parcialmente autobiográfico, João Miramar.
Sua trajetória espraia-se por episódios fragmentados ou capítulos-instantes. O autor optou por uma forma de expressão lacônica, povoada por neologismos e frases nada usuais, renovadoras e singelas. Um dos personagens do livro, Machado Penumbra, compõe o prefácio, no qual louva o estilo revolucionário, as metáforas pungentes, o rompimento da sintaxe, a crítica mordaz aos intelectuais de seu tempo, ao comportamento arrogante de um grupo contra o qual Oswald de Andrade se voltou com sua maior arma: as palavras.
Aqui o autor narra a jornada de Miramar, desde a infância, o matrimônio, os casos amorosos, as idas ao continente europeu, até os empreendimentos cinematográficos e sua fase de viúvo no final da Primeira Guerra Mundial. Esta ficção futurista transcorre em São Paulo de 1912 a 1918. Ao longo da história o autor tece um panorama da classe burguesa desta cidade e de seus momentos críticos no início do século XX.
Este grupo social enfrenta o advento de valores renovados que questionam seus pilares tradicionais e os conceitos preconcebidos. Esta obra revela o autor em sua mais apurada performance, expondo uma linguagem telegráfica que traduz a essência do movimento modernista.
Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, em 1886. Sua família se dividiu entre o Recife e o Rio de Janeiro, cidade para onde a família se mudou em 1896.
Já em 1903, a família Bandeira foi morar em São Paulo, e é lá que Manoel inicia os estudos na Escola Politécnica. Em seguida, em 1904, o autor toma conhecimento de sua doença, a tuberculose, e volta para o Rio de Janeiro.
Viajou para a Suíça, para tratar-se, e foi no seu retorno ao Brasil, em 1917, que publicou seu primeiro livro de versos "A Cinza das Horas". Apenas dois anos depois, publicou “Carnaval”, aclamada obra do autor, escrita em versos livres.
Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, Bandeira preferiu não participar do evento que foi marco do movimento Modernista no Brasil. Mas o seu poema “Os Sapos” foi lido por Ronald de Carvalho.
Obras como "O Ritmo Dissoluto" (1924) e "Libertinagem" (1930), mostram que Bandeira mergulhou de vez na influência modernista. Seus escritos abordam temas recorrentes como família, morte e sua infância.
Manoel Bandeira morreu em 1968, no Rio de Janeiro, de parada cardíaca.
Principais obras de Manuel Bandeira
- A Cinza das Horas (1917)
- Carnaval (1919)
- Poesias (1924)
- Libertinagem (1930)
- Estrela da Manhã (1936)
- Opus 10 (1952)
- Poesia e prosa completa (1958)
- Alumbramentos (1960)
- Estrela da Tarde (1960)
Características da obra A Cinza das Horas de Manuel Bandeira
Primeiro livro de Manuel Bandeira, A Cinza das Horas, é marcado pelo tom fúnebre, e traz poemas parnasiano-simbolistas. São poesias compostas durante o período de sua doença. Do ano em que o poeta adoece até 1917, quando publica A Cinza das Horas, é que se daria a etapa decisiva e a inusitada gestação de um dos maiores escritores da língua portuguesa.
Segundo ele próprio, Manuel Bandeira, quando publica esse livro não tinha a intenção de começar carreira literária: "desejava apenas dar-me a ilusão de não viver inteiramente ocioso". O eu-lírico vivencia o ato de morrer à medida que (des)escreve sua agonia em seus versos que são seu sangue.
Cassiano Ricardo
Cassiano Ricardo Leite, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895 e morreu no Rio de Janeiro em 1974. Tendo participado do movimento modernista e de grupos que se lhe sucederam, Cassiano Ricardo soube aproveitar como poucos o Indianismo, uma das influências do momento, tomando-o como base de uma autenticidade americana. ‘Martim Cererê’, seu livro mais conhecido, traduzido para muitos idiomas e ilustrado por Di Cavalcanti, se fundamenta no mito tupi do Saci-Pererê, manifestando uma conciliação das três raças formadoras da cultura nacional, a indígena, a africana e a portuguesa. Mesclando essas três fontes linguísticas, ele elabora o que foi chamado de "mito do Brasil-menino". Modernista e primitiva a um só tempo, brasileira sem ser nacionalista, sua estrutura lembra alguns elementos da história em quadrinho e dos filmes de animação, prenunciando a pop art. Além de ter escrito esse livro clássico da literatura brasileira, Cassiano Ricardo manteve, até o fim de sua vida, uma pesquisa poética experimental e independente, acompanhando de perto os novos movimentos de vanguarda, sobre os quais escreveu. Seu último livro, 50 anos após o de estréia, exemplifica essa constante inquietação.
Principais obras de Cassiano Ricardo
Dentro da Noite (1915)
Vamos Caçar Papagaios (1926)
Borrões de Verde e Amarelo (1926)
Martim Cererê (1928)
O Sangue das Horas (1943)
Um Dia Depois do Outro (1947)
Poemas Murais (1950)
A Face Perdida (1950)
O Arranha-Céu de Vidro (1956)
Poesias Completas (1957)
22 e A Poesia de Hoje (1962)
Algumas Reflexões sobre Poética de Vanguarda (1964)
Jeremias Sem-Chorar (1964)
Segunda fase do modernismo
PRINCIPAIS OBRAS de Oswald de Andrade
Romances
Os Condenados (1922), Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), Estrela de Absinto (1927), Serafim Ponte Grande (1933), A Escada Vermelha (1934), Os Condenados (l941) - reunindo os livros de 1922,1927 e 1934, constituindo a Trilogia do Exílio, Marco Zero I - Revolução Melancólica (1943), Marco Zero II - Chão (1946).
Poesia
Pau-Brasil (1925), Primeiro Caderno de Poesia do Aluno Oswald de Andrade (1927), Poesias Reunidas (1945).
Teatro
O Homem e o Cavalo (1943), Teatro (A Morta, O Rei da Vela), (1937).
Ensaio
Ponta de Lança (1945?), A Arcádia e a Inconfidência (1945), A Crise da Filosofia Messiânica (1950), A Marcha das Utopias (1966).
Memórias
Um Homem sem Profissão (1954).
Características de Memórias sentimentais de João Miramar de Oswald de Andrade
Trata-se de uma obra que atualmente ainda desassossega o espírito do leitor por seu teor inovador, e é vista como uma das produções literárias mais significativas do Ocidente. Ela mescla prosa e poesia nos 163 fragmentos concisos que retratam a história de um protagonista parcialmente autobiográfico, João Miramar.
Sua trajetória espraia-se por episódios fragmentados ou capítulos-instantes. O autor optou por uma forma de expressão lacônica, povoada por neologismos e frases nada usuais, renovadoras e singelas. Um dos personagens do livro, Machado Penumbra, compõe o prefácio, no qual louva o estilo revolucionário, as metáforas pungentes, o rompimento da sintaxe, a crítica mordaz aos intelectuais de seu tempo, ao comportamento arrogante de um grupo contra o qual Oswald de Andrade se voltou com sua maior arma: as palavras.
Aqui o autor narra a jornada de Miramar, desde a infância, o matrimônio, os casos amorosos, as idas ao continente europeu, até os empreendimentos cinematográficos e sua fase de viúvo no final da Primeira Guerra Mundial. Esta ficção futurista transcorre em São Paulo de 1912 a 1918. Ao longo da história o autor tece um panorama da classe burguesa desta cidade e de seus momentos críticos no início do século XX.
Este grupo social enfrenta o advento de valores renovados que questionam seus pilares tradicionais e os conceitos preconcebidos. Esta obra revela o autor em sua mais apurada performance, expondo uma linguagem telegráfica que traduz a essência do movimento modernista.
Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife, em 1886. Sua família se dividiu entre o Recife e o Rio de Janeiro, cidade para onde a família se mudou em 1896.
Já em 1903, a família Bandeira foi morar em São Paulo, e é lá que Manoel inicia os estudos na Escola Politécnica. Em seguida, em 1904, o autor toma conhecimento de sua doença, a tuberculose, e volta para o Rio de Janeiro.
Viajou para a Suíça, para tratar-se, e foi no seu retorno ao Brasil, em 1917, que publicou seu primeiro livro de versos "A Cinza das Horas". Apenas dois anos depois, publicou “Carnaval”, aclamada obra do autor, escrita em versos livres.
Em 1922, ano da Semana de Arte Moderna, Bandeira preferiu não participar do evento que foi marco do movimento Modernista no Brasil. Mas o seu poema “Os Sapos” foi lido por Ronald de Carvalho.
Obras como "O Ritmo Dissoluto" (1924) e "Libertinagem" (1930), mostram que Bandeira mergulhou de vez na influência modernista. Seus escritos abordam temas recorrentes como família, morte e sua infância.
Manoel Bandeira morreu em 1968, no Rio de Janeiro, de parada cardíaca.
Principais obras de Manuel Bandeira
- A Cinza das Horas (1917)
- Carnaval (1919)
- Poesias (1924)
- Libertinagem (1930)
- Estrela da Manhã (1936)
- Opus 10 (1952)
- Poesia e prosa completa (1958)
- Alumbramentos (1960)
- Estrela da Tarde (1960)
Características da obra A Cinza das Horas de Manuel Bandeira
Primeiro livro de Manuel Bandeira, A Cinza das Horas, é marcado pelo tom fúnebre, e traz poemas parnasiano-simbolistas. São poesias compostas durante o período de sua doença. Do ano em que o poeta adoece até 1917, quando publica A Cinza das Horas, é que se daria a etapa decisiva e a inusitada gestação de um dos maiores escritores da língua portuguesa.
Segundo ele próprio, Manuel Bandeira, quando publica esse livro não tinha a intenção de começar carreira literária: "desejava apenas dar-me a ilusão de não viver inteiramente ocioso". O eu-lírico vivencia o ato de morrer à medida que (des)escreve sua agonia em seus versos que são seu sangue.
Cassiano Ricardo
Cassiano Ricardo Leite, poeta e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895 e morreu no Rio de Janeiro em 1974. Tendo participado do movimento modernista e de grupos que se lhe sucederam, Cassiano Ricardo soube aproveitar como poucos o Indianismo, uma das influências do momento, tomando-o como base de uma autenticidade americana. ‘Martim Cererê’, seu livro mais conhecido, traduzido para muitos idiomas e ilustrado por Di Cavalcanti, se fundamenta no mito tupi do Saci-Pererê, manifestando uma conciliação das três raças formadoras da cultura nacional, a indígena, a africana e a portuguesa. Mesclando essas três fontes linguísticas, ele elabora o que foi chamado de "mito do Brasil-menino". Modernista e primitiva a um só tempo, brasileira sem ser nacionalista, sua estrutura lembra alguns elementos da história em quadrinho e dos filmes de animação, prenunciando a pop art. Além de ter escrito esse livro clássico da literatura brasileira, Cassiano Ricardo manteve, até o fim de sua vida, uma pesquisa poética experimental e independente, acompanhando de perto os novos movimentos de vanguarda, sobre os quais escreveu. Seu último livro, 50 anos após o de estréia, exemplifica essa constante inquietação.
Principais obras de Cassiano Ricardo
Dentro da Noite (1915)
Vamos Caçar Papagaios (1926)
Borrões de Verde e Amarelo (1926)
Martim Cererê (1928)
O Sangue das Horas (1943)
Um Dia Depois do Outro (1947)
Poemas Murais (1950)
A Face Perdida (1950)
O Arranha-Céu de Vidro (1956)
Poesias Completas (1957)
22 e A Poesia de Hoje (1962)
Algumas Reflexões sobre Poética de Vanguarda (1964)
Jeremias Sem-Chorar (1964)
Segunda fase do modernismo
Se em 22 tínhamos um interesse pelos temas nacionais, com aproximação da linguagem popular e valorização da vida cotidiana; na arte engajada de 30 temos uma literatura mais amadurecida, sem a descontração e a irreverência, mas com reflexões sobre a realidade do brasileiro, trazendo à tona o nacional através desta reflexão, com textos de linguagem aproximada do popular.
A literatura da época de 30 dividiu-se em prosa e poesia: a prosa voltava-se para a crítica social, trazendo à tona os retratos de várias regiões do país (regionalismo) como forma de denúncia dos problemas sociais de cada região e com uma reflexão sobre a solução do problema; a poesia voltava-se para o sentimento humano, levantando o questionamento sobre a existência humana e a compreensão do local do mundo e do local que o ser humano tem neste mundo conflituoso.
Principais autores da segunda fase modernista
Os principais nomes da prosa são: Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Érico Veríssimo Na poesia, temos: Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Jorge de Lima, Murilo Mendes.
Jorge Amado
Jorge Amado de Farias nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, Bahia. Passou a infância entre sua cidade natal e Salvador.
Estuda por muitos anos em escola de regime interno: primeiro no Colégio Antônio Vieira e depois no Ginásio Ipiranga, nos quais começou a desenvolver seu lado de escritor com a criação do jornalzinho “A luneta”, o qual distribuíra para colegas e parentes e os “A Pátria” e “A Folha”, do grêmio estudantil.
Em 1927, ainda estudante, agora do regime de externato, começa a trabalhar como repórter no “Diário da Bahia”. Nesta época, recebe titulação no candomblé.
Em 1931, é aprovado na faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, seu primeiro romance “O país do Carnaval” é publicado e recebe elogios.
Envolve-se com o comunismo, como a maioria dos escritores da época, e vê seu romance seguinte “Cacau” ser apreendido por policiais. Por este motivo, passa certo tempo exilado na Argentina. Mais tarde, entre 1936 e 1937 é preso por se opor ao Estado Novo.
Contudo, antes mesmo desse tempo na prisão, o livro “Cacau” é publicado e também torna-se um sucesso entre as críticas.
Em dezembro de 1933, casa-se com a primeira mulher, Matilde Garcia Lopes, com quem tem uma filha, Eulália. Um ano depois, publica os romances “Suor” e “Jubiabá” e forma-se em Direito, quando começa as perseguições que o levariam a citada detenção.
O livro “Mar morto” é publicado e recebe o prêmio Graça Aranha. E enquanto viaja para o exterior, o livro “Capitães da Areia” é publicado e de volta ao Brasil é preso novamente quando tentando escapar, vai para Manaus. Milhares de exemplares de seus livros publicados, tidos como revolucionários, são queimados em Salvador por ordem militar.
Pouco tempo na prisão, é solto em 1938, quando muda-se para São Paulo. Seus livros começam a ser traduzidos e publicados no exterior.
Após permanecer envolvido com questões de ordem política, torna-se redator das revistas “Dom Casmurro” e “Diretrizes”.
Em 1942 publica em Buenos Aires “A vida de Luís Carlos Prestes”, com o intuito de ajudar na anistia do comunista.
Mais uma vez é preso ao desembarcar em Porto Alegre e, então, é proibido de sair das terras de Salvador. Publica o livro “Terras do sem fim”, o qual não é censurado. Separa-se de Matilde em 1944.
Em 1946, envolve-se mais intensamente com a política através de sua candidatura de deputado do PCB. Apesar de eleito, tem o mandato suspenso por alegação de ilegalidade do partido.
Neste período conhece Zélia Gattai, com quem passa a viver. Em 1946 publica o romance sobre a seca “Seara Vermelha”. Um ano depois lança “O amor de Castro Alves” e nasce seu primeiro filho, João Jorge.
Em 1949, sua filha Eulália morre de causas não conhecidas.
Por muito tempo viaja pela Europa, chegando a ir à China e Mongólia e escreve “O mundo da paz”, no qual faz referências aos países socialistas visitados. Em 1951, nasce a filha Paloma, no ano seguinte, volta ao Brasil.
Fixa residência no Rio de Janeiro e passa a produzir e viver da literatura modestamente.
Então, em 1958 escreve “Gabriela, cravo e canela”, livro que lhe rendeu várias premiações, além de ter sido adaptado para a TV. Nesta época, recebe de uma mãe-de-santo um dos mais altos títulos do candomblé. Um tempo depois, lança o “Dona Flor e seus dois maridos”, que também aparece nas telas mais tarde.
Jorge Amado sofre um edema pulmonar no ano de 1996 e logo depois submetido a uma angioplastia, a partir de então vive uma vida de privações e de tristeza, pois não conseguia mais enxergar direito e, por isso, tinha dificuldade em ler e escrever e por não poder comer mais o que gostava.
Em 2001, é internado com crise de hiperglicemia e tem uma fibrilação cardíaca. Volta a sua casa, mas passando mal novamente, morre no dia 06 de agosto, em Salvador, aos 88 anos de idade.
Livros de Jorge Amado
O País do Carnaval, Cacau, Jubiabá, Terras do Sem fim, A Morte e a Morte de Quincas Berro d´Água, Seara Vermelha, O Cavaleiro da Esperança, O Mundo da Paz, Os Subterrâneos da Liberdade, Gabriela, Cravo e Canela, Suor, Mar Morto, Capitães de Areia, São Jorge dos Ilhéus, Os Velhos Marinheiros, Os Pastores da Noite, Dona Flor e seus Dois Maridos, ABC de Castro Alves, O Amor do Soldado, Bahia de Todos os Santos, A Estrada do Mar, Tereza Batista Cansada de Guerra, Tieta do Agreste, Farda Fardão e Camisola de Dormir.
Características da obra Capitães de Areia de Jorge Amado
O romance, que retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, procura mostrar não apenas os assaltos e as atitudes violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os pensamentos ingênuos, comuns a qualquer criança.
Descaso social e o caráter jornalístico da obra
O romance "Capitães da Areia" começa com uma reportagem fictícia intitulada “Crianças ladronas”. A matéria narra minuciosamente um assalto à casa de um rico negociante, o comendador José Ferreira. De acordo com o texto, o crime fora praticado pelos Capitães da Areia, descritos como “o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”.
Depois da reportagem, a introdução apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são, respectivamente, do secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de menores a responsabilidade pelos atos criminosos dos Capitães da Areia) e do juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir os menores é do chefe de polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho estivera preso no reformatório, narra os horrores que eram praticados ali contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante personagem e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua experiência no reformatório. O padre visitava o local para levar conforto espiritual aos meninos. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do diretor do reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos dispensados aos menores na instituição que dirige, o que é uma hipocrisia, como se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja, apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos mentirosos.
O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O enredo, sobretudo no início, tem a função de caracterizar os personagens. Pode-se dizer que busca apresentar os Capitães da Areia, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações.
Dos vários capítulos que compõem o romance, alguns são particularmente significativos. Em “As Luzes do Carrossel”, o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente carrossel. Desde o líder, Pedro Bala, passando pelos seus mais destacados membros, a grande maioria se diverte de forma pueril no velho brinquedo.
Essa passagem é importante por fazer o contraponto à opinião vigente na alta sociedade baiana em relação aos Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recuperação, que deveriam ser tratados de forma desumana no reformatório, é confrontada com essa situação. Ao mostrar os garotos divertindo-se no “Grande Carrossel Japonês”, o narrador mostra a essência dos personagens do livro. Pedro Bala e seus comandados são apenas crianças socialmente desamparadas.
Ausência da figura materna
Outro capítulo que merece destaque é “Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infiltrava na casa de famílias ricas, apresentando-se como pobre órfão que pedia um lugar para morar. Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a roubava.
Nesse capítulo, no entanto, Sem-Pernas é acolhido de forma sincera e amorosa pelos donos da casa, que o veem como o filho que havia morrido. Sem-Pernas vive então um conflito interno. Tratado como um verdadeiro filho, o garoto fica dividido entre a lealdade ao bando que o acolheu e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que nunca havia conhecido. Opta pela lealdade ao grupo, que invade e saqueia a casa.
Sem-Pernas é o personagem mais revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor, acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa claro que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora, uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca, Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este último iria amá-la, no futuro, como esposa.
Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz. A sua bisavô materna era prima de José de Alencar, a literatura além de estar presente em sua alma também estava no sangue.
Jorge Amado
Jorge Amado de Farias nasceu em 10 de agosto de 1912, em Itabuna, Bahia. Passou a infância entre sua cidade natal e Salvador.
Estuda por muitos anos em escola de regime interno: primeiro no Colégio Antônio Vieira e depois no Ginásio Ipiranga, nos quais começou a desenvolver seu lado de escritor com a criação do jornalzinho “A luneta”, o qual distribuíra para colegas e parentes e os “A Pátria” e “A Folha”, do grêmio estudantil.
Em 1927, ainda estudante, agora do regime de externato, começa a trabalhar como repórter no “Diário da Bahia”. Nesta época, recebe titulação no candomblé.
Em 1931, é aprovado na faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, seu primeiro romance “O país do Carnaval” é publicado e recebe elogios.
Envolve-se com o comunismo, como a maioria dos escritores da época, e vê seu romance seguinte “Cacau” ser apreendido por policiais. Por este motivo, passa certo tempo exilado na Argentina. Mais tarde, entre 1936 e 1937 é preso por se opor ao Estado Novo.
Contudo, antes mesmo desse tempo na prisão, o livro “Cacau” é publicado e também torna-se um sucesso entre as críticas.
Em dezembro de 1933, casa-se com a primeira mulher, Matilde Garcia Lopes, com quem tem uma filha, Eulália. Um ano depois, publica os romances “Suor” e “Jubiabá” e forma-se em Direito, quando começa as perseguições que o levariam a citada detenção.
O livro “Mar morto” é publicado e recebe o prêmio Graça Aranha. E enquanto viaja para o exterior, o livro “Capitães da Areia” é publicado e de volta ao Brasil é preso novamente quando tentando escapar, vai para Manaus. Milhares de exemplares de seus livros publicados, tidos como revolucionários, são queimados em Salvador por ordem militar.
Pouco tempo na prisão, é solto em 1938, quando muda-se para São Paulo. Seus livros começam a ser traduzidos e publicados no exterior.
Após permanecer envolvido com questões de ordem política, torna-se redator das revistas “Dom Casmurro” e “Diretrizes”.
Em 1942 publica em Buenos Aires “A vida de Luís Carlos Prestes”, com o intuito de ajudar na anistia do comunista.
Mais uma vez é preso ao desembarcar em Porto Alegre e, então, é proibido de sair das terras de Salvador. Publica o livro “Terras do sem fim”, o qual não é censurado. Separa-se de Matilde em 1944.
Em 1946, envolve-se mais intensamente com a política através de sua candidatura de deputado do PCB. Apesar de eleito, tem o mandato suspenso por alegação de ilegalidade do partido.
Neste período conhece Zélia Gattai, com quem passa a viver. Em 1946 publica o romance sobre a seca “Seara Vermelha”. Um ano depois lança “O amor de Castro Alves” e nasce seu primeiro filho, João Jorge.
Em 1949, sua filha Eulália morre de causas não conhecidas.
Por muito tempo viaja pela Europa, chegando a ir à China e Mongólia e escreve “O mundo da paz”, no qual faz referências aos países socialistas visitados. Em 1951, nasce a filha Paloma, no ano seguinte, volta ao Brasil.
Fixa residência no Rio de Janeiro e passa a produzir e viver da literatura modestamente.
Então, em 1958 escreve “Gabriela, cravo e canela”, livro que lhe rendeu várias premiações, além de ter sido adaptado para a TV. Nesta época, recebe de uma mãe-de-santo um dos mais altos títulos do candomblé. Um tempo depois, lança o “Dona Flor e seus dois maridos”, que também aparece nas telas mais tarde.
Jorge Amado sofre um edema pulmonar no ano de 1996 e logo depois submetido a uma angioplastia, a partir de então vive uma vida de privações e de tristeza, pois não conseguia mais enxergar direito e, por isso, tinha dificuldade em ler e escrever e por não poder comer mais o que gostava.
Em 2001, é internado com crise de hiperglicemia e tem uma fibrilação cardíaca. Volta a sua casa, mas passando mal novamente, morre no dia 06 de agosto, em Salvador, aos 88 anos de idade.
Livros de Jorge Amado
O País do Carnaval, Cacau, Jubiabá, Terras do Sem fim, A Morte e a Morte de Quincas Berro d´Água, Seara Vermelha, O Cavaleiro da Esperança, O Mundo da Paz, Os Subterrâneos da Liberdade, Gabriela, Cravo e Canela, Suor, Mar Morto, Capitães de Areia, São Jorge dos Ilhéus, Os Velhos Marinheiros, Os Pastores da Noite, Dona Flor e seus Dois Maridos, ABC de Castro Alves, O Amor do Soldado, Bahia de Todos os Santos, A Estrada do Mar, Tereza Batista Cansada de Guerra, Tieta do Agreste, Farda Fardão e Camisola de Dormir.
Características da obra Capitães de Areia de Jorge Amado
O romance, que retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, procura mostrar não apenas os assaltos e as atitudes violentas de sua vida bestializada, mas também as aspirações e os pensamentos ingênuos, comuns a qualquer criança.
Descaso social e o caráter jornalístico da obra
O romance "Capitães da Areia" começa com uma reportagem fictícia intitulada “Crianças ladronas”. A matéria narra minuciosamente um assalto à casa de um rico negociante, o comendador José Ferreira. De acordo com o texto, o crime fora praticado pelos Capitães da Areia, descritos como “o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe”.
Depois da reportagem, a introdução apresenta uma sequência de cartas de leitores do jornal. As duas primeiras são, respectivamente, do secretário do chefe de polícia (que atribui ao juiz de menores a responsabilidade pelos atos criminosos dos Capitães da Areia) e do juiz de menores (segundo o qual a tarefa de perseguir os menores é do chefe de polícia).
A carta de uma mulher, cujo filho estivera preso no reformatório, narra os horrores que eram praticados ali contra os menores infratores. Outra, do padre José Pedro (importante personagem e aliado dos garotos injustiçados), confirma a denúncia anterior, citando sua experiência no reformatório. O padre visitava o local para levar conforto espiritual aos meninos. A última carta – e a última palavra –, porém, é a do diretor do reformatório. Em seu texto, o diretor nega os maus-tratos dispensados aos menores na instituição que dirige, o que é uma hipocrisia, como se poderá observar no decorrer do livro.
Essa forma de início da obra é eloquente. Pode-se ver, na recriação literária de matérias jornalísticas, a tentativa de dar à história do grupo de meninos um caráter verídico e, ao mesmo tempo, demonstrar o que há de ficção nas reportagens publicadas. Ou seja, apesar de ser um romance, Capitães da Areia revela uma situação social real. De outro lado, as notícias veiculadas pela mídia, que muitas vezes atendem aos interesses das classes sociais mais ricas, podem estar permeadas de elementos mentirosos.
O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da reflexão dos garotos ou da dos adultos que estão a seu lado, como o padre José Pedro e o capoeirista Querido-de-Deus, seja pelos sutis, mas mordazes, comentários do narrador.
O enredo, sobretudo no início, tem a função de caracterizar os personagens. Pode-se dizer que busca apresentar os Capitães da Areia, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações.
Dos vários capítulos que compõem o romance, alguns são particularmente significativos. Em “As Luzes do Carrossel”, o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente carrossel. Desde o líder, Pedro Bala, passando pelos seus mais destacados membros, a grande maioria se diverte de forma pueril no velho brinquedo.
Essa passagem é importante por fazer o contraponto à opinião vigente na alta sociedade baiana em relação aos Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recuperação, que deveriam ser tratados de forma desumana no reformatório, é confrontada com essa situação. Ao mostrar os garotos divertindo-se no “Grande Carrossel Japonês”, o narrador mostra a essência dos personagens do livro. Pedro Bala e seus comandados são apenas crianças socialmente desamparadas.
Ausência da figura materna
Outro capítulo que merece destaque é “Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infiltrava na casa de famílias ricas, apresentando-se como pobre órfão que pedia um lugar para morar. Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a roubava.
Nesse capítulo, no entanto, Sem-Pernas é acolhido de forma sincera e amorosa pelos donos da casa, que o veem como o filho que havia morrido. Sem-Pernas vive então um conflito interno. Tratado como um verdadeiro filho, o garoto fica dividido entre a lealdade ao bando que o acolheu e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que nunca havia conhecido. Opta pela lealdade ao grupo, que invade e saqueia a casa.
Sem-Pernas é o personagem mais revoltado do bando, o integrante que menos demonstra capacidade de amar e de receber amor do próximo. Quando o narrador revela sua real necessidade de amor, acaba por transferir essa necessidade para todo o bando. Isso reforça a idéia de que são crianças para as quais falta a atenção das famílias e do Estado, e não simplesmente marginais que optaram por uma vida de crimes.
O capítulo “Dora, Mãe” deixa claro que os meninos, precocemente atirados à vida adulta, sentiam falta de uma figura materna que os embalasse e os consolasse. Os Capitães da Areia conheciam o sexo, praticado em geral com as “negrinhas do areal”. Por isso, quando Dora, uma menina de 13 anos, entra no trapiche em que vivem, todos a cercam com intenções libidinosas. Protegida pelo Professor, mas, sobretudo, por João Grande, Dora acabou conquistando o respeito dos meninos, que passaram a enxergar nela a figura materna havia muito ausente na vida deles. O primeiro a vivenciar esse sentimento é o Gato. Ao pedir a ela costure um caro paletó de casimira, sente as unhas de Dora em suas costas e lembra-se de Dalva, sua amante, mas logo reflete sobre a distinção: enquanto Dalva arranhava suas costas para despertar-lhe a libido, Dora o fazia apenas com o instinto materno de vê-lo bem vestido. O mesmo sentimento acaba sendo despertado em Volta Seca, Pirulito e nos demais Capitães da Areia, exceto o Professor e Pedro Bala. Este último iria amá-la, no futuro, como esposa.
Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 17 de novembro de 1910, filha de Daniel de Queiroz e de Clotilde Franklin de Queiroz. A sua bisavô materna era prima de José de Alencar, a literatura além de estar presente em sua alma também estava no sangue.
A sua família fugindo da seca nordestina transfere-se para o Rio de Janeiro em julho de 1917. No mesmo ano viajam para o Belém do Pará e depois de dois anos retornam para o Ceará.
Em 1925, aos 15 anos de idade, se formou professora. Em 1927, com o pseudônimo de “Rita de Queluz” começa a escrever cartas para o jornal “O Ceará”. O diretor do jornal Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, Daniel de Queiroz, a convidou a colaborar no jornal. Rachel de Queiroz foi escolhida a “Rainha dos Estudantes”, premiação que ela mesma questionava.
O seu trabalho de colaboração no jornal se amplia e passa a organizar a página de literatura do jornal. Em 1930, esteve de repouso para tratar de um problema pulmonar, nesta época escreveu o livro “O Quinze” romance que descrevia sobre a seca no nordeste.
Seus pais patrocinaram a primeira edição do livro, perante o sucesso local a autora enviou o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, recebendo o elogio de Mário de Andrade. Em 1932, casa-se com o poeta José Auto da Cruz Oliveira.
Nesta época o seu segundo romance “João Miguel” foi vetado pelo Partido Comunista, a escritora rompeu com o partido e lançou a obra pela editora Schmidt, no Rio de Janeiro.
Em 1937, lançou “Caminho de Pedras”, pela editora José Olympio que a editaria até 1992. Durante o Estado Novo, seus livros foram queimados e a escritora é detida por três meses no quartel do Corpo de Bombeiros de Fortaleza.
Em 1939, divorcia-se de seu marido, lança o romance “As Três Marias” e em 1940 conhece o médico Oyama de Macedo, com quem vive até 1982. Torna-se cronista exclusiva da revista “O Cruzeiro” deixando de escrever para jornais.
Em 1992, publica “Memorial de Maria Moura”, adaptada pela TV Globo em 1994, no formato de minissérie. Faleceu no dia 4 de novembro de 2003.
Principais obras de Rachel de Queiroz
- "O Quinze" (1930), romance
- "João Miguel" (1932), romance
- "Caminho de Pedras" (1937), romance
- "As Três Marias" (1939), romance
- "A Donzela e a Moura Torta" (1948), crônicas
- "O Galo de Ouro" (1950), romance - folhetins na revista "O Cruzeiro"
- "Lampião" (1953), teatro
- "A Beata Maria do Egito" (1958), teatro
- "100 Crônicas Escolhidas" (1958)
- "O Brasileiro Perplexo" (1964), crônicas
- "O Caçador de Tatu" (1967), crônicas
- "O Menino Mágico" (1969), infanto-juvenil
- "As Menininhas e Outras Crônicas" (1976)
- "O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas" (1980)
- "Cafute e Pena-de-Prata" (1986), infanto-juvenil
- "Memorial de Maria Moura" (1992), romance
Características de O Quinze de Rachel de Queiroz
Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção regionalista. Possui cenas e episódios característicos da região, com a procissão de pedir chuva, são traços descritivos da condição do retirante. O sentido reivindicatório, entretanto não traz soluções prontas, preferindo apontar os males da região através de observação narrativa.
Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social.
A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como conseqüência, não trazendo ou tentando dar uma lição, mas como imagem da vida.
Não percebe-se uma total separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita através da personagem Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo dos romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus ricos", não condicionando inocentes ou culpados.
Estrutura da obra
O título do livro evoca a terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de Rachel foi obrigada a fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para Belém do Pará. Compõe-se de 26 capítulos, sem títulos, enumerados.
A classificação de O Quinze é, sem dúvida, de romance regionalista de temática social. Mas com uma visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na história, a divisão batida de \"pessoas boas e pobres\" e de \"pessoas más e ricas\". A autora registrou no papel a sua emoção, sem condicionar o romance a uma tese ou à preocupação de procurar inocentes e culpado pela desgraça de cada um ou mesmo do grupo envolvido na história.
A história é recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.
A história de amor entre Vicente e Conceição poderia ser o lado bom e humano da história. Não é. A falta de comunicação entre os dois, o desnível cultural que os separa constituem ingredientes amargos para um desfecho infeliz. É como se a seca, responsável por tantos infortúnios, fosse causadora de mais um: a impossibilidade de ser feliz para quem tem consciência da miséria.
Romance de profundidade psicológica. A análise exterior dos personagens existe, mas sem relevo especial dentro do livro. A autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem interromper a narrativa para minúcias. O lado introspectivo, psicológico é uma constante em toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que o narrador informa as ações dos personagens, introduz interrogações e dúvidas que teriam passado por sua cabeça, por seu espírito.
Tempo
A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a própria seca, obrigando os filhos da terra, principalmente do sertão, a migrarem para o Amazonas ou para São Paulo, à procura de vida melhor. Não há avanços nem recuos. A história é contada em linha reta, valorizando o presente, o cotidiano das pessoas. O passado é evocado raramente, muito mais por Conceição. A passagem do tempo dentro do romance é marcada de maneira tradicional, obedecendo à seqüência de início, meio e fim.
Cenário
O cenário do romance é o Ceará. Especificamente, a região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).
Há também, em menor escala, o cenário urbano, destacando a capital, Fortaleza, para onde migram os retirantes e onde mora Conceição.
Linguagem
O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há exibicionismo da autora no uso de palavreado erudito. Mesmo quando a dona da palavra é uma professora (Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano.
Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. A estas características deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua matéria está isenta do peso da idade. Em O Quinze, Rachel usa o que lhe deu fama imediata: uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).
A sobriedade da construção, a nitidez das formas, a emoção sem grandiloqüência, a economia de adjetivos são recursos perceptíveis em todo o livro.
Foco narrativo
O Quinze é romance narrado na terceira pessoa, ou seja, o narrador é a própria autora. O narrador é onisciente. Estando fora da história, o narrador vai penetrando na intimidade dos personagens como se fosse Deus. Sabe tudo sobre eles, por dentro e por fora. Conhece-lhes os desejos e adivinha-lhes o pensamento.
Discurso livre indireto. Em vez de apresentar o personagem em sua fala própria, marcada pelas aspas e pelos travessões (discurso direto), o narrador funde-se ao personagem, dando a impressão de que os dois falam juntos. Isto faz com que o narrador penetre na vida do personagem, no seu íntimo, adivinhando-lhe os anseios e dúvidas.
Personagens
Conceição - Não com os alunos, mas com a própria vida. Conceição é forte de espírito, culta, humana e com idéias um tanto avançadas sobre a condição feminina. O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente. Conceição tem uma admiração antiga e especial pelo rapaz, talvez porque ele é real, sem as falsidades comuns dos moços bem-educados. Ao descobrir que ele não é tão puro, a admiração esfria, criando uma barreira intransponível para a realização plena do seu amor. Tinha vocação para solteirona: "Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona". Conceição sente-se realizada ao criar Duquinha, o afilhado que lhe doaram Chico Bento e Cordulina. É uma realização íntima, preenchendo o vazio da decepção amorosa.
Vicente - Filho de fazendeiro rico, com condições de mandar os filhos para a escola, Vicente, desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso causava tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Com o tempo, todos passaram a admirar o rapaz. Vicente é o vaqueiro não-tradicional da região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados. Vicente tinha dentes brancos com um ponto de ouro. Na intimidade, quando se põe a pensar na vida e na felicidade, associa tais coisas à Conceição. Tem uma admiração superior por ela. Gradualmente, à medida que vai notando a maneira fria com que ela passa a tratá-lo, Vicente começa a descrer no amor e na possibilidade de casar e ser feliz.
Chico Bento - Chico Bento é o protótipo do vaqueiro pobre, cuidando do rebanho dos outros. Ele é o vaqueiro de Dona Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região de Quixadá. Ele e Vicente são compadres e vizinhos. Como é peculiar da pobreza brasileira e nordestina, Chico Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos, todos ainda pequenos. Pedro, o mais velho, tem doze anos. Expulso pela seca e pela dona da fazenda, Chico Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza. Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado (Josias), o outro desaparece (Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, é obrigado a dar o mais novo (Duquinha) para a madrinha, Conceição. De Fortaleza, Chico Bento e parte da família vão, de navio, para São Paulo. É o exílio forçado, é a esperança de vida melhor e, quem sabe, de riqueza para quem só conheceu miséria no Ceará.
Cordulina - É a esposa de Chico Bento. Personifica a mulher submissa, analfabeta, sofredora, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo da miséria como conseqüência da falta de instrução.
Josias - Filho de Chico Bento e Cordulina, tem cerca de dez anos de idade. Comeu mandioca crua e morreu envenenado na estrada.
Pedro - Filho de Chico Bento e Cordulina, é o mais velho, tem doze anos de idade. Desapareceu quando o grupo ia chegando a Acarape.
Manuel (Duquinha) - É o filho caçula de Chico Bento e Cordulina; tem dois anos anos de idade. Foi doado à madrinha, Conceição.
Paulo - Irmão mais velho de Vicente, ele é o orgulho dos pais (pelo menos no início). Estudou, fez-se doutor (promotor) e casou-se na cidade com uma moça branca. Depois de casado, passou a dedicar o seu tempo à família, quase não se interessando mais pelos pais e pelos irmãos. Só então os pais deram valor a Vicente.
Mocinha - Irmã de Cordulina, ficou como empregada doméstica em Castro, na casa de sinhá Eugênia. Arranjou um filho sem pai e tudo indica que vai viver da prostituição.
Lourdinha - Irmã mais velha de Vicente. Casou-se com Clóvis Garcia em Quixadá. No final, têm uma filha, símbolo da felicidade que as pessoas simples e descomplicadas conseguem conquistar.
Alice - Irmã mais nova de Vicente. Mora na fazenda com os pais e os irmãos.
Dona Inácia - Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da neta, principalmente no que diz respeito a ficar solteirona.
Dona Idalina - Prima de Dona Inácia. Idalina é a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha. Vive com o marido, Major, na fazenda perto de Quixadá.
Major - Fazendeiro rico na região de Quixadá. Entrega a administração da fazenda ao filho Vicente. Orgulha-se de ter um filho doutor: o Paulo, promotor em uma cidade do interior do Ceará.
Dona Maroca - Fazendeira, dona da fazenda Aroeiras na região de Quixadá. Na época da seca, mandou o vaqueiro, Chico Bento, soltar o gado e procurar, por conta própria, meios para sobreviver.
Mariinha Garcia - Moça bonita, de família rica, moradora de Quixadá. Com auxílio de Lourdinha e Alice, faz tudo para conquistar Vicente, mas as tentativas resultam inúteis.
Luís Bezerra - Compadre de Chico Bento e Cordulina. Trabalhara também nas Aroeiras sob o comando de Dona Maroca. Agora, é delegado em Acarape, povoado do interior do Ceará. Foi ele quem conseguiu passagens de trem para que a família do compadre chegasse a Fortaleza.
Doninha - Esposa de Luís Bezerra, madrinha do Josias, o filho de Chico Bento que morreu envenenado na estrada.
Zefinha - Filha do vaqueiro Zé Bernardo. Conceição, acreditando numa conversa que tivera com Chiquinha Boa, acha que Vicente tem um caso com Zefinha.
Chiquinha Boa - Trabalhava na fazenda de Vicente. Na época da seca, achando que o governo do Ceará estava ajudando os pobres que migravam para a capital, deixou a zona rural.
Enredo
A obra O Quinze aborda a seca de 1915, descreve alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste Brasileiro e se dá em dois planos.
No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia que é representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão. As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento. Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
O segundo plano é, sem dúvida, a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."
Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
Graciliano Ramos de Oliveira nascido no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrângulo - AL, destacou-se por ser um grande político e romancista pertencente à segunda fase do movimento modernista em nosso país.
José Lins do Rego
Características de Fogo Morto de José Lins do Rêgo
“Fogo morto” é um drama humano organizado em três partes, daí a caracterização de estrutura triangular. Cada uma delas traz no título o nome da personagem central, nesta ordem: O mestre José Amaro, seleiro orgulhoso e revoltado; O engenho do “seu” Lula, senhor de engenho, decadente; O capitão Vitorino, “Papa-Rabo”, tipo quixotesco, defensor de fracos e oprimidos.
Cada uma das partes é dominada por uma personagem, a quem o narrador deixa falar, ou deixa mostrar-se, expressando a sua visão de mundo. Essa técnica é conhecida como onisciência multisseletiva, que permite revelar o mundo a partir do ponto de vista da personagem. A ação de Fogo morto se desenrola no Engenho Santa Fé, de Lula de Holanda Chacon, personagem que protagoniza a segunda parte do livro, como já dissemos. Na primeira parte, José Amaro é um velho seleiro, vivendo de favor nas terras do engenho Santa Fé, desde a época de seu pai.
Ao lado da mulher, Sinhá Velha, e de Marta, filha solteira e louca, o mestre Amaro (amargo) é um homem orgulhoso, machista e revoltado contra a ordem opressiva instituída pelos hábitos patriarcais. Na segunda parte, o narrador interrompe o relato dos fatos presentes e faz uma retrospectiva, localizando a ação do romance por volta do ano de 1848, quando chega à região o capitão Tomás Cabral de Melo, que ergue o engenho Santa Fé, casa-se com Dona Mariquinha e tem duas filhas. Uma delas, Amélia, casa-se com Lula de Holanda Chacon, primo do capitão. Ao morrer o capitão, o coronel Lula torna-se senhor de tudo. Na terceira parte, a ação gira em torno do capitão Vitorino, personagem que tenta defender o engenho, mas é agredido por cangaceiros e também por policiais. Vitorino é uma espécie de Quixote nordestino que alimenta esperanças na justiça e em uma virada política para os liberais.
Vale lembrar que as personagens centrais de cada parte de “Fogo morto” são tipos de um tempo em que as coisas giravam em torno dos senhores de terra e, portanto, de uma sociedade patriarcalista e violenta. Podem ser assimiladas como “fantasmas” perdidos numa outra ordem social, marcada pelo advento da tecnologia das usinas que substituem a mão de obra dos engenhos da cana de açúcar. Por essa razão, “fogo morto” é uma expressão regionalista cujo significado é engenho desativado, abandonado. Outro componente importante é a linguagem regional do interior da Paraíba, muito bem articulada por José Lins do Rego, que insere palavras utilizadas pelas próprias personagens em suas conversações cotidianas.
Érico Veríssimo
Erico Lopes Verissimo nasceu na cidade Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 1905.
Desde novo, demonstrou sua adoração pela literatura, lendo autores brasileiros consagrados como Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos, e também autores internacionais como Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola e Dostoievski.
Pode-se dizer que sua vida de escritor se iniciou em 1929, com a publicação de um conto seu “Chico: um conto de Natal”, no periódico mensal “Cruz Alta em Revista”. A partir daí, outros escritos de sua autoria são enviados às revistas importantes da época e aos suplementos de jornais.
No ano seguinte, Erico se mudou para Porto Alegre, com a intenção de viver apenas com a literatura. O que realmente dá certo, pois foi contratado como secretário de redação da revista “O globo” e inicia uma brilhante carreira no periódico.
Apenas dois anos depois, em 1932, o autor já era diretor da revista. Além disso, é chamado para trabalhar no departamento editorial da Livraria do Globo, seu trabalho consistia na indicação de livros para serem traduzidos e publicados.
Seu primeiro livro, “Fantoches”, foi uma coletânea de histórias de peças de teatro. Já seu primeiro romance foi o livro “Clarissa”, lançado em 1933.
Após uma temporada nos Estados Unidos, onde deu aula de literatura e história do Brasil no Mills College, de Oakland, Califórnia, retornou para o Brasil em 1945.
O autor também fez traduções de clássicos estrangeiros, publicou livros infantis, criou programas de auditório para crianças e escreveu mais de 30 livros, entre romances, autobiografias, relatos de viagens e ensaios.
Em 1975, Erico faleceu subitamente.
Principais obras do escritor Érico Veríssimo
Romance: Clarissa(1933); Caminhos cruzados(1935); Música ao longe(1935); Um lugar ao sol(1936); Olhai os lírios do campo(1938); Saga(1940); O resto é silêncio(1942); O tempo e o vento: I - O continente(1948), II - O retrato(1951), III - O arquipélago(1961); O senhor embaixador(1965); O prisioneiro(1967); Incidente em Antares(1971).
Conto e novela: Fantoches(1932); Noite(1942).
Memórias: Solo de clarineta I(1973); Solo de clarineta II(1975).
Publicou ainda várias obras de ficção didática e literatura infantil, além de narrativas de viagens.
Cecília Meireles
Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.
Prosa: Giroflê, Giroflá (1956); Escolha o seu sonho (1964); Olhinhos de gato (1980).
Terceira fase do modernismo
- "João Miguel" (1932), romance
- "Caminho de Pedras" (1937), romance
- "As Três Marias" (1939), romance
- "A Donzela e a Moura Torta" (1948), crônicas
- "O Galo de Ouro" (1950), romance - folhetins na revista "O Cruzeiro"
- "Lampião" (1953), teatro
- "A Beata Maria do Egito" (1958), teatro
- "100 Crônicas Escolhidas" (1958)
- "O Brasileiro Perplexo" (1964), crônicas
- "O Caçador de Tatu" (1967), crônicas
- "O Menino Mágico" (1969), infanto-juvenil
- "As Menininhas e Outras Crônicas" (1976)
- "O Jogador de Sinuca e Mais Historinhas" (1980)
- "Cafute e Pena-de-Prata" (1986), infanto-juvenil
- "Memorial de Maria Moura" (1992), romance
Características de O Quinze de Rachel de Queiroz
Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, renovou a ficção regionalista. Possui cenas e episódios característicos da região, com a procissão de pedir chuva, são traços descritivos da condição do retirante. O sentido reivindicatório, entretanto não traz soluções prontas, preferindo apontar os males da região através de observação narrativa.
Em O Quinze, primeiro e mais popular romance de Rachel de Queiroz, a autora exprime intensa preocupação social, apoiada, contudo, na análise psicológica das personagens, especialmente o homem nordestino, sob pressão de forças atávicas que o impelem à aceitação fatalista do destino. Há uma tomada de posição temática da seca, do coronelismo e dos impulsos passionais, em que o psicológico se harmoniza com o social.
A obra apresenta a seca do nordeste e a fome como conseqüência, não trazendo ou tentando dar uma lição, mas como imagem da vida.
Não percebe-se uma total separação entre ricos e pobres, e esta fusão é feita através da personagem Conceição que pertence realmente aos dois mundos. Evitando assim o perigo dos romances sociais na divisão entre "bons pobres" e "maus ricos", não condicionando inocentes ou culpados.
Estrutura da obra
O título do livro evoca a terrível seca do Ceará de 1915. A própria família de Rachel foi obrigada a fugir do Ceará: foi para o Rio de Janeiro, depois para Belém do Pará. Compõe-se de 26 capítulos, sem títulos, enumerados.
A classificação de O Quinze é, sem dúvida, de romance regionalista de temática social. Mas com uma visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na história, a divisão batida de \"pessoas boas e pobres\" e de \"pessoas más e ricas\". A autora registrou no papel a sua emoção, sem condicionar o romance a uma tese ou à preocupação de procurar inocentes e culpado pela desgraça de cada um ou mesmo do grupo envolvido na história.
A história é recheada de amarguras. Bastaria a saga da família de Chico Bento para marcar o romance com as cores negras da desgraça. A morte está por toda parte. Está no calvário da família de retirantes, está em cada parada da caminhada fatigante, está no Campo de Concentração. Morte de gente e de bichos.
A história de amor entre Vicente e Conceição poderia ser o lado bom e humano da história. Não é. A falta de comunicação entre os dois, o desnível cultural que os separa constituem ingredientes amargos para um desfecho infeliz. É como se a seca, responsável por tantos infortúnios, fosse causadora de mais um: a impossibilidade de ser feliz para quem tem consciência da miséria.
Romance de profundidade psicológica. A análise exterior dos personagens existe, mas sem relevo especial dentro do livro. A autora vai soltando uma característica aqui, outra além, sem interromper a narrativa para minúcias. O lado introspectivo, psicológico é uma constante em toda a narrativa. Ao mesmo tempo em que o narrador informa as ações dos personagens, introduz interrogações e dúvidas que teriam passado por sua cabeça, por seu espírito.
Tempo
A autora situa a história do romance no Ceará de 1915. O fato histórico importante da época era a própria seca, obrigando os filhos da terra, principalmente do sertão, a migrarem para o Amazonas ou para São Paulo, à procura de vida melhor. Não há avanços nem recuos. A história é contada em linha reta, valorizando o presente, o cotidiano das pessoas. O passado é evocado raramente, muito mais por Conceição. A passagem do tempo dentro do romance é marcada de maneira tradicional, obedecendo à seqüência de início, meio e fim.
Cenário
O cenário do romance é o Ceará. Especificamente, a região de Quixadá, onde se situam as fazendas de Dona Inácia (avó de Conceição), do Capitão (pai de Vicente) e de Dona Maroca (patroa de Chico Bento).
Há também, em menor escala, o cenário urbano, destacando a capital, Fortaleza, para onde migram os retirantes e onde mora Conceição.
Linguagem
O sucesso do livro está atrelado à simplicidade da linguagem (a mais difícil das virtudes literárias!). Não há exibicionismo da autora no uso de palavreado erudito. Mesmo quando a dona da palavra é uma professora (Conceição), o diálogo flui espontâneo, normal, cotidiano.
Sua linguagem é natural, direta, coloquial, simples, sóbria, condicionada ao assunto e á região, própria da linguagem moderna brasileira. A estas características deve-se ao não envelhecimento da obra, pois sua matéria está isenta do peso da idade. Em O Quinze, Rachel usa o que lhe deu fama imediata: uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária e sem vínculo obrigatório a um falar específico (modismo comum na tendência regionalista).
A sobriedade da construção, a nitidez das formas, a emoção sem grandiloqüência, a economia de adjetivos são recursos perceptíveis em todo o livro.
Foco narrativo
O Quinze é romance narrado na terceira pessoa, ou seja, o narrador é a própria autora. O narrador é onisciente. Estando fora da história, o narrador vai penetrando na intimidade dos personagens como se fosse Deus. Sabe tudo sobre eles, por dentro e por fora. Conhece-lhes os desejos e adivinha-lhes o pensamento.
Discurso livre indireto. Em vez de apresentar o personagem em sua fala própria, marcada pelas aspas e pelos travessões (discurso direto), o narrador funde-se ao personagem, dando a impressão de que os dois falam juntos. Isto faz com que o narrador penetre na vida do personagem, no seu íntimo, adivinhando-lhe os anseios e dúvidas.
Personagens
Conceição - Não com os alunos, mas com a própria vida. Conceição é forte de espírito, culta, humana e com idéias um tanto avançadas sobre a condição feminina. O único homem que lhe despertou desejos é o primo Vicente. Conceição tem uma admiração antiga e especial pelo rapaz, talvez porque ele é real, sem as falsidades comuns dos moços bem-educados. Ao descobrir que ele não é tão puro, a admiração esfria, criando uma barreira intransponível para a realização plena do seu amor. Tinha vocação para solteirona: "Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona". Conceição sente-se realizada ao criar Duquinha, o afilhado que lhe doaram Chico Bento e Cordulina. É uma realização íntima, preenchendo o vazio da decepção amorosa.
Vicente - Filho de fazendeiro rico, com condições de mandar os filhos para a escola, Vicente, desde menino, quis ser vaqueiro. No início, isso causava tristeza e desgosto à família, principalmente à mãe, Dona Idalina. Com o tempo, todos passaram a admirar o rapaz. Vicente é o vaqueiro não-tradicional da região. Cuida do gado com um desvelo incomum, mas cuida do que é seu, ao contrário dos outros (Chico Bento é o exemplo) que cuidam de gado alheio. Tem boas condições financeiras, mas é humano em relação à família e aos empregados. Vicente tinha dentes brancos com um ponto de ouro. Na intimidade, quando se põe a pensar na vida e na felicidade, associa tais coisas à Conceição. Tem uma admiração superior por ela. Gradualmente, à medida que vai notando a maneira fria com que ela passa a tratá-lo, Vicente começa a descrer no amor e na possibilidade de casar e ser feliz.
Chico Bento - Chico Bento é o protótipo do vaqueiro pobre, cuidando do rebanho dos outros. Ele é o vaqueiro de Dona Maroca, da fazenda das Aroeiras, na região de Quixadá. Ele e Vicente são compadres e vizinhos. Como é peculiar da pobreza brasileira e nordestina, Chico Bento tem a mulher (Cordulina) e cinco filhos, todos ainda pequenos. Pedro, o mais velho, tem doze anos. Expulso pela seca e pela dona da fazenda, Chico Bento e família empreendem uma caminhada desastrosa em direção a Fortaleza. Perde dois filhos no caminho: um morre envenenado (Josias), o outro desaparece (Pedro). Antes de embarcar para São Paulo, é obrigado a dar o mais novo (Duquinha) para a madrinha, Conceição. De Fortaleza, Chico Bento e parte da família vão, de navio, para São Paulo. É o exílio forçado, é a esperança de vida melhor e, quem sabe, de riqueza para quem só conheceu miséria no Ceará.
Cordulina - É a esposa de Chico Bento. Personifica a mulher submissa, analfabeta, sofredora, com o destino atrelado ao destino do marido. É o exemplo da miséria como conseqüência da falta de instrução.
Josias - Filho de Chico Bento e Cordulina, tem cerca de dez anos de idade. Comeu mandioca crua e morreu envenenado na estrada.
Pedro - Filho de Chico Bento e Cordulina, é o mais velho, tem doze anos de idade. Desapareceu quando o grupo ia chegando a Acarape.
Manuel (Duquinha) - É o filho caçula de Chico Bento e Cordulina; tem dois anos anos de idade. Foi doado à madrinha, Conceição.
Paulo - Irmão mais velho de Vicente, ele é o orgulho dos pais (pelo menos no início). Estudou, fez-se doutor (promotor) e casou-se na cidade com uma moça branca. Depois de casado, passou a dedicar o seu tempo à família, quase não se interessando mais pelos pais e pelos irmãos. Só então os pais deram valor a Vicente.
Mocinha - Irmã de Cordulina, ficou como empregada doméstica em Castro, na casa de sinhá Eugênia. Arranjou um filho sem pai e tudo indica que vai viver da prostituição.
Lourdinha - Irmã mais velha de Vicente. Casou-se com Clóvis Garcia em Quixadá. No final, têm uma filha, símbolo da felicidade que as pessoas simples e descomplicadas conseguem conquistar.
Alice - Irmã mais nova de Vicente. Mora na fazenda com os pais e os irmãos.
Dona Inácia - Avó de Conceição, espécie de mãe, pois foi quem a criou depois que a mãe verdadeira morreu. É dona da fazenda Logradouro, na região de Quixadá. Não aprova as idéias liberais da neta, principalmente no que diz respeito a ficar solteirona.
Dona Idalina - Prima de Dona Inácia. Idalina é a mãe de Vicente, Paulo, Alice e Lourdinha. Vive com o marido, Major, na fazenda perto de Quixadá.
Major - Fazendeiro rico na região de Quixadá. Entrega a administração da fazenda ao filho Vicente. Orgulha-se de ter um filho doutor: o Paulo, promotor em uma cidade do interior do Ceará.
Dona Maroca - Fazendeira, dona da fazenda Aroeiras na região de Quixadá. Na época da seca, mandou o vaqueiro, Chico Bento, soltar o gado e procurar, por conta própria, meios para sobreviver.
Mariinha Garcia - Moça bonita, de família rica, moradora de Quixadá. Com auxílio de Lourdinha e Alice, faz tudo para conquistar Vicente, mas as tentativas resultam inúteis.
Luís Bezerra - Compadre de Chico Bento e Cordulina. Trabalhara também nas Aroeiras sob o comando de Dona Maroca. Agora, é delegado em Acarape, povoado do interior do Ceará. Foi ele quem conseguiu passagens de trem para que a família do compadre chegasse a Fortaleza.
Doninha - Esposa de Luís Bezerra, madrinha do Josias, o filho de Chico Bento que morreu envenenado na estrada.
Zefinha - Filha do vaqueiro Zé Bernardo. Conceição, acreditando numa conversa que tivera com Chiquinha Boa, acha que Vicente tem um caso com Zefinha.
Chiquinha Boa - Trabalhava na fazenda de Vicente. Na época da seca, achando que o governo do Ceará estava ajudando os pobres que migravam para a capital, deixou a zona rural.
Enredo
A obra O Quinze aborda a seca de 1915, descreve alguns aspectos da vida do interior do Ceará durante um dos períodos mais dramáticos que o povo atravessou. O enredo é interessante, dramático, mostrando a realidade do Nordeste Brasileiro e se dá em dois planos.
No primeiro plano enfoca o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora. Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas o que estranha a sua avó, Mãe Nácia que é representante das velhas tradições. No período de férias, Conceição passava na fazenda da família, no Logradouro, perto do Quixadá. Apesar de ter 22 anos, não dizia pensar em casar, mas sempre se "engraçava" à seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com o advento da seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição, trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Enquanto ela se revolta, Mãe Nácia à consola dizendo:
"Minha filha, a vida é assim mesmo... Desde hoje que o mundo é mundo... Eu até acho os homens de hoje melhores."
Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa as temerosidades dela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão. As irmã de Vicente armam um namoro entre ele e uma amiga, a Mariinha Garcia. Ele porém se espanta ao "saber" que estava namorando, dizendo que apenas era solícito para com ela e não tinha a menor intenção de comprometimento. Conceição percebe a diferença de vida entre ela e seu primo e a quase impossibilidade de comunicação. A seca termina e eles voltam para o Logradouro.
O segundo plano é, sem dúvida, a parte mais importante do livro. Apresenta a marcha trágica e penosa do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhara. Junta algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão. Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha. No percurso, em momento de grande fome, Josias, o filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. O seu fim está bem descrito nessa passagem:
"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."
Uma cena marcante na vida do vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as tripas para saciarem. Léguas após, Chico Bento dá falta do seu filho mais velho Pedro. Chegando ao Aracape, lugar onde supunha que ele pudesse ser encontrado, avista um compadre que era o delegado. Recebem alguns mantimentos mas não é possível encontrar o filho. Ficam sabendo que o menino tinha fugido com comboeiros de cachaça. Notem:
"Talvez fosse até para a felicidade do menino. Onde poderia estar em maior desgraça do que ficando com o pai?"
Ao chegarem no campo de concentração, são reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
Graciliano ramos
Segundo escritos de seus amigos, ele era uma pessoa séria e pessimista, mas confiava no destino, porém, passou por condições precárias financeiramente em muitos momentos, mas conseguiu vencer os obstáculos, conhecendo vários países e alcançando destaque na literatura brasileira com suas obras.
Principais obras do escritor Graciliano Ramos
Caetés (1933)
São Bernardo (1934)
Angústia (1936)
Vidas Secas (1938) memórias
Infância (1945) contos
Insônia (1947) póstuma
Memórias do cárcere (1953)
Viagem (1954)
Alexandre e outros heróis (1962)
Linhas tortas (1962)
Viventes das Alagoas (1962)
Características da obra São Bernardo de Graciliano Ramos
Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente; já o Paulo Honório personagem é demarcado pelo tempo pretérito. O narrador irá se debruçar sobre seu passado, tentando entender a si mesmo, ao mundo e como ele se relaciona com esse mundo exterior.
O narrador expõe no primeiro capítulo como ele planejava contar sua história, delegando funções para pessoas mais cultas. Porém, Paulo Honório descobre que este método de escrita é falho, pois ninguém falava da forma como estava escrito e ele não se via representado ali. A partir de então, ele mesmo resolve tomar a frente e escrever suas próprias lembranças. Através desse processo metalinguístico de exposição do projeto de escrita do livro, coloca-se o próprio ato de escrever em discussão.
Porém, ao contrário do que se pode imaginar, a linguagem utilizada na narrativa não é desconexa e nem tosca. Pode-se dizer, então, que há uma certa inverossimilhança na obra, pois como um homem rústico, que se diz quase analfabeto, iria escrever um texto tão bem escrito? Mas, apesar de esta crítica ser pertinente, observa-se que a linguagem utilizada é extremamente enxuta e direta, o que, além de ser típica do estilo do próprio Graciliano Ramos, combina com Paulo Honório.
De origem humilde, Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua ascensão social, utilizando muitas vezes de meios antiéticos, como ameaças, assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para ele, o que importa é “ter”. Essa visão de mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do “ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade humanas.
Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo de sua esposa e a acusa de infiel e “subversiva”; por sua vez, Madalena não consegue resgatar Paulo Honório de sua desumanidade. Sem sua esposa e abandonado também pelos amigos, Paulo Honório assume em partes seus erros que levaram à tragédia que se abateu sob a fazenda São Bernardo. Porém, ele joga a culpa de seu endurecimento, de sua perda da humanidade no ambiente em que vive.
Características da obra São Bernardo de Graciliano Ramos
Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente; já o Paulo Honório personagem é demarcado pelo tempo pretérito. O narrador irá se debruçar sobre seu passado, tentando entender a si mesmo, ao mundo e como ele se relaciona com esse mundo exterior.
O narrador expõe no primeiro capítulo como ele planejava contar sua história, delegando funções para pessoas mais cultas. Porém, Paulo Honório descobre que este método de escrita é falho, pois ninguém falava da forma como estava escrito e ele não se via representado ali. A partir de então, ele mesmo resolve tomar a frente e escrever suas próprias lembranças. Através desse processo metalinguístico de exposição do projeto de escrita do livro, coloca-se o próprio ato de escrever em discussão.
Porém, ao contrário do que se pode imaginar, a linguagem utilizada na narrativa não é desconexa e nem tosca. Pode-se dizer, então, que há uma certa inverossimilhança na obra, pois como um homem rústico, que se diz quase analfabeto, iria escrever um texto tão bem escrito? Mas, apesar de esta crítica ser pertinente, observa-se que a linguagem utilizada é extremamente enxuta e direta, o que, além de ser típica do estilo do próprio Graciliano Ramos, combina com Paulo Honório.
De origem humilde, Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua ascensão social, utilizando muitas vezes de meios antiéticos, como ameaças, assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para ele, o que importa é “ter”. Essa visão de mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do “ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade humanas.
Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo de sua esposa e a acusa de infiel e “subversiva”; por sua vez, Madalena não consegue resgatar Paulo Honório de sua desumanidade. Sem sua esposa e abandonado também pelos amigos, Paulo Honório assume em partes seus erros que levaram à tragédia que se abateu sob a fazenda São Bernardo. Porém, ele joga a culpa de seu endurecimento, de sua perda da humanidade no ambiente em que vive.
Características de Vidas Secas de Graciliano Ramos
- O livro faz um retrato brutal da dura existência no sertão nordestino, em que bichos e homens são igualados na tentativa de sobreviver às agruras da seca. A família de Fabiano tem que enfrentar
a realidade do sertanejo, não somente dos desafios advindos de uma
natureza inóspita, mas também a exclusão proporcionada pela sociedade, incapaz de garantir uma vida digna a
determinados grupos sociais que se tornam alvo das normatizações existentes.
A obra não se caracteriza por uma mera exposição de flagelos, mas sim da constituição de um amplo painel sobre as
relações humanas e das pessoas inseridas em um ambiente hostil, que fustiga o corpo e mente, levando o homem aos seus limites na busca pela sobrevivência, agravada pela inexistência da atuação estatal, aumentando o sentimento de exclusão do nordestino.
Nesse sentido, Vidas Secas se caracteriza como um documento atinente à vida do sertanejo, expondo conflitos internos que levam o ser humano a encontrar na sua resistência o único fator para garantir sua subsistência, num ambiente pouco propício a essa condição, como também ao abandono do Estado.
José Lins do Rego Cavalcanti nasceu em Pilar, Estado da Paraíba, em 03 de junho de 1901, e faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 1957. Criado no engenho Corredor, de propriedade do avô materno, fez os estudos secundários em Itabaiana e na Paraíba (atual João Pessoa), vindo a se formar em Direito no Recife no ano de 1918. Foi também no Recife que veio a conhecer intelectuais como Gilberto Freyre, José Américo de Almeida e Olívio Montenegro. Tempos depois conheceria em Maceió dois grandes nomes da literatura de seu tempo: Jorge de Lima e Graciliano Ramos. Exerceu o cargo de promotor público em Manhaçu (MG). Publicava, desde sua tenra juventude, artigos em suplementos literários, passando após algum tempo a escrever romances. Seu primeiro livro foi publicado em 1932: Menino de Engenho, custeado com dinheiro do próprio bolso, e que atingiu enorme repercussão, abrindo caminho para uma série de obras de grande importância em nossa literatura. José Lins do Rego veio para o Rio de Janeiro em 1935. Consagrado como o grande escritor regionalista brasileiro ao lado de Graciliano Ramos, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras no ano de 1956 . Sua obra tem como característica ser detentora de um profundo lirismo e de uma linguagem cheia de vocábulos regionais. Neto de um poderoso senhor de engenho, José Lins do Rego conviveu com essa transição econômica e cultural por toda a sua juventude, o que concede a seus textos um tom de biografia que se estende desde o seu primeiro livro. Neste ano de 2001, quando completaria 100 anos de vida, a Academia Brasileira de Letras o homenageia com uma exposição e um ciclo de palestras sobre sua vida e sua obra. Outra homenagem foi prestada com a criação de um prêmio literário, no valor de R$ 30.000,00, para a melhor obra criada em torno do autor que escrevia guiado pelas emoções e pela memória.
Principais obras do escritor José Lins do Rego
Menino de engenho (1932)
Doidinho (1933)
Banguê (1934)
O Moleque Ricardo (1935)
Usina (1936)
Pureza (1937)
Pedra bonita (1938)
Riacho doce (1939)
Fogo morto (1943)
Eurídice (1947)
Cangaceiros (1953)
Gordos e magros (1942)
Poesia e vida (1945)
Homens, seres e coisas (1952)
A casa e o homem (1954)
Meus verdes anos (1956)
O vulcão e a fonte (1958)
Dias idos e vividos (1981)
Características de Fogo Morto de José Lins do Rêgo
“Fogo morto” é um drama humano organizado em três partes, daí a caracterização de estrutura triangular. Cada uma delas traz no título o nome da personagem central, nesta ordem: O mestre José Amaro, seleiro orgulhoso e revoltado; O engenho do “seu” Lula, senhor de engenho, decadente; O capitão Vitorino, “Papa-Rabo”, tipo quixotesco, defensor de fracos e oprimidos.
Cada uma das partes é dominada por uma personagem, a quem o narrador deixa falar, ou deixa mostrar-se, expressando a sua visão de mundo. Essa técnica é conhecida como onisciência multisseletiva, que permite revelar o mundo a partir do ponto de vista da personagem. A ação de Fogo morto se desenrola no Engenho Santa Fé, de Lula de Holanda Chacon, personagem que protagoniza a segunda parte do livro, como já dissemos. Na primeira parte, José Amaro é um velho seleiro, vivendo de favor nas terras do engenho Santa Fé, desde a época de seu pai.
Ao lado da mulher, Sinhá Velha, e de Marta, filha solteira e louca, o mestre Amaro (amargo) é um homem orgulhoso, machista e revoltado contra a ordem opressiva instituída pelos hábitos patriarcais. Na segunda parte, o narrador interrompe o relato dos fatos presentes e faz uma retrospectiva, localizando a ação do romance por volta do ano de 1848, quando chega à região o capitão Tomás Cabral de Melo, que ergue o engenho Santa Fé, casa-se com Dona Mariquinha e tem duas filhas. Uma delas, Amélia, casa-se com Lula de Holanda Chacon, primo do capitão. Ao morrer o capitão, o coronel Lula torna-se senhor de tudo. Na terceira parte, a ação gira em torno do capitão Vitorino, personagem que tenta defender o engenho, mas é agredido por cangaceiros e também por policiais. Vitorino é uma espécie de Quixote nordestino que alimenta esperanças na justiça e em uma virada política para os liberais.
Vale lembrar que as personagens centrais de cada parte de “Fogo morto” são tipos de um tempo em que as coisas giravam em torno dos senhores de terra e, portanto, de uma sociedade patriarcalista e violenta. Podem ser assimiladas como “fantasmas” perdidos numa outra ordem social, marcada pelo advento da tecnologia das usinas que substituem a mão de obra dos engenhos da cana de açúcar. Por essa razão, “fogo morto” é uma expressão regionalista cujo significado é engenho desativado, abandonado. Outro componente importante é a linguagem regional do interior da Paraíba, muito bem articulada por José Lins do Rego, que insere palavras utilizadas pelas próprias personagens em suas conversações cotidianas.
Érico Veríssimo
Erico Lopes Verissimo nasceu na cidade Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 1905.
Desde novo, demonstrou sua adoração pela literatura, lendo autores brasileiros consagrados como Coelho Neto, Aluísio Azevedo, Joaquim Manoel de Macedo, Afrânio Peixoto e Afonso Arinos, e também autores internacionais como Walter Scott, Tolstoi, Eça de Queirós, Émile Zola e Dostoievski.
Pode-se dizer que sua vida de escritor se iniciou em 1929, com a publicação de um conto seu “Chico: um conto de Natal”, no periódico mensal “Cruz Alta em Revista”. A partir daí, outros escritos de sua autoria são enviados às revistas importantes da época e aos suplementos de jornais.
No ano seguinte, Erico se mudou para Porto Alegre, com a intenção de viver apenas com a literatura. O que realmente dá certo, pois foi contratado como secretário de redação da revista “O globo” e inicia uma brilhante carreira no periódico.
Apenas dois anos depois, em 1932, o autor já era diretor da revista. Além disso, é chamado para trabalhar no departamento editorial da Livraria do Globo, seu trabalho consistia na indicação de livros para serem traduzidos e publicados.
Seu primeiro livro, “Fantoches”, foi uma coletânea de histórias de peças de teatro. Já seu primeiro romance foi o livro “Clarissa”, lançado em 1933.
Após uma temporada nos Estados Unidos, onde deu aula de literatura e história do Brasil no Mills College, de Oakland, Califórnia, retornou para o Brasil em 1945.
O autor também fez traduções de clássicos estrangeiros, publicou livros infantis, criou programas de auditório para crianças e escreveu mais de 30 livros, entre romances, autobiografias, relatos de viagens e ensaios.
Em 1975, Erico faleceu subitamente.
Principais obras do escritor Érico Veríssimo
Romance: Clarissa(1933); Caminhos cruzados(1935); Música ao longe(1935); Um lugar ao sol(1936); Olhai os lírios do campo(1938); Saga(1940); O resto é silêncio(1942); O tempo e o vento: I - O continente(1948), II - O retrato(1951), III - O arquipélago(1961); O senhor embaixador(1965); O prisioneiro(1967); Incidente em Antares(1971).
Conto e novela: Fantoches(1932); Noite(1942).
Memórias: Solo de clarineta I(1973); Solo de clarineta II(1975).
Publicou ainda várias obras de ficção didática e literatura infantil, além de narrativas de viagens.
Cecília Meireles
Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.
Sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever suas primeiras poesias.
Formou-se professora (cursou a Escola Normal) e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou seu primeiro livro “Espectro” (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista.
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.
Sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, “O cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”, entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características de sua poesia).
O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.
No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Principais obras da escritora Cecília Meireles
Poesia: Espectros (1919); Nunca mais...e Poemas dos poemas (1923); Baladas para El-Rei (1925); Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar absoluto (1945); Retrato natural (1949); Doze noturnos de Holanda e O aeronauta (1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Solombra (1963).
Prosa: Giroflê, Giroflá (1956); Escolha o seu sonho (1964); Olhinhos de gato (1980).
Vinícius de Moraes
Vinícius de Moraes (Rio de Janeiro RJ, 1913 – 1980) formou-se em Direito, no Rio de Janeiro, em 1933.
No mesmo ano publicou O Caminho para a Distância, seu primeiro livro de poesia. Ainda na década de 1930, são lançados Forma e Exegese (1935), Ariana, a Mulher (1936) e Novos Poemas (1938).
Em 1938 viajou para a Inglaterra, para estudar Língua e Literatura Inglesa. De volta ao Brasil, ingressou na carreira diplomática; serviu nos Estados Unidos, na França e no Uruguai.
Em 1956 iniciou parceria com Tom Jobim, que fez as músicas para sua peça Orfeu da Conceição. Publicou, em 1957, o Livro de Sonetos.
Em 1958 foi lançado o LP Canção do Amor Demais, que inclui a música Chega de Saudade, composta por ele e Tom Jobim, marco do movimento da Bossa Nova. Nas décadas seguintes ele participaria no movimento com diversas parcerias: Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime, Pixinguinha, Tom Jobim e Toquinho.
Em 1965 ganhou primeiro e segundo lugares no Festival de Música Popular da TV Excelsior, com as canções Arrastão, parceria com Edu Lobo, e Canção do Amor que não Vem, parceria com Baden Powell. Vinícius de Moraes, pertencente à segunda geração do Modernismo, é um dos poetas mais populares da Literatura Brasileira. Suas canções alcançaram grande êxito de público, como Garota de Ipanema, a música brasileira mais executada no mundo.
Para Otto Lara Rezende, "depois do Vinicius musical, foi o Vinicius cronista quem mais depressa chegou ao coração do grande público". Sua obra poética também teve e continua tendo muito sucesso; principalmente poemas como Soneto de Fidelidade. Ele produziu ainda poemas infantis, como os de A Arca de Noé (1970).
Principais livros do escritor Vinícius de Moraes
O Caminho para a Distância (1933)
Forma e Exegese (1935)
Ariana, a Mulher (1936)
Novos Poemas (1938)
Cinco Elegias (1943)
Poemas, Sonetos e Baladas (1946), também conhecido como O Encontro do Cotidiano (1968)
Pátria Minha (1949)
Antologia Poética (1954)
Livro de Sonetos (1957)
Novos Poemas (II) (1959)
Para Viver um Grande Amor (Crônicas e Poemas) (1962)
A Arca de Noé; Poemas Infantis (1970)
Poesia Completa e Prosa (1998)
Murilo Mendes
Murilo Mendes
Murilo Mendes (1901-1975) foi poeta brasileiro. Fez parte do Segundo Tempo Modernista. Recebeu o premio Graça Aranha com seu primeiro livro "Poemas". Participou do Movimento Antropofágico, revelando-se conhecedor da vanguarda artística européia.
Murilo Mendes (1901-1975) nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 13 de maio de 1901. Inicia seus estudos na terra natal, vai estudar no Internato do Colégio Salesiano em Niterói, Rio de Janeiro. Em 1920, muda-se para a capital, onde participa do Movimento Antropofágico. Estreia na literatura escrevendo para duas revistas do modernismo, Terra Roxa e Outras Terras e Antropofagia.
Em 1930, lança seu primeiro livro "Poemas". A poesia da geração de 30 teve grande preocupação social. A poesia de Murilo Mendes analisa o destino do ser humano como um todo. Em 1932 escreve o poema "Historia do Brasil". Em 1934, desenvolve temas religiosos e com Jorge de Lima escreve "Tempos e Eternidade", publicado em 1935. Emprega-se como telegrafista e depois como auxiliar de guarda-livros.
Em 1936, assume o cargo de Inspetor Federal de Ensino. Em 1938 escreve "A Poesia em Pânico". Em 1944, escreve a prosa "O Discípulo de Emaús". Trabalhou no Ministério da Fazenda e no Cartório da 4ª Vara de Família. Casa-se com Maria da Saudade de Cortesão. O casal não teve filhos. Em 1948, escreve "Janela do Caos".
Em 1953, foi convidado para lecionar literatura brasileira em Lisboa. De 1953 a 1955, percorreu diversos países da Europa, divulgando, em conferências, a cultura brasileira. Em 1957, se estabeleceu em Roma, onde lecionou Literatura Brasileira.
Murilo Monteiro Mendes faleceu, em Estoril, Portugal, no dia 13 de agosto de 1975.
Principais obras de Murilo Mendes
Poemas (1930)
História do Brasil (1932)
Tempo e Eternidade. Colaboração de Jorge de Lima (1935)
O Sinal de Deus (1936)
A Poesia em Pânico (1936)
O Visionário (1941)
As Metamorfoses (1944)
O Discípulo de Emaús (1945; 1946)
Mundo Enigma (1945)
Poesia Liberdade (1947)
Janela do Caos (1949)
Contemplação de Ouro Preto (1954)
Poesias (1925-1955).
Tempo Espanhol (1959)
A Idade do Serrote (memórias) (1968)
Convergência (1970)
Poliedro (1972)
Retratos-relâmpago (1973)
História do Brasil (1932)
Tempo e Eternidade. Colaboração de Jorge de Lima (1935)
O Sinal de Deus (1936)
A Poesia em Pânico (1936)
O Visionário (1941)
As Metamorfoses (1944)
O Discípulo de Emaús (1945; 1946)
Mundo Enigma (1945)
Poesia Liberdade (1947)
Janela do Caos (1949)
Contemplação de Ouro Preto (1954)
Poesias (1925-1955).
Tempo Espanhol (1959)
A Idade do Serrote (memórias) (1968)
Convergência (1970)
Poliedro (1972)
Retratos-relâmpago (1973)
Com o fim das Grandes Guerras e início da Guerra Fria e o fim da Era Vargas, que trouxe uma época de democratização política brasileira, o Modernismo brasileiro começou a ganhar novos rumos. Não era mais necessário o empenho social e político, pois em tese não havia mais conflitos aos quais se opor.
A geração de 1945 abandonou vários ideais de 22, criando novas regras que permitiam a liberdade para o artista criar o que quisesse. Eles não estavam mais ligados à obrigação de aproximar-se da realidade brasileira e nem de aproximar-se do povo através de uma linguagem popular e descontraída.
A principal temática da geração de 1945 estava ligada à aproximação do psicológico humano. Para transmitir esta reflexão da psicologia humana, as obras desta geração possuíam um equilíbrio rítmico e linguagem lírica que rendia-se à antiga forma decassíliaba e rigorosa, deixando de lado o verso livre instaurado em 1922.
Principais autores da geração de 45
São nomes famosos desta época: Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Clarice Lispector
Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977) passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha.
Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro. Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977).
Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo.
Escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".
Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro. Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977).
Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo.
Escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".
PRINCIPAIS OBRAS DE CLARICE LISPECTOR
Romances
Perto do Coração Selvagem (1943); O Lustre (1946); A Cidade Sitiada (1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão Segundo GH (1964); Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); A Hora da Estrela (1977).
Contos
Alguns Contos (1952); Laços de Família (1960); A Legião Estrangeira (1964), contos e crônicas; Felicidade Clandestina (1971); A Imitação da Rosa (1973); A Via Crucis do Corpo (1974); Onde Estivestes de Noite? (1974); A Bela e a Fera (1979).
Crônicas e entrevistas
De Corpo Inteiro (1975), entrevista; Visão do Esplendor (1975) crônicas; A Descoberta do Mundo (1984) crônicas.
Infantil
O Mistério do Coelho Pensante (1967); A Mulher que Matou os Peixes (1969); A Vida Íntima de Laura (1973); Quase de Verdade (1978).
Características de Laços de Família de Clarice Lispector
Laços de Família inclui-se entre os melhores livros de contos de nossa Literatura. São 13 contos centrados, tematicamente, no processo de aprisionamento dos indivíduos através dos "laços de família", de sua prisão doméstica, de seu cotidiano. As formas de vida convencionais e estereotipadas vão-se repetindo de geração, submetendo as consciências e as vontades. A dissecação da classe média carioca resulta numa visão, desencantada e descrente dos liames familiares, dos "laços" de conveniência e interesse que minam a precária união familiar.
Pertencente ao circuito literário nacional dos idos de 1945, Clarice Lispector recebeu influência direta do romance psicológico e do chamado fluxo de consciência presente na literatura irlandesa desde a publicação de Ulisses de James Joyce.
O forte apelo intimista e a miríade de imagens desencadeadas em seus angustiantes textos revelam a própria condição de solidão do homem no mundo.
Há um aspecto a ser levantado nas personagens criadas por ela. Usualmente são moças, velhas, casadas, solteiras, enfim, mulheres e sua realidade social e pessoal deflagradas sob o olhar hipnotizante e martirizador de Clarice.
Características da obra A hora da Estrela de Clarice Lispector
A hora da estrela é também uma despedida de Clarice Lispector. Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa.
É pelos olhos do narrador e através de seu domínio da palavra que a existência e a essência são expostas como interrogações. Tal presença masculina retrata um universo de fragmentos, onde o ser humano não é respeitado, mas desacreditado nessa reconstrução de uma realidade mutilada.
Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice.
A despedida de Clarice é uma obra instigante e inovadora. Como diz o personagem Rodrigo,estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. É Clarice contando uma história e, ao mesmo tempo, revelando ao leitor seu processo de criação e sua angústia diante da vida e da morte.
Estrutura da obra
É uma obra composta de três histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da produção da autora: originalidade de estilo e profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente comuns.
A linguagem narrativa de Clarice é, às vezes, intensamente lírica, apresentando muitas metáforas e outras figuras de estilo. Há, por exemplo, alguns paradoxos e comparações insólitas, que realmente surpreendem o leitor. E também é peculiaridade da autora a construção de frases inconclusas e outros desvios da sintaxe convencional, além da criação de alguns neologismos.
Foco narrativo
Quanto à linguagem, o livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. Interessante notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam sido cogitados para o livro.
O recurso usado por Clarice Lispector é o narrador-personagem, pois conforme nos faz conhecer a protagonista, também nos faz conhecê-lo. Ele escreve para se compreender. É um marginalizado conforme lemos: "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens". Quanto à sua relação com Macabéa, ele declara amá-la e compreendê-la, embora faça contínuas interrogações sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória dela, sem saber exatamente o que lhe vai acontecer e torcendo para que não lhe aconteça o pior.
Macabéa, a protagonista, é uma invenção do narrador com a qual se identifica e com ela morre. A personagem é criada de forma onisciente (tudo sabe) e onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado da morte. A morte foi a hora de estrela.
O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa.
Além da alinearidade, há pelo menos três histórias encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de leitor:
1. A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina que ele viu, de relance, na rua.
2. A identificação da história do narrador com a da personagem - Rodrigo S.M. conta a história dele mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos olhos. Se por um lado, ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por outro lado, ele estabelece com ela um vínculo mais profundo, que é o da comum condição humana. Esta identidade, que ultrapassa as questões de classe, de gênero e de consciência de mundo, é um elemento de grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se confundem.
3. A vida de Macabéa - O narrador conta como tece a narrativa.
Narrador e protagonista, inseridos em uma escrita descontínua e imprevisível, permitem ao leitor a reflexão sobre uma época de transição, de incoerência, como um movimento em busca de uma nova estruturação da obra literária similar à insegurança, à ansiedade e ao sofrimento. O tema é oferecido, socializando a possibilidade de ruptura.
O narrador revela seu amor pela personagem principal e sofre com a sua desumanização, mas, também, com a própria tendência em tornar-se insensível.
O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão, como recurso, das digressões, o que, aspectualmente parece dar à narrativa uma característica alinear. Não se engane: ele foge para o passado a fim de buscar informações.
Espaço / Tempo
O Rio de Janeiro é o espaço. Ocorre que o espaço físico, externo, não importa muito nesta história. O "lado de dentro"das criaturas é o que interessa aos intimistas.
Pelos indícios que o narrador nos oferece, o tempo é época em que Marylin Monroe já havia morrido - possivelmente a década de 60 em seu fim ou a de 70 em seus começos - mas faz ainda um grande sucesso como mito que povoa a cabeça e os sonhos de Macabéa.
Embora a história de Macabea seja profundamente dramática, a narrativa é toda permeada de muito humor e ironia. O próprio nome da protagonista constitui-se numa grande ironia (tragicomédia).
Personagens
Macabéa: Alagoana, 19 anos e foi criada por uma tia beata que batia nela (sobre a cabeça, com força); completamente inconsciente, raramente percebe o que há à sua volta. A principal característica de Macabéa é a sua completa alienação. Ela não sabe nada de nada. Feia, mora numa pensão em companhia de 3 moças que são balconistas nas Lojas Americanas (Maria da Penha, Maria da Graça e Maria José). Macabéa recebe o apelido de Maca e é a protagonista da história. Possivelmente o nome Macabéa seja uma alusão aos macabeus bíblicos, sete ao todo, teimosos, criaturas destemidas demais no enfrentamento do mundo; a alusão, no entanto, faz-se pelo lado do avesso, pois Macabéa é o inverso deles.
Olímpico: Olímpico se apresentava como Olímpico de Jesus Moreira Chaves. Trabalhava numa metalúrgica e não se classificava como "operário": era um "metalúrgico". Ambicioso, orgulhoso e matara um homem antes de migrar da Paraíba. Queria ser muito rico, um dia; e um dia queria também ser deputado. Um secreto desejo era ser toureiro, gostava de ver sangue.
Rodrigo S. M.: Narrador-personagem da história. Ele tem domínio absoluto sobre o que escreve. Inclusive sobre a morte de Macabéa, no final.
Glória: Filha de um açougueiro, nascida e criada no Rio de Janeiro, Glória rouba Olímpico de Macabéa. Tem um quê de selvagem, cheia de corpo, é esperta, atenta ao mundo.
Madame Carlota: É a mulher de Olaria que porá as cartas do baralho para "ler a sorte"de Macabéa. Contará que foi prostituta quando jovem, que depois montou uma casa de mulheres e ganhou muito dinheiro com isso. Come bombons, diz que é fã de Jesus Cristo e impressiona Macabéa. Na verdade, Madame Carlota é uma enganadora vulgar.
Outras personagens: As três Marias que moram com Macabéa no mesmo quarto, o médico que a atende e diagnostica a gravidade da tuberculose e o chefe, seu Raimundo, que reluta em mandá-la embora.
Enredo
Macabéa (Maca) foi criada por uma tia beata, após a morte dos pais quando tinha dois anos de idade. Acumula em seu corpo franzino a herança do sertão, ou seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheia de si e da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca se deu conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.
Ignorava até mesmo porque se deslocara de Alagoas até o Rio de Janeiro, onde passou a viver com mais quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha como datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que fica na Rua do Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio Relógio, especializada em dizer as horas e divulgar anúncios, talvez identificando com o apresentador a escassez de linguagem que a converte num ser totalmente inverossímil no mundo em que procura sobreviver. Tinha como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções de Hollywood na década de 1950.
Macabéa recebe de seu chefe, Raimundo Silveira, por quem ela estava secretamente apaixonada, o aviso de que será despedida por incompetência. Como Macabéa aceita o fato com enorme humildade, o chefe se compadece e resolve não despedi-la imediatamente.
Seu namorado, Olímpico de Jesus, era nordestino também. Por não ter nada que ajudasse Olímpico a progredir, ela o perde para Glória, que possuía atrativos materiais que ele ambicionava.
Glória, com certo sentimento de culpa por ter roubado o namorado da colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso, empresta-lhe dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro namorado. Macabéa vai, então, à cartomante, que, primeiro, lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta; depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, prediz-lhe um futuro maravilhoso, já que ela deveria casar-se com um belo homem loiro e rico - Hans - que lhe daria muito luxo e amor.
Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida de futuro', encantada com a felicidade que a cartomante lhe garantira e que ela já começava a sentir. Então, logo ao descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um luxuoso Mercedes Benz amarelo. Esta é a hora da estrela de cinema, onde ela vai ser "tão grande como um cavalo morto".
Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci”. Há uma situação paradoxal: ela só nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de sua morte. Por isso antes de morrer repete sem cessar:“Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou”.
Por ter definido a sua existência é que Macabéa pronuncia uma frase que nenhum dos transeuntes entende: “Quanto ao futuro.” (...) “Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.”
Com ela morre também o narrador, identificado com a escrita do romance que se acaba.
A hora da estrela é também uma despedida de Clarice Lispector. Lançada pouco antes de sua morte em 1977, a obra conta os momentos de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa.
É pelos olhos do narrador e através de seu domínio da palavra que a existência e a essência são expostas como interrogações. Tal presença masculina retrata um universo de fragmentos, onde o ser humano não é respeitado, mas desacreditado nessa reconstrução de uma realidade mutilada.
Em A hora da estrela Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela, uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no Nordeste, como Clarice.
A despedida de Clarice é uma obra instigante e inovadora. Como diz o personagem Rodrigo,estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. É Clarice contando uma história e, ao mesmo tempo, revelando ao leitor seu processo de criação e sua angústia diante da vida e da morte.
Estrutura da obra
É uma obra composta de três histórias que se entrelaçam e que são marcadas, principalmente, por duas características fundamentais da produção da autora: originalidade de estilo e profundidade psicológica no enfoque de temas aparentemente comuns.
A linguagem narrativa de Clarice é, às vezes, intensamente lírica, apresentando muitas metáforas e outras figuras de estilo. Há, por exemplo, alguns paradoxos e comparações insólitas, que realmente surpreendem o leitor. E também é peculiaridade da autora a construção de frases inconclusas e outros desvios da sintaxe convencional, além da criação de alguns neologismos.
Foco narrativo
Quanto à linguagem, o livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. Interessante notar que, antes de iniciar a narrativa e logo após a 'Dedicatória do autor', aparecem os treze títulos que teriam sido cogitados para o livro.
O recurso usado por Clarice Lispector é o narrador-personagem, pois conforme nos faz conhecer a protagonista, também nos faz conhecê-lo. Ele escreve para se compreender. É um marginalizado conforme lemos: "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens". Quanto à sua relação com Macabéa, ele declara amá-la e compreendê-la, embora faça contínuas interrogações sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória dela, sem saber exatamente o que lhe vai acontecer e torcendo para que não lhe aconteça o pior.
Macabéa, a protagonista, é uma invenção do narrador com a qual se identifica e com ela morre. A personagem é criada de forma onisciente (tudo sabe) e onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado da morte. A morte foi a hora de estrela.
O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa.
Além da alinearidade, há pelo menos três histórias encaixadas que se revezam diante dos nossos olhos de leitor:
1. A metanarrativa - Rodrigo S. M. conta a história de Macabéa: Esta é a narrativa central da obra: o escritor Rodrigo S.M. conta a história de Macabéa, uma nordestina que ele viu, de relance, na rua.
2. A identificação da história do narrador com a da personagem - Rodrigo S.M. conta a história dele mesmo: esta narrativa dá-se sob a forma do encaixe, paralela à história de Macabéa. Está presente por toda a narrativa sob a forma de comentários e desvendamentos do narrador que se mostra, se oculta e se exibe diante dos nossos olhos. Se por um lado, ele vê a jovem como alguém que merece amor, piedade e até um pouco de raiva, por sua patética alienação, por outro lado, ele estabelece com ela um vínculo mais profundo, que é o da comum condição humana. Esta identidade, que ultrapassa as questões de classe, de gênero e de consciência de mundo, é um elemento de grande significação no romance, Rodrigo e Macabéa se confundem.
3. A vida de Macabéa - O narrador conta como tece a narrativa.
Narrador e protagonista, inseridos em uma escrita descontínua e imprevisível, permitem ao leitor a reflexão sobre uma época de transição, de incoerência, como um movimento em busca de uma nova estruturação da obra literária similar à insegurança, à ansiedade e ao sofrimento. O tema é oferecido, socializando a possibilidade de ruptura.
O narrador revela seu amor pela personagem principal e sofre com a sua desumanização, mas, também, com a própria tendência em tornar-se insensível.
O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão, como recurso, das digressões, o que, aspectualmente parece dar à narrativa uma característica alinear. Não se engane: ele foge para o passado a fim de buscar informações.
Espaço / Tempo
O Rio de Janeiro é o espaço. Ocorre que o espaço físico, externo, não importa muito nesta história. O "lado de dentro"das criaturas é o que interessa aos intimistas.
Pelos indícios que o narrador nos oferece, o tempo é época em que Marylin Monroe já havia morrido - possivelmente a década de 60 em seu fim ou a de 70 em seus começos - mas faz ainda um grande sucesso como mito que povoa a cabeça e os sonhos de Macabéa.
Embora a história de Macabea seja profundamente dramática, a narrativa é toda permeada de muito humor e ironia. O próprio nome da protagonista constitui-se numa grande ironia (tragicomédia).
Personagens
Macabéa: Alagoana, 19 anos e foi criada por uma tia beata que batia nela (sobre a cabeça, com força); completamente inconsciente, raramente percebe o que há à sua volta. A principal característica de Macabéa é a sua completa alienação. Ela não sabe nada de nada. Feia, mora numa pensão em companhia de 3 moças que são balconistas nas Lojas Americanas (Maria da Penha, Maria da Graça e Maria José). Macabéa recebe o apelido de Maca e é a protagonista da história. Possivelmente o nome Macabéa seja uma alusão aos macabeus bíblicos, sete ao todo, teimosos, criaturas destemidas demais no enfrentamento do mundo; a alusão, no entanto, faz-se pelo lado do avesso, pois Macabéa é o inverso deles.
Olímpico: Olímpico se apresentava como Olímpico de Jesus Moreira Chaves. Trabalhava numa metalúrgica e não se classificava como "operário": era um "metalúrgico". Ambicioso, orgulhoso e matara um homem antes de migrar da Paraíba. Queria ser muito rico, um dia; e um dia queria também ser deputado. Um secreto desejo era ser toureiro, gostava de ver sangue.
Rodrigo S. M.: Narrador-personagem da história. Ele tem domínio absoluto sobre o que escreve. Inclusive sobre a morte de Macabéa, no final.
Glória: Filha de um açougueiro, nascida e criada no Rio de Janeiro, Glória rouba Olímpico de Macabéa. Tem um quê de selvagem, cheia de corpo, é esperta, atenta ao mundo.
Madame Carlota: É a mulher de Olaria que porá as cartas do baralho para "ler a sorte"de Macabéa. Contará que foi prostituta quando jovem, que depois montou uma casa de mulheres e ganhou muito dinheiro com isso. Come bombons, diz que é fã de Jesus Cristo e impressiona Macabéa. Na verdade, Madame Carlota é uma enganadora vulgar.
Outras personagens: As três Marias que moram com Macabéa no mesmo quarto, o médico que a atende e diagnostica a gravidade da tuberculose e o chefe, seu Raimundo, que reluta em mandá-la embora.
Enredo
Macabéa (Maca) foi criada por uma tia beata, após a morte dos pais quando tinha dois anos de idade. Acumula em seu corpo franzino a herança do sertão, ou seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheia de si e da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca se deu conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.
Ignorava até mesmo porque se deslocara de Alagoas até o Rio de Janeiro, onde passou a viver com mais quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha como datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que fica na Rua do Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio Relógio, especializada em dizer as horas e divulgar anúncios, talvez identificando com o apresentador a escassez de linguagem que a converte num ser totalmente inverossímil no mundo em que procura sobreviver. Tinha como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções de Hollywood na década de 1950.
Macabéa recebe de seu chefe, Raimundo Silveira, por quem ela estava secretamente apaixonada, o aviso de que será despedida por incompetência. Como Macabéa aceita o fato com enorme humildade, o chefe se compadece e resolve não despedi-la imediatamente.
Seu namorado, Olímpico de Jesus, era nordestino também. Por não ter nada que ajudasse Olímpico a progredir, ela o perde para Glória, que possuía atrativos materiais que ele ambicionava.
Glória, com certo sentimento de culpa por ter roubado o namorado da colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso, empresta-lhe dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro namorado. Macabéa vai, então, à cartomante, que, primeiro, lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta; depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, prediz-lhe um futuro maravilhoso, já que ela deveria casar-se com um belo homem loiro e rico - Hans - que lhe daria muito luxo e amor.
Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida de futuro', encantada com a felicidade que a cartomante lhe garantira e que ela já começava a sentir. Então, logo ao descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um luxuoso Mercedes Benz amarelo. Esta é a hora da estrela de cinema, onde ela vai ser "tão grande como um cavalo morto".
Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci”. Há uma situação paradoxal: ela só nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de sua morte. Por isso antes de morrer repete sem cessar:“Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou”.
Por ter definido a sua existência é que Macabéa pronuncia uma frase que nenhum dos transeuntes entende: “Quanto ao futuro.” (...) “Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.”
Com ela morre também o narrador, identificado com a escrita do romance que se acaba.
Guimarães Rosa
João Guimarães Rosa nasceu no dia 27 de junho de 1908, em Cordisburgo, Minas Gerais.
E desde pequeno era encantado por estudar outras línguas. Iniciou-se sozinho no estudo do francês. Um frade ensinou a ele o holandês e o ajudou a seguir no estudo do francês.
Após passar por alguns colégios, fixa-se em Belo Horizonte, onde completa o curso secundário em uma escola de padres alemães. Logo que ingressa, Guimarães Rosa começa o estudo de alemão.
Ainda nessa cidade, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, em 1925.
Nem tinha formado, quando em 1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como literário. Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao participar de concurso oferecido pela revista “O Cruzeiro”.
Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
Na data de seu aniversário e no ano de 1930, casa-se com a primeira esposa, Lígia Cabral Penna, com quem tem duas filhas: Vilma e Agnes. Forma-se no mesmo ano em Medicina e exerce sua função nas várias cidades do interior mineiro. Após presenciar as dificuldades de se trabalhar em lugares que não ofereciam condições e pessoas sofrendo e morrendo por causa disso, o autor abandona a Medicina, pois não consegue conviver com tal realidade.
Porém, trabalhou por alguns anos como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria, como concursado. Contudo, não presenciava as mazelas da Revolução Constitucionalista de 1932, ao contrário, dedicava-se a escrever mais contos, pois lhe sobrava tempo.
No entanto, percebe com o tempo que não tinha intimidade com aquele tipo de trabalho, senão com as letras. Então, por saber várias línguas, decide prestar concurso e ingressa na carreira diplomática, em 1934, quando serve na Alemanha, Colômbia e França.
Em 1936, participa de concursos literários que lhe rende prêmio da Academia Brasileira de Letras por “Magma”, uma coletânea de poemas. Após um ano, seu livro “Contos”, o qual mais tarde se chamaria Sagarana, ganhou o prêmio Humberto de Campos. O primeiro de tantos outros que recebeu por esta obra que reúne contos sobre a vida rural em Minas. É através desse livro que Guimarães Rosa começa a mostrar o regionalismo através da linguagem, característica maior do autor.
É em sua viagem à Europa, em 1938, que o escritor conhece Aracy Moebius de Carvalho, que viria a ser sua segunda mulher. Quando o Brasil rompe relações com a Alemanha, Guimarães Rosa é detido, juntamente com outros brasileiros, até que são soltos em troca de diplomatas alemães.
Depois disso, torna-se secretário da Embaixada de Bogotá, Colômbia, onde permanece por muitos anos. Vem ao Brasil somente em visitas ocasionais.
Retorna ao país de origem em definitivo somente no ano de 1951 e começa a investigar a vida sertaneja, os usos, os costumes, as crenças, as músicas e também a fauna e a flora. É quando escreve “Corpo de Baile”, dividida em três novelas: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão.
“Grande sertão: veredas” vem logo após e é aclamado pela crítica por suas inovações nas formas e na escrita. Além de receber prêmios por esta obra, Guimarães passa a ser reconhecido como especial dentro da 3ª geração pós-modernista.
O autor era extremamente místico, ligado a pensamentos supersticiosos. As crenças politeístas e os fluídos bons e maus faziam parte de sua vida. Assim, curandeiros, feiticeiros, quimbanda, umbanda, espiritismo e a força dos astros refletiam em concordância com as ideias deste autor.
Por este motivo, se estabelece uma relação entre a inovação na fala das personagens e o regionalismo envolto em um “sertão místico”, como denomina o autor José de Nicola.
A característica peculiar de Guimarães Rosa é o uso de neologismos, ou seja, da criação de palavras ou da recriação delas.
Veja um trecho em que Riobaldo, personagem do romance “Grande sertão: veredas”, expressa sua dúvida quanto à existência de Deus e do diabo:
“O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver - a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor..."
Após resistir um pouco, Guimarães Rosa assume a cadeira na Academia Brasileira de Letras, toma posse três dias antes de morrer. No seu discurso de posse, diz: "...a gente morre é para provar que viveu."
O autor faleceu de um mal súbito, em 19 de novembro de 1967; tinha 59 anos.
E desde pequeno era encantado por estudar outras línguas. Iniciou-se sozinho no estudo do francês. Um frade ensinou a ele o holandês e o ajudou a seguir no estudo do francês.
Após passar por alguns colégios, fixa-se em Belo Horizonte, onde completa o curso secundário em uma escola de padres alemães. Logo que ingressa, Guimarães Rosa começa o estudo de alemão.
Ainda nessa cidade, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, em 1925.
Nem tinha formado, quando em 1929, escreveu seus primeiros contos e deu início à sua carreira como literário. Já a princípio, ganhou prêmio em dinheiro pelos tais contos, ao participar de concurso oferecido pela revista “O Cruzeiro”.
Nesse período, suas obras, apesar de premiadas, não tinham a linguagem literária que representou um marco na literatura brasileira.
Na data de seu aniversário e no ano de 1930, casa-se com a primeira esposa, Lígia Cabral Penna, com quem tem duas filhas: Vilma e Agnes. Forma-se no mesmo ano em Medicina e exerce sua função nas várias cidades do interior mineiro. Após presenciar as dificuldades de se trabalhar em lugares que não ofereciam condições e pessoas sofrendo e morrendo por causa disso, o autor abandona a Medicina, pois não consegue conviver com tal realidade.
Porém, trabalhou por alguns anos como Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria, como concursado. Contudo, não presenciava as mazelas da Revolução Constitucionalista de 1932, ao contrário, dedicava-se a escrever mais contos, pois lhe sobrava tempo.
No entanto, percebe com o tempo que não tinha intimidade com aquele tipo de trabalho, senão com as letras. Então, por saber várias línguas, decide prestar concurso e ingressa na carreira diplomática, em 1934, quando serve na Alemanha, Colômbia e França.
Em 1936, participa de concursos literários que lhe rende prêmio da Academia Brasileira de Letras por “Magma”, uma coletânea de poemas. Após um ano, seu livro “Contos”, o qual mais tarde se chamaria Sagarana, ganhou o prêmio Humberto de Campos. O primeiro de tantos outros que recebeu por esta obra que reúne contos sobre a vida rural em Minas. É através desse livro que Guimarães Rosa começa a mostrar o regionalismo através da linguagem, característica maior do autor.
É em sua viagem à Europa, em 1938, que o escritor conhece Aracy Moebius de Carvalho, que viria a ser sua segunda mulher. Quando o Brasil rompe relações com a Alemanha, Guimarães Rosa é detido, juntamente com outros brasileiros, até que são soltos em troca de diplomatas alemães.
Depois disso, torna-se secretário da Embaixada de Bogotá, Colômbia, onde permanece por muitos anos. Vem ao Brasil somente em visitas ocasionais.
Retorna ao país de origem em definitivo somente no ano de 1951 e começa a investigar a vida sertaneja, os usos, os costumes, as crenças, as músicas e também a fauna e a flora. É quando escreve “Corpo de Baile”, dividida em três novelas: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão.
“Grande sertão: veredas” vem logo após e é aclamado pela crítica por suas inovações nas formas e na escrita. Além de receber prêmios por esta obra, Guimarães passa a ser reconhecido como especial dentro da 3ª geração pós-modernista.
O autor era extremamente místico, ligado a pensamentos supersticiosos. As crenças politeístas e os fluídos bons e maus faziam parte de sua vida. Assim, curandeiros, feiticeiros, quimbanda, umbanda, espiritismo e a força dos astros refletiam em concordância com as ideias deste autor.
Por este motivo, se estabelece uma relação entre a inovação na fala das personagens e o regionalismo envolto em um “sertão místico”, como denomina o autor José de Nicola.
A característica peculiar de Guimarães Rosa é o uso de neologismos, ou seja, da criação de palavras ou da recriação delas.
Veja um trecho em que Riobaldo, personagem do romance “Grande sertão: veredas”, expressa sua dúvida quanto à existência de Deus e do diabo:
“O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver - a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor..."
Após resistir um pouco, Guimarães Rosa assume a cadeira na Academia Brasileira de Letras, toma posse três dias antes de morrer. No seu discurso de posse, diz: "...a gente morre é para provar que viveu."
O autor faleceu de um mal súbito, em 19 de novembro de 1967; tinha 59 anos.
Principais Obras de João Guimarães Rosa
Magma (1936)
Sagarana (1946)
Com o Vaqueiro Mariano (1947)
Corpo de Baile (1956)
Grande Sertão: Veredas (1956)
Primeiras Estórias (1962)
Campo Geral (1964)
Noites do Sertão (1965)
Tutaméia – Terceiras Estórias (1967)
Estas Estórias (póstumo) (1969)
Ave, Palavra (póstumo) (1970)
Características da obra Grande Sertão Veredas de Guimarães Rosa
A obra, uma das mais importantes da literatura brasileira, é elogiada pela linguagem e pela originalidade de estilo presentes no relato de Riobaldo, ex-jagunço que relembra suas lutas, seus medos e o amor reprimido por Diadorim.
O romance "Grande Sertão: Veredas" é considerado uma das mais significativas obras da literatura brasileira. Publicada em 1956, inicialmente chama atenção por sua dimensão – mais de 600 páginas – e pela ausência de capítulos. Guimarães Rosa fundiu nesse romance elementos do experimentalismo linguístico da primeira fase do modernismo e a temática regionalista da segunda fase do movimento, para criar uma obra única e inovadora.
Narrador
O foco narrativo de "Grande Sertão: Veredas" está em primeira pessoa. Riobaldo, na condição de rico fazendeiro, revive suas pelejas, seus medos, seus amores e suas dúvidas. A narrativa, longa e labiríntica, por causa das digressões do narrador, simula o próprio sertão físico, espaço onde se desenrola toda a história.
A obra, na verdade, apresenta o diálogo entre Riobaldo e um interlocutor, que não se manifesta diretamente. Portanto, só é possível identificá-lo e caracterizá-lo por meio dos próprios comentários feitos por Riobaldo.
Tempo
Nessa narrativa, pode haver dificuldade de compreensão sobre a passagem do tempo. O motivo são a estrutura do romance, que não se divide em capítulos, e a narrativa em primeira pessoa, que permite digressões do narrador, alternando assim o tempo da narrativa a seu bel-prazer. No entanto, podemos dividir a obra, segundo alguns fatos marcantes do enredo, para facilitar a leitura:
1ª parte: introdução dos principais temas do romance: o povo; o sertão; o sistema jagunço; Deus e o Diabo; e Diadorim. Nesse primeiro momento, Riobaldo introduz também a figura do interlocutor, que, como foi dito, não aparece diretamente na obra.
2ª parte: inicia-se in medias res, ou seja, no meio da narrativa. Durante a segunda guerra, Riobaldo e Diadorim, chefiados por Medeiro Vaz, tentam vingar a morte de Joça Ramiro.
3ª parte: a narrativa retorna à juventude de Riobaldo, quando ele conheceu o “menino Reinaldo”, e, para o desespero de Riobaldo, que não sabe nadar, ambos atravessam o rio São Francisco numa pequena embarcação.
4ª parte: conflito entre Riobaldo e Zé Bebelo, no qual esse último perde a chefia, e Riobaldo-Tatarana é rebatizado como “Urutu Branco”.
5ª parte: epílogo. Riobaldo retoma o fio da narração do início, contando ao interlocutor seu casamento com Otacília e como herdou as fazendas do padrinho. Ele termina sua narrativa com a palavra “travessia”, que é seguida pelo símbolo do infinito.
Espaço
O espaço geral da obra é o sertão. Os nomes citados podem causar estranheza e confundir os leitores que desconhecem a região. É preciso entender, no entanto, que essa confusão criada pelos diversos nomes e regiões é proposital. Ela torna o enredo uma espécie de labirinto, como se fosse uma metáfora da vida. A travessia desse labirinto, por analogia, pode ser interpretada como a travessia da existência.
Podem ser listados alguns espaços da narrativa em que importantes ações do enredo se desenvolvem.
Chapadão do Urucúia: local da travessia do rio São Francisco, onde Riobaldo e Reinaldo/Diadorim se conhecem.
Fazenda dos Tucanos: espaço onde o bando liderado por Zé Bebelo fica preso, cercado pelo bando de Hermógenes, depois de cair em uma tocaia. Esse episódio da Fazenda dos Tucanos é marcante, por causa da sensação de claustrofobia descrita no texto. Preso na casa da fazenda por vários dias, o grupo liderado por Zé Bebelo é alvejado pelos inimigos.
Liso do Sussuarão: local da tentativa frustrada de travessia do bando de Medeiro Vaz (segunda parte) e conseqüente retirada.
Local da narração: fazenda de Riobaldo, localizada na beira do rio São Francisco, “a um dia e meio a cavalo”, no norte de Andrequicé.
Paredão: espaço da batalha final, onde Diadorim morre e termina a guerra.
Veredas Mortas: local do possível pacto de Riobaldo.
João Cabral de Melo Neto
João Cabral de Melo Neto (1920-1999) nasceu em Recife e é considerado um dos maiores poetas da Geração de 45, assim chamada por rejeitar os “excessos do modernismo” para elaborar uma poesia de rigor formal, construindo uma expressão poética mais disciplinada.
Desde cedo mostrou interesse pela palavra, pela literatura de cordel e almejava ser crítico literário. Conviveu com Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, que eram seus primos. Com apenas o curso secundário mudou-se para o Rio de Janeiro e ingressou no funcionalismo público. Três anos depois, através de concurso, mudou-se para o Itamarati, ocupando cargos diplomáticos e morando em várias cidades do mundo, como Londres, Sevilha, Barcelona, Marselha, Berna, Genebra.
Apesar de ser cronologicamente um poeta da Geração de 45, João Cabral seguiu um caminho próprio, recuperando certos traços da poesia de Drummond e Murilo Mendes, como a poesia substantiva e a precisão dos vocábulos, produzindo uma poesia de caráter objetivo numa linguagem sem sentimentalismo e rompendo com a definição de “poesia profunda” utilizada até então. Para o poeta, “a poesia não é fruto de inspiração em razão do sentimento”, mas de transpiração: “fruto do trabalho paciente e lúcido do poeta”.
A primeira obra de João Cabral, Pedra do sono (1945) apresenta uma declinação para a objetividade e imagem surrealista. Já em O engenheiro (1945), percebe-se que o poeta se afasta da linha surrealista, pendendo para a geometrização e exatidão da linguagem, como se ele próprio fosse o engenheiro, economizando as palavras (o material com se constrói) e a objetivação do poema (o propósito do uso do material – a construção terminada).
Nas suas principais obras, como O cão sem plumas (1950), O rio (1954), Quaderna (1960), Morte e vida severina (1965), A educação da pedra (1966), Museu de tudo (1975), A escola das facas (1980), Poesia crítica (1982), Agrestes (1985) e Andando em Sevilha (1990), o poeta revela uma preocupação com a realidade social, principalmente com a do Nordeste Brasileiro; reflete constantemente sobre a criação artística (Catar feijão – poema); aprimora a poética da linguagem objeto, definida como a linguagem que, pela própria construção, sugere de que assunto aborda (Tecendo a manhã – poema). Essa característica de sua obra constitui a principal referência do Movimento Concretista da década de 50 e 60 e de vários poetas contemporâneos, como Arnaldo Antunes.
Morte e vida severina (Auto de natal pernambucano) é a obra mais popular de João Cabral. Nela, o poeta mantém a tradição dos autos medievais, fazendo uso da musicalidade, do ritmo e das redondilhas, recursos que agradam o povo. Ela foi encenada pela primeira vez em 1966 no Teatro da PUC em São Paulo, com música de Chico Buarque. Foi premiada no Brasil e na França e, a partir daí, vem sendo encenada diversas vezes e até adaptada para a televisão.
O poema narra à caminhada do retirante Severino, desde o sertão até sua chegada em Recife e, além das denúncias de certos problemas sociais do Nordeste, constitui uma reflexão sobre a condição humana.
João Cabral é considerado pelos críticos “não apenas um dos maiores poetas sociais, mas um renovador consistente, instigante e original da dicção poética antes, durante e depois dele”. Ele e Graciliano Ramos possuem o mesmo grau ético e artístico, um na poesia, o outro na prosa, que objetiva com precisão uma prática poética comum: deram à paisagem nordestina, com suas diferenças sociais, uma das dimensões estéticas mais fortes, cruéis e indiscutíveis que já se conheceu.
Principais livros de João Cabral de Melo Neto
Poesia
Pedra do Sono (1942)
Os Três Mal-amados (1943)
O Engenheiro (1945)
Psicologia da Composição - com a Fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O livro inconsútil (1947)
O Cão Sem Plumas (1950)
O Rio ou Relação da Viagem que faz o Capibaribe de sua Nascente à Cidade do Recife (1954)
Dois Parlamentos (1960)
Quaderna (1960)
A Educação pela Pedra (1966)
Museu de Tudo (1975)
A Escola das Facas (1980)
Auto do Frade (1984)
Agrestes (1985)
Crime na Calle Relator (1987)
Primeiros Poemas (1990)
Sevilha Andando (1990) Poemas ReunidosPoemas reunidos (1954)
Duas águas (1956)
Terceira feira (1961)
Poesias completas (1968)
Poesia completa (1986)
Museu de tudo e depois (Poesia Completa II) (1988)
Poemas escolhidos (1963)
Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, (1965)
Os Três Mal-amados (1943)
O Engenheiro (1945)
Psicologia da Composição - com a Fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O livro inconsútil (1947)
O Cão Sem Plumas (1950)
O Rio ou Relação da Viagem que faz o Capibaribe de sua Nascente à Cidade do Recife (1954)
Dois Parlamentos (1960)
Quaderna (1960)
A Educação pela Pedra (1966)
Museu de Tudo (1975)
A Escola das Facas (1980)
Auto do Frade (1984)
Agrestes (1985)
Crime na Calle Relator (1987)
Primeiros Poemas (1990)
Sevilha Andando (1990) Poemas ReunidosPoemas reunidos (1954)
Duas águas (1956)
Terceira feira (1961)
Poesias completas (1968)
Poesia completa (1986)
Museu de tudo e depois (Poesia Completa II) (1988)
Poemas escolhidos (1963)
Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, (1965)
Fontes: www.scardomi.wordpress.com
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Questões sobre modernismo no Brasil
1) (FUVEST) Indique a alternativa em que a proximidade estabelecida está correta:
a) A terra paradisíaca, em Gonçalves Dias, é projeção nacionalista; a Pasárgada, de Manuel Bandeira, é anseio intimista.
b) O lirismo de Gregório de Matos é conflitivo e confessional; o de Cláudio Manuel da Costa é sereno e
impessoal.
c) A ficção regionalista, imatura no século XIX, ganho força ao abraçar as teses do determinismo cientifico, no século XX.
d) José de Alencar buscou expressar nossa diversidade cultural-projeto que só a obra de Machado de Assis viria a realizar.
e) A figura do malandro, positiva em Manuel Antonio de Almeida, é alvo de Mário de Andrade em sua sátira Macunaíma.
2) (UFC) Macunaíma é uma obra plural, composta, na medida em que:
a) Obedece às características circulares e fechadas do romance psicológico.
b) Como toda obra tradicional, observa a linearidade da narrativa onde cada personagem age em separado.
c) Aproxima técnicas românticas das modernas na estruturação do romance como um todo.
d) No corpo da narrativa, dá um tratamento único para cada personagem apresentada.
e) Tal como numa rapsódia, trata de vários temas ao mesmo tempo, entrelaçando-os numa rede múltipla de cores e sons os mais diversos.
3) (PUCCAMP) Assinale a alternativa em que se encontram preocupações estéticas da Primeira Geração Modernista:
a) “Não entrem no verso culto o calão e solecismo, a sintaxe truncada, o metro cambaio, a indigência das imagens e do vocabulário do pensar e do dizer.”
b) “Vestir a Ideia de uma forma sensível que, entretanto, não terá seu fim em si mesma, mas que, servindo para exprimir a Ideia, dela se tornaria submissa.”
c) “Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela; não abuso.” “E não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.”
d) “Na exaustão causada pelo sentimentalismo, a alma ainda tremula e ressoante da febre do sangue, a alma que ama e canta porque sua vida é amor e canto, o que pode senão fazer o poema dos amores da vida real?”
e) “O poeta deve ter duas qualidades: engenho e juízo; aquele, subordinado à imaginação, este, seu guia, muito mais importante, decorrente da reflexão. Daí não haver beleza sem obediência à razão, que aponta o objetivo da arte: a verdade.”
4) (PUC-MG) Leia o texto atentamente.
Na feira-livre do arrebaldezinho
um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
- “O melhor divertimento para as crianças!”
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres...
Não é característica presente na estrofe acima:
a) Valorização de fatos e elementos do cotidiano.
b) Utilização do verso livre.
c) Linguagem despreocupada, sem palavras raras.
d) Preocupação social.
e) Metalinguagem.
5) (ENEM) “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
[...]
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de janeiro: José Aguilar, 1974)
Com base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
Critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) Critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) Propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
6) (FUVEST) A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços de Família, seria correto afirmar:
a) Elabora o cotidiano em busca de seu significado oculto.
b) É altamente intimista, vasculhando o âmago das personagens com rara argúcia.
c) É regionalista hermética.
d) Opera na área da memória, da auto-análise e do devaneio.
7) "Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa."
(CLARICE LISPECTOR, "A Hora da Estrela")
Em "A Hora da Estrela", o narrador questiona-se quanto ao modo e, até, à possibilidade de narrar a história. De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de ser ele um narrador
a) iniciante, que não domina as técnicas necessárias ao relato literário.
b) pós-moderno, para quem as preocupações de estilo são ultrapassadas.
c) impessoal, que aspira a um grau de objetividade máxima no relato.
d) objetivista, que se preocupa apenas com a precisão técnica do relato.
e) autocrítico, que percebe a inadequação de um estilo sofisticado para narrar a vida popular.
8) (UFRJ) O ÚLTIMO POEMA
Assim eu quereria o meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples
[ e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os
[ diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem
[ explicação.
(MANUEL BANDEIRA, 'Libertinagem')
Neste texto, ao indicar as qualidades que deseja para o "último poema", o poeta retoma dois temas centrais de sua poesia. Um deles é a valorização da simplicidade; o outro é:
a) a verificação da inutilidade da poesia diante da morte.
b) a coincidência da morte com o máximo de intensidade vital.
c) a capacidade, própria da poesia, de eliminar a dor.
d) a autodestruição da poesia em um meio hostil à arte.
e) a aspiração a uma poesia pura e lapidar, afastada da vida.
9) No romance SERAFIM PONTE GRANDE, de Oswald de Andrade,
a) qual a relação existente entre Pinto Calçudo e Serafim?
b) por que Pinto Calçudo é expulso do romance?
c) por que essa expulsão confere ao romance um traço de vanguarda?
10) Os trecho a seguir foi extraído do conto FREDERICO PACIÊNCIA, do livro Contos Novos, de Mário de Andrade.
(... ) a mãe de Frederico Paciência morrera. (...) É indizível o alvoroço em que estourei, foi um deslumbramento, explodiu em mim uma esperança fantástica, fiquei tão atordoado que saí andando solto pela rua. (...) A mãe de Rico, que me importava a mãe de Frederico Paciência! E o que é mais terrível de imaginar: mas nem a ele o sofrimento inegável lhe importava: a morte lhe impusera o desejo de mim. Nós nos amávamos sobre cadáveres.
a) A que passagem do conto refere-se Juca quando afirma: "Nós nos amávamos sobre cadáveres"?
b) Qual a importância da passagem citada, e daquela que você identificou ao responder ao item a, acima, para compreender o desenvolvimento da amizade entre Juca e Frederico Paciência?
11) "Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupi or not tupi that is the question."
Identifique o autor desse manifesto modernista e comente as razões de sua publicação.
12) Como o próprio título indica, no "Romanceiro da Inconfidência", de Cecília Meireles, os romances têm como referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica do século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que,
a) a base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e amargo que caracteriza as outras obras da autora.
b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes de uma elaborada prosa poética.
c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos episódios essenciais da rebelião, alterando-lhes o rumo.
d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dos fatos centrais quanto motiva o lirismo reflexivo.
e) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático da vida, habitual na poesia da autora.
13) Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a novela "Campo geral" ("Miguilim"), de Guimarães Rosa:
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências imediatas do cotidiano, seja na investigação do valor e do sentido profundos dessas experiências.
II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre como experiência - o que pode ser compensado pela imaginação poética de quem sabe desligar-se daquela vida.
III. No momento final da narrativa, é em sentido literal e simbólico que um novo mundo se revela para Miguilim - mundo que também se abre para uma vida de novas experiências.
A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:
a) as afirmações I e III são corretas.
b) as afirmações I e II são corretas.
c) as afirmações II e III são corretas.
d) a afirmação II é correta.
e) a afirmação III é correta.
14) A característica modernista AUSENTE no poema de Manuel Bandeira é:
a) presença de elementos prosaicos.
b) liberdade formal e temática.
c) expressão da realidade urbana moderna.
d) aproximação da linguagem falada à literária.
e) nacionalismo engajado.
15) Algumas das características do Modernismo, que também aparecem no poema de Manuel Bandeira, são:
a) o uso de preciosismos na linguagem e revalorização de temas do passado.
b) a valorização literária da linguagem coloquial e dos fatos do cotidiano.
c) o uso de "barbarismos universais" e do "lirismo bem comportado".
d) o espírito polêmico e o lirismo intimista.
e) a valorização da consciência crítica e a idealização do cotidiano.
16) Com relação à linguagem, observamos no texto de Graciliano Ramos que
a) há alternância de períodos breves e longos com predominância da subordinação entre as orações; esse é um recurso de que se vale o autor para expressar as relações de causa e conseqüência entre os fatos.
b) a linguagem próxima da oralidade (e por isso mesmo permeada de incorreções gramaticais) é responsável por um estilo descuidado, característica da obra desse autor.
c) o emprego freqüente do ponto final tem como resultado a quebra da seqüência lógica; fraciona a linguagem da mesma forma que é fracionada a realidade que o autor quer retratar.
d) o autor utiliza períodos breves, obtendo o máximo de efeito com o mínimo de recursos; prefere usar substantivos a adjetivos.
e) na descrição do espaço e do tempo, o escritor seleciona o máximo de detalhes a fim de retratar fielmente a realidade, aumentando, com esse recurso, a sensação de veracidade.
17) (UEMA) Assinalar a alternativa que preenche corretamente as lacunas do seguinte fragmento:
"_____da autoria de_____publicado em_____, não possui capítulos conforme a norma aceita, numeração de seqüências ou títulos para elas. É um texto de ficção construído pelas cenas que fixam diretamente momentos, 'flashs', resgatando o passado, ou que são apresentados pelo narrador."
a) "Amar, verbo intransitivo" - Mário de Andrade - 1927
b) "Olhai os lírios do campo" - Érico Veríssimo - 1938
c) "Menino de Engenho" - José Lins do Rego - 1932
d) "Capitães da Areia" - Jorge Amado - 1937
e) "Serafim Ponte Grande" - Oswald de Andrade - 1933.
18) Relacionar autora e obra, colocando entre os parênteses o número correspondente à autora:
I. Rachel de Queiroz
II. Clarice Lispector
III. Lygia Fagundes Telles
IV. Cecília Meireles
V. Adélia Prado
( ) 1. "As meninas"
( ) 2. "Romanceiro da Inconfidência"
( ) 3. "Laços de família"
( ) 4. "Os componentes da banda"
( ) 5. "As três Marias"
Verificamos que a seqüência correta é:
a) I.2 - II.4 - III.3 - IV-1 - V.5
b) I.4 - II.1 - III.5 - IV.3 - V.2
c) I.5 - II-3 - III.1 - IV.2 - V.4
d) I.3 - II.2 - III.4 - IV.5 - V.1
e) I.1 - II.5 - III.2 - IV.4 - V.3.
19) Trata-se do último livro publicado par Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabea que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade."
As afirmações acima referem-se à obra:
a) "A Hora da Estrela"
b) "Perto do Coração Selvagem"
c) "A maçã no escuro".
d) "A Paixão Segundo G. H."
e) "Laços de Família".
20) Assinalar a alternativa incorreta, quanto aos princípios básicos divulgados pelos participantes da Semana da Arte Moderna:
a) Desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do academismo, a emoção e a realidade do país;
b) Rejeição dos padrões portugueses, buscando uma expressão mais coloquial, próxima do falar brasileiro;
c) Combate a tudo que indicasse o "statu quo", o conhecido;
d) Manutenção da temática simbolista e parnasiana;
e) Valorização do prosaico e do humor, que, em todas as suas gamas, lavou e purificou a atmosfera sobrecarregada pelos acadêmicos.
21) Nos poemas, contos e romances cuja temática é nordestina, a literatura moderna apresenta a NATUREZA quase sempre inóspita, agressiva. Qual dos fragmentos não justifica esta afirmação?
a) "Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os dois meninos."
(Graciliano Ramos, em "VIDAS SECAS").
b) "Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã."
(José Américo de Almeida, em "A BAGACEIRA")
c) "Tirei mandioca de chãs
que o vento vive a esfolar
e de outras escalavradas
pela seca faca solar"
(João Cabral de Melo Neto, em "MORTE E VIDA SEVERINA")
d) "Debaixo de um juazeiro grande, todo um bando de retirantes se arranchara (...) Em toda a extensão da vista, nem uma outra árvore surgia. Só aquele velho juazeiro, devastado e espinhento, verdejaria a copa hospitaleira na desolação cor de cinza da paisagem "
(Rachel de Queiroz, em "O QUINZE")
e) "Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco (...)
Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale."
(Ferreira Gullar em "O AÇÚCAR")
22) As afirmações a seguir são do escritor Mário de Andrade, e referem-se a obras suas:
I. Evidentemente não tenho a pretensão de que meu livro sirva pra estudos científicos e folclore. Fantasiei quando queria e sobretudo quando carecia pra que a invenção permanecesse arte e não documentação seca de estudo. Basta ver a macumba carioca desgeograficada com cuidado, com elementos dos candomblés baianos e das pagelanças paraenses.
II. Carlos carece de espelho e tem vergonha de se olhar nele, falo eu no meu jogo de imagens, depois de qualquer ação desonesta. Por isso se conserva honesto para poder olhar no espelho. A honestidade dele é uma secreção biológica. Pentear sem espelho na frente faz o repartido sair torto e isso deixa os cabelos doendo. Na própria página em que "inventei" o crescimento de Carlos, inculco visivelmente que ele vai ser honesto na vida por causa das reações fisiológicas. Porém não me conservei apenas nesse naturalismo que repudio, não.
III. Estou na segunda parte, já escrevi 50 páginas e inda não descrevi a primeira cena da parte que é Chico Antônio na fazenda acalmando os bois irritados com a morte dum novilho. A não ser algumas análises psicológicas mais fundas, o resto é descrição da realidade tal como é, só pra que a realidade atual fique descrita e se grave.
(Mário de Andrade fala de "Amar,verbo intransitivo".)
a) em I, II e III.
b) apenas em II e III.
c) apenas em I e II.
d) apenas em II.
e) apenas em I.
23) (UNB) Leia com atenção o seguinte trecho de SÃO BERNARDO, de Graciliano Ramos:
Tive por esse tempo a visita do Governador do Estado. Fazia três anos que o açude estava concluído - burrice, na opinião do Fidélis.
- Para que açude onde corre um riacho que não seca?
Realmente parecia não servir. Mas saiu dali, numa levada, a água que foi movimentar as máquinas do descaroçador e da serraria.
O Governador gostou do pomar, das galinhas Orpington, do algodão e da mamona, achou conveniente o gado limosino e pediu-me fotografias e perguntou onde ficava a escola. Respondi que não ficava em parte nenhuma. No almoço, que teve champanhe, o Dr. Magalhães gemeu um discurso. S.Exa. tornou a falar na escola. Tive vontade de dar uns apartes, mas contive-me.
Escola! Que me importava que os outros soubessem ler ou fossem analfabetos? (...)
E fui mostrar ao ilustre hóspede a serraria, o descaroçador, o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do Governador para certos favores que eu tencionava solicitar.
- Pois sim senhor. Quando V. Exa. vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha. (...)
S. Exa. despediu-se e aquela data ficou célebre. Os automóveis rolaram na estrada. Olhando a nuvem de poeira que levantavam, esfreguei as mãos:
- Com os diabos! Esta visita me traz uma penca de vantagens. Um capital. Quero ver quanto rende.
As afirmações a seguir estabelecem relações entre o excerto dado e desdobramentos do romance.
I. Paulo Honório revela aqui seu lado de fazendeiro pragmático, preocupado com novas técnicas de produção e com a capitalização de influências políticas - esta última a razão que vê para criar uma escola, ocasião em que conhece Madalena e em que se inicia a crise de seus valores e de sua vida.
II. Ao contrário de Seu Ribeiro, personagem derrotada pelos costumes novos e pelo progresso da cidade, Paulo Honório é homem calculista, empreendedor, sem escrúpulos humanitários - características de frieza que serão progressivamente abaladas pelos novos sentimentos que Madalena lhe despertará.
III. Paulo Honório efetivamente construirá a escola aqui aludida, para cujo funcionamento contará primeiro com Padilha, ex-proprietário de São Bernardo, e em seguida com Madalena - ambos, por razões diversas, opositores das idéias que tem o fazendeiro sobre educação e direitos dos trabalhadores.
Pode-se afirmar que
a) apenas I está correta.
b) apenas I e II estão corretas.
c) apenas I e III estão corretas.
d) apenas II e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.
24) O nome de Oswald de Andrade está sobretudo associado:
a) a um novo tratamento ficcional do regionalismo nordestino.
b) a poemas líricos que ainda carregam influência simbolista.
c) ao jornalismo político, demolidor, de denúncia social.
d) a um nacionalismo que resgata em sua pureza o indianismo romântico.
e) a uma revolução bem-humorada da linguagem da poesia e do romance.
25) Na primeira fase do Modernismo no Brasil,
a) impuseram-se os nomes pioneiros de Monteiro Lobato, Euclides da Cunha e Coelho Neto.
b) firmou-se uma nova tendência do romance regionalista, com Graciliano Ramos e José Lins do Rego.
c) propuseram-se idéias e obras revolucionárias, como MACUNAÍMA e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR.
d) promoveu-se o surgimento de ficcionistas renovadores, mas em nada foi afetada a linguagem dos poetas.
e) propiciou-se a renovação da literatura, não ocorrendo o mesmo com a música e a pintura.
26) :Refere-se a José Lins do Rego a seguinte afirmação:
a) Tão próximo do estilo oral, ele nos narra o que viu e o que sabe da vida do nordeste, sobretudo da agonia dos engenhos e das personagens que não se livram do peso do passado.
b) Suas personagens podem parecer secas como a natureza da caatinga, mas isso não lhes elimina a complexidade psicológica, que este autor faz ver com seu estilo duro, preciso, objetivo.
c) Ninguém o superou em sua forma de ironizar, em sua capacidade de tratar dos assuntos mais graves com um humor impiedoso, fruto da inteligência e da melancolia.
d) Em seus contos de estréia já se podia prever o grande romancista, podia-se pressentir o fôlego maior de uma linguagem revolucionária, aberta à invenção e ao falar sertanejo das suas Gerais.
e) Seu regionalismo é saboroso e arrebatador, transportando-nos para o tempo heroico das sagas gaúchas e fazendo-nos viver as histórias violentas das famílias em conflito.
27) "Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do Antropófago."
O fragmento acima é um dos muitos que compõem um importante manifesto modernista, no qual:
a) Oswald de Andrade proclama a supremacia criativa do nosso primitivismo sobre a cultura européia.
b) Monteiro Lobato reage violentamente contra uma exposição de quadros de Anita Malfatti.
c) Mário de Andrade busca definir aspectos técnicos da nova estética.
d) Cassiano Ricardo assinala sua adesão ao nacionalismo de características ufanistas.
e) Manuel Bandeira abandona o estilo neo-simbolista e proclama seu lirismo coloquial.
28) Na década de 30, revelaram-se escritores que souberam revitalizar as conquistas estéticas e culturais da primeira fase do Modernismo, tais como os autores de,
a) SAGARANA e LAÇOS DE FAMÍLIA.
b) MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR e CONTOS NOVOS.
c) TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA e CANAÃ.
d) MENINO DE ENGENHO e O QUINZE.
e) PAULICÉIA DESVAIRADA e MARTIM-CERERÊ.
29) Todas as afirmativas contêm informações corretas sobre INFÂNCIA, de Graciliano Ramos, EXCETO
a) Apresenta uma crítica profunda ao sistema familiar e educacional da época.
b) É um livro de memórias, em que se identificam autor, narrador e objeto da narrativa.
c) Recupera um período de vida do narrador que vai, aproximadamente, dos três anos ao princípio da adolescência.
d) Relata tanto as dificuldades escolares do protagonista, quanto os seus primeiros contatos com a literatura.
e) Trata-se de um relato memorialista de caráter essencialmente histórico e social.
30) Em relação ao Modernismo, podemos afirmar que em sua primeira fase há:
a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita, valorizando-se literariamente o nível coloquial.
b) pouca atenção ao valor estético da linguagem, privilegiando o desenvolvimento da pesquisa formal.
c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.
d) reconquista do verso livre.
e) ausência de inspiração nacionalista.
31) Quais desses fragmentos resumem propostas do Modernismo brasileiro.
I- "A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como somos."
II- "Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Maris."
III- "A pena é um pincel."
Eu limo sonetos engenhosos e frios."
IV- "Nomear um objeto significa suprimir as três quartas partes do gozo de uma poesia, que consiste no prazer de adivinhar pouco a pouco. Sugerir, eis o sonho."
V- "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos."
a) I, III e IV.
b) II, III e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e V.
e) II, IV e V.
32) A 29 de Janeiro de 1922, o ESTADO DE SÃO PAULO noticiava:
"Por iniciativa do festejado escritor, Sr. Graça Aranha, haverá em São Paulo uma SEMANA DE ARTE MODERNA, em que tomarão parte os artistas que, em nosso meio, representam as mais modernas correntes artísticas."
( ) O Primitivismo nacionalista da Antropologia e do Verde-Amarelismo foi a primeira diversificação, em correntes, do Modernismo.
( ) Logo após a Semana de que fala o texto, nas revistas do movimento (Klaxon e Estética) começaram-se a vislumbrar as primeiras tendências dos autores de então.
( ) Oswald de Andrade e Raul Bopp pretenderam um retorno às raízes primitivas, autênticas e selvagens de nossa nacionalidade. Seu lema era "Tupy or not Tupy, that is the question."
( ) Menotti del Pichia e Plínio Salgado focalizaram as fontes nacionalistas, na valorização da raça, do sangue e dos heróis nacionais.
( ) A Semana reuniu jovens modernistas numa exposição de arte literária, plástica, musical e de dança, mas não pode ser considerada como início oficial do Modernismo brasileiro.
33) :I - "Está fundado o desvairismo."
II - "Tupi, or not Tupi that is the question."
III - "Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."
Os períodos acima expressam idéias próprias da primeira geração modernista.
Seus autores são, respectivamente:
a) Oswald de Andrade, Manuel Bandeira e Mário de Andrade.
b) Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e Cassiano Ricardo.
c) Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
d) Raul Bopp, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.
e) Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo e Mário de Andrade.
34) É traço do Modernismo brasileiro:
a) o conformismo temático e estilístico
b) rigidez formal, principalmente na poesia
c) apego a temas bíblicos e formas parnasianas
d) liberdade de expressão no conteúdo e na forma.
35) A correspondência entre obra e autor está correta em:
a) "Incidente em Antares" - Érico Veríssimo
b) "Quincas Borba" - Coelho Neto
c) "Sargento Getúlio" - Jorge Amado
d) "Vila dos Confins" - Graciliano Ramos
36) (UFPR) TOCAIA GRANDE
No deslumbre da lua cheia cravada sobre a terra violada, sobre o rio assassinado, sobre a morte desatada, na hora da meia-noite, junto ao pé de mulungu, no alto do Outeiro do Capitão, Jacinta Coroca e Natário da Fonseca, ela com a repetição, ele com o parabelo, na tocaia, usufruíam a beleza da paisagem. Lá embaixo, jazia Tocaia Grande ocupada pelos jagunços e pelos cabras da Briosa.
- O melhor de tudo - disse Coroca -, não tem nada que se compare, é aparar menino. Ver aquele peso de carne saído de um bucho de mulher, mexer na mão da gente, vivinho. Até dá vontade de chorar. No primeiro que peguei, caí no choro.
O capitão deixou transparecer nos lábios o fio do sorriso:
- Tu pegou um bocado de menino. Tu virou uma senhora dona.
- Nós mudou e cresceu com o lugar. Tu também, Natário, não é o mesmo cabra ruim de dantes.
- Possa ser.
Houve um breve silêncio e, vinda do rio, na noite estival, a viração os envolveu numa carícia morna e espalhou no ar o perfume do jasmineiro. (p. 420)
A partir do fragmento anterior e do conjunto da obra TOCAIA GRANDE: A FACE OBSCURA, de Jorge Amado, são CORRETAS as proposições:
01. Trata-se de uma história ficcional em que o narrador está ausente e não é personagem da ação, isto é, narrativa em terceira pessoa, mas é ele quem descreve a paisagem e dá voz a todos os personagens.
02. Na realidade inventada de TOCAIA GRANDE há uma série de passagens sentimentais relacionadas à natureza, que permitem dizer que a prosa apresenta características poéticas.
04. A personagem Jacinta Coroca ganha profundidade e poder de convicção, quando mostra não só a face da violência e do banditismo, mas a da emoção pelo nascimento de uma nova vida.
08. Há uma opção por uma linguagem modernista, repleta de frases curtas, telegráficas, sem verbos, que busca a desmontagem da paisagem e o esvaziamento das características regionais dos personagens.
16. Em TOCAIA GRANDE, há uma preocupação por parte do narrador em descrever a paisagem e os personagens através de pormenores ou detalhes, o que proporciona a inserção da obra de Jorge Amado na exploração literária do contexto baiano.
Soma ( )
37) (UFPR) Assinale as proposições em que o comentário está de acordo com o texto de Vinícius de Moraes.
01. De repente do riso fez-se o pranto/ Silencioso e branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a espuma/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto. Nesses versos, o poeta usa, a exemplo dos parnasianos e simbolistas, vocabulário coloquial e simples, próprio da linguagem cotidiana. Não há rimas.
02. Notou que sua marmita/ Era o prato do patrão/ Que sua cerveja preta/ Era o uísque do patrão/ Que seu macacão de zuarte/ Era o terno do patrão/ Que o casebre onde morava/ Era a mansão do patrão/ Que seus dois pés andarilhos/ Eram as rodas do patrão/ Que a dureza do seu dia/ Era a noite do patrão/ (...) E o operário disse: Não! A exemplo de padre José de Anchieta, do Barroco, que em SERMÕES procurou mostrar as disparidades sócio-econômicas entre os índios e os colonizadores portugueses no século XIX, Vinícius de Moraes, no poema OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, procurou registrar o contraste existente entre operário e patrão.
04. O poeta reinterpreta o Natal, fazendo alusão ao comunismo, nos seguintes versos:
Nasceu num estábulo/ Pequeno e singelo/ Com boi e charrua/ Com foice e martelo.
08. Em E agora José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?, Vinícius manifesta o desejo de morrer, uma das características da literatura parnasiana.
16. Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas/ Cegas inexatas... são versos do poema A ROSA DE HIROSHIMA.
Soma ( )
38) O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora e dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. (...) Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte.
O fragmento acima ilustra o tema e o estilo que notabilizaram
a) João Guimarães Rosa.
b) José Lins do Rego.
c) Graciliano Ramos.
d) Jorge Amado.
e) João Cabral de Melo Neto.
39) As afirmações a seguir referem-se à obra "Memórias Sentimentais de João Miramar" de Oswald de Andrade:
I - A obra representa um dos pontos mais altos de criação do modernismo brasileiro e entra em sintonia com as vanguardas européias do começo do século.
II - A obra faz uso da paródia como recurso literário, o que pode ser observado, por exemplo, nos discursos a cartas transcritas no decorrer do romance.
III - A obra rompe com as regras de pontuação, transgride os esquemas de tradição romanesca e, ao mesmo tempo, reforça os limites entre poesia a prosa.
A leitura da obra permite concluir que apenas
a) as afirmações I e III são corretas.
b) as afirmações II e III são corretas.
c) as afirmações I e II são corretas.
d) a afirmação II é correta.
e) a afirmação III é correta.
40) Ficou conhecido como "Geração de 30", na prosa modernista, um grupo de escritores que refletiu a problemática político-social do Brasil da época.
Não faz parte de tal geração:
a) Graciliano Ramos
b) José Lins do Rego
c) Jorge Amado
d) João Guimarães Rosa
e) Rachel de Queiroz
41) Toda época literária mantém um diálogo com fases anteriores, tanto em relação à escolha temática quanto em relação ao aproveitamento de recursos formais. Qual a observação INCORRETA na relação entre os estilos de época?
a) A poesia da década de 1930 filia-se à experiência do Parnasianismo.
b) O romance de 30 aprofunda a perspectiva do Realismo.
c) A poesia concreta valoriza os processos lúdicos do Barroco.
d) O Modernismo de 22 redimensiona a preocupação nacionalista do Romantismo.
e) A poesia de 45 rompe com a liberdade formal do Modernismo.
42) O autor brasileiro de "A ESCRAVA QUE NÃO É ISAURA":
a) Bernardo Guimarães
b) Mário de Andrade
c) Oswald de Andrade
d) Olavo Bilac
e) Carlos Drummond de Andrade.
43) Dentre as obras de José Lins do Rego, podemos citar: MENINO DO ENGENHO, O MOLEQUE RICARDO e USINA.
II - Érico Veríssimo é contemporâneo de Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos.
III - A poesia concreta, ou Concretismo, impôs-se, a partir de 1956, como uma das expressões mais vivas e atuantes de nossa vanguarda estética.
Quanto às afirmações anteriores, assinale:
a) se todas estão corretas.
b) se apenas I e II estão corretas.
c) se apenas II e III estão corretas.
d) se apenas I e III estão corretas.
e) se todas estão incorretas.
44) No início do século XX, várias tendências estéticas surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro.
Não faz parte delas o:
a) Dadaísmo.
b) Expressionismo.
c) Futurismo.
d) Cubismo.
e) Determinismo.
45) Sobre "Fogo morto", é correto afirmar que
a) o caráter estanque de suas partes constitutivas é sublinhado pela mudança do foco, narrativo em cada uma delas, indo da primeira à terceira pessoa narrativas.
b) a relativa descontinuidade de sua divisão tripartite é contrastada pela recorrência de temas e motivos internos que atravessam todo o romance.
c) o caráter descontínuo e inconcluso de seu enredo é compensado pelas reflexões do narrador-personagem, que conferem finalização e acabamento ao romance.
d) o caráter estanque de sua divisão tripartite é, no entanto, convertido à unidade pela comunicabilidade e entendimento mútuo das personagens principais.
e) a cada uma das classes sociais nele representadas, o romance reserva um estilo de narrar próprio: erudito para os senhores de engenho, oral-popular para as camadas humildes e cangaceiros.
46) (UDESC 2010)
As proposições abaixo se referem ao Modernismo e aos seus Manifestos. Assinale a alternativa incorreta.
a) O Manifesto Verde-Amarelo, formado por um grupo de escritores jovens, surgiu logo depois do Movimento Pau-Brasil e tinha como objetivo dar continuidade ao Romantismo, que focava o homem português como herói nacional.
b) Na “Grande Noite” da Semana da Arte Moderna, Menott del Picchia fora vaiado ao apresentar o seu discurso, ilustrado com alguns poemas e excertos.
c) O Manifesto Pau-Brasil (1924) propunha uma literatura autenticamente nacionalista com base nas características do povo brasileiro e combatia a influência estrangeira na literatura.
d) A ideia do Manifesto Antropofágico surgiu quando Tarsila do Amaral presenteou seu marido, Oswald de Andrade, com a sua obra – a tela Abaporu.
e) O Movimento da Escola da Anta, que fazia parte do Manifesto Verde-Amarelo, representava a proposta do nacionalismo primitivo, elegendo como símbolo nacional a anta, além de valorizar a língua indígena “tupi”.
47) (ITA) – Assinale a melhor opção, considerando as seguintes asserções sobre Fabiano, personagem de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:
I) Devido às dificuldades pelas quais passou no sertão, tornou- se um homem rude, mandante da morte de vários inimigos seus.
II) Comparava-se, com orgulho, aos animais, pois era um homem errante que vivia fugindo da seca.
III) Sentia-se fraco para exigir seus direitos diante de patrões e autoridades, por isso não se considerava um homem, mas um bicho.
Está (ão) correta(s):
a) Apenas a I.
b) Apenas a III.
c) I e III.
d) Apenas a III.
e) I e III.
48) (PUC-RS)
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
Uma das constantes na obra poética de Carlos Drummond de Andrade, como se verifica nos versos transcritos, é:
a) louvação do homem social
b) o negativismo destrutivo
c) a violação e desintegração da palavra
d) o questionamento da própria poesia.
e) o pessimismo lírico.
49) (UNIARAXÁ) Leia o fragmento abaixo transcrito da obra “Vidas Secas” e responda à questão a seguir:
Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado, para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes, utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admira as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas. (Graciliano Ramos)
No texto, a referência aos pés:
a) Constitui um jogo de contrastes entre o mundo cultural e o mundo físico do personagem.
b) Acentua a rudeza do personagem, em nível físico.
c) Justifica-se como preparação para o fato de que o personagem não estava preparado para caminhada.
d) Serve para demonstrar a capacidade de pensar do personagem.
e) nda.
Texto para as questões 03 e 04
SENTIMENTAL
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
Neste país é proibido sonhar.
50) (PUCCAMP) Este poema é caracteristicamente modernista, porque nele:
a) A uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos experimentados pelo poeta.
b) Tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da linguagem surrealista.
c) Satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia clássica.
d) A linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo encarnado na cena cotidiana.
e) O dia-a-dia surge como novo palco das sensações poéticas, sem imprimir a alteração profunda na linguagem lírica.
51) (PUCCAMP) Destacam-se neste poema características marcantes do Drummond modernista. São elas:
a) A tendência metafísica, o discurso sentencioso e o humor sutil.
b) A memória familiar, o canto elegíaco e a linguagem fragmentada.
c) A exposição da timidez pessoal, a fala amargurada e a recuperação da forma fixa.
d) A preocupação de cunho social, o pessimismo e a desintegração do verso.
e) O isolamento da personalidade lírica, a ironia e o estilo prosaico.
52) FATEC)
E o olhar estaria ansioso esperando
e a cabeça ao sabor da mágoa balançado
e o coração fugindo e o coração voltando
e os minutos passando e os minutos passando...
(Vinícius de Moraes, O olhar para trás)
A figura de linguagem que predomina nestes versos é:
a) A metáfora, expressa pela analogia entre o ato de esperar e o ato de balançar.
b) A sinestesia, manifestada pela referência à interação dos sentidos: visão e coração no momento de espera.
c) O polissíndeto, caracterizado pela repetição da conjunção coordenada aditiva e, para conotar já
intensidade da crescente sensação de ansiedade contraditória do ato de esperar.
d) O pleonasmo, marcado pela repetição desnecessária da conjunção coordenada sindética aditiva e.
e) O paradoxo, expresso pela contradição das ações manifestadas pelos verbos no gerúndio.
53) (UFSM-RS-adaptada) Assinale a alternativa incorreta a respeito da poesia de Carlos Drummond de Andrade:
a) O jogo verbal, em alguns poemas, acentua a relativização das várias faces da realidade.
b) O sujeito poético, várias vezes, reveste suas expressões de um fino traço de humor.
c) O sujeito poético, constantemente, transmite sensações de dúvida e de negação.
d) Os versos que contêm uma ênfase mística podem ser vistos como produtos do fervor católico do poeta.
e) Importantes poemas publicados na década de 1940 tratam de temas de caráter social.
54) (UFPE) "Pus meu sonho num navio
e o navio em cima do mar
- depois abri o mar com as mãos
para o meu sonho naufragar"
(Cecília Meireles)
Os versos acima fazem parte da poética de Cecília Meireles. Dessa autora, é incorreto dizer que:
a) conservou os laços com o Simbolismo, o que se evidencia na sua visão de mundo, na sua linguagem e na sua estética.
b) revelou predileção por imagens a partir da música, da água, do ar, do mar, do vento, do espaço.
c) foi hábil na utilização de versos curtos, de grande musicalidade e apurada seleção vocabular.
d) como uma de suas opções poéticas, sobressai a evasão pelo sonho.
e) manteve uma atitude constante de distanciamento do tema em sua poesia lírica.
55) (UFPE) O romance regional de 30 constituiu a Segunda Fase do Modernismo Brasileiro.
Estabeleça a relação entre dois dos principais autores e as características de suas obras.
1) Graciliano Ramos
2) José Lins do Rego
( ) Como romancista, suas obras mais marcantes estão reunidas no ciclo da cana-de-açúcar, quando escreveu sobre a vida nos engenhos de açúcar do Nordeste.
( ) Entre suas obras principais, estão "São Bernardo", "Vidas Secas" e o autobiográfico "Memórias do Cárcere". Escreve sobre o universo rural nordestino, sem qualquer traço de nostalgia.
( ) Em seus romances, o psicológico e o social se interrelaciona de forma tão contínua que é difícil estabelecer separações.
( ) Partindo de experiências autobiográficas, escreveu romances onde o memorialismo predominava sobre a pura ficção. Escreveu "Fogo Morto", sua obra prima.
A seqüência correta é:
a) 1, 2, 1 e 2
b) 2, 1, 2 e 1
c) 1, 2, 2 e 1
d) 2, 1, 1 e 2
e) 1, 1, 2 e 2
Gabarito:
1) A 2) E 3) C 4) E 5) E 6) B 7) E 8) B 9) a) Pinto Calçudo era amigo e secretário de Serafim. b) Porque estava em vias de tornar-se personagem principal.
c) Porque ocorre como metalinguagem. 10) a) À passagem da morte do pai de Frederico. b) A amizade entre os dois surge e se fortalece diante da necessidade de consolo gerada pelas mortes. 11) Oswald de Andrade faz seu manifesto como resposta ao nacionalismo ufanista e primitivo da Escola da Anta. 12) D 13) A 14) E 15) B 16) D 17) A 18) C 19) A
20) D 21) E 22) D 23) E 24) E 25) C 26) A 27) A 28) D 29) E 30) A
31) D 32) F V V V F 33) C 34) D 35) A 36) 01 + 02 + 04 + 16 = 23
37) 04 + 16 = 20 38) A 39) C 40) D 41) A 42) B 43) A 44) E 45) B
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