Mauro Mota (1911-1984) foi um jornalista, professor, poeta, cronista, ensaísta e memorialista brasileiro. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 21 de junho de 1955, ocupando a Cadeira nº 26.
Mauro Mota (1911-1984) nasceu no Engenho Buraré, Pernambuco, no dia 16 de agosto de 1911. Filho do promotor público José Feliciano da Mota Albuquerque e de Aline Ramos da Mota Albuquerque. Fez seus estudos primários em Nazaré da Mata e no Recife. Ingressou no colégio Salesiano, onde escreveu seus primeiros versos, no jornal O Colegial, dirigido pelo padre Nestor de Alencar.
Mauro Mota casou-se muito jovem, com Hermantine Cortez, com quem teve dois filhos. Formou-se em Direito, em 1937, pela Faculdade de Direito do Recife. A morte de sua esposa, inspirou-o em inúmeras poesias.
Dedicou-se ao ensino, à literatura e ao jornalismo. Foi professor de história e geografia em vários colégios pernambucanos, entre elas a Escola Normal, na qual conquistou a cátedra com a tese O Cajueiro Nordestino.
Como jornalista foi secretário e redator-chefe do Diário da Manhã. Com o Estado Novo, passou para o Diário de Pernambuco, chegando a diretor, em 1956. No Diário de pernambuco dedicou-se ao suplemento literário, abrindo caminho para as novas gerações.
Sua contribuição literária foi das mais importantes tanto para a prosa como em verso. Publicou "A Tecelã", "Os Epitáfios" e "O Galo e o Catavento". Em prosa destacam-se "Geografia Literária" e "Paisagem das Secas".
Mauro Mota foi superintendente do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, entre 1956 e 1970. Foi diretor do Departamento de Documentação e Cultura da Cidade do Recife e do Arquivo Público Estadual de Pernambuco, de 1972 a 1984.
Foi casado pela segunda vez, com a pintora e cronista Marly Mota, com quem teve quatro filhos. Foi membro da Academia Pernambucana de Letras, sendo seu presidente por mais de dez anos. No dia 5 de janeiro de 1970, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Recebeu o Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras, o Prêmio da Academia Pernambucana de Letras por seu poema Elegias, o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio Pen Clube do Brasil pelo livro Itinerário.
Mauro Ramos da Mota e Albuquerque faleceu no Recife, no dia 22 de novembro de 1984.
Obras de Mauro Mota
Elegias (Rio de Janeiro, Jornal das Letras, 1952)
- A Tecelã (Recife, o Gráfico Amador, 1956)
- Os epitáfios (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1959)
- Capitão de Fandango (Crônicas). Recife, Ed. Concórdia, 1960
- O Galo e o cata-vento (Rio de Janeiro, Livros de Portugal, 1962)
- Canto ao meio (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964)
- O Pátio Vermelho: crônicas de uma pensão de estudantes (Crônicas). Rio de Janeiro, Orfeu, 1968
- Poemas Inéditos (Université de Toulouse, Institut d'Etunes Hispaniques, Hispano-Américaines et Luso Brésiliennes, 1970)
- Itinerário (Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1975)
- Pernambucânia ou cantos da comarca e da memória (Rio de Janeiro/ Brasília, Livraria José Olympio Editora/ INL-MEC, 1979)
- Pernambucânia dois (Recife, Edições Pirata, 1980)
- Obra Poética Mauro Mota (Recife, Luci Artes Gráficas, 2004)
Alguns poemas de Mauro Mota
O COMPANHEIRO
Quero deixar-me longe. Separar-me
de mim. Abandonar-me. Ser-me estranho.
Parto, mas, onde chego, me reencontro.
Despeço-me de novo e me acompanho.
Quero deixar-me longe. Separar-me
de mim. Abandonar-me. Ser-me estranho.
Parto, mas, onde chego, me reencontro.
Despeço-me de novo e me acompanho.
CANÇÃO
Para onde fui? Ou essa
música de onde veio?
Uma flauta divide
a noite pelo meio.
ITINERANTE
Vou em busca do ter-ido.
Desapareço no espaço.
Fico de novo perdido.
Procuro-me, e não me acho.
Vou em busca do ter-ido.
Desapareço no espaço.
Fico de novo perdido.
Procuro-me, e não me acho.
MUDANÇA
Não ficaram na mudança nem o pé de sabugueiro e o cheiro dos cajás,
os passos da mãe no corredor, a noite,
o medo do papa-figo, as sombras na parede.
A casa inverte a missão domiciliar, sai da rua,
A casa agora mora no antigo habitante.
O CÃO
A Edson Nery da Fonseca
É um cão negro. É talvez o próprio Cão
assombrado e fazendo assombração.
Estraçalha o silêncio com seus uivos.
A espada ígnea do olhar na escuridão
separa a noite, abre um canal no escuro.
Cão da Constelação do Grande Cão,
tombado no quintal, espreita o pulo:
duendes, fantasmas de ladrão no muro.
o latido ancestral liberta a fome
de tempo, e o cão, presa do faro, come
o medo e atreva. Agita-se, devora
sua ração de cor. Pois, louco e uivante,
lambe os pontos cardeais, morde o levante
e bebe o sangue matinal da aurora.
De Os Epitáfios. Rio de Janeiro:Livraria José Olympio Editora, 1959.
ELEGIA N.o 1
Vejo-te morta. As brancas mãos pendentes.
Delas agora, sem querer, libertas
a alma dos gestos e, dos lábios quentes
ainda, as frases pensadas só em certas
tardes perdidas. Sob as entreabertas
pálpebras, sinto, em teu olhar presentes,
mundos de imagens que, às regiões desertas
da morte, levarás, que a morte sentes
fria diante de todos os apelos.
Vejo-te morta. Viva, a cabeleira,
teus cabelos voando! ah! teus cabelos!
Gesto de desespero e despedida,
para ficares de qualquer maneira
pelos fios castanhos presa à vida.
De Elegias. Edição Jornal de Rio, 1952
0 BOI DE BARRO
A Abelardo Rodrigues
Andando em muitos sapatos
e jamais nas suas patas,
entre enormes chifres curvos
sente-se (o boi) entre aspas.
É um boi verde vidrado
acuado em cima da estante.
É um boi desenterrado
telúrico e ruminante.
Quem o desenterrou foi
Abelardo em Tracunhaém.
No barro da beira-rio
estava escondido o boi
desgarrado do rebanho.
Feito do gado anterior,
de estrume e de capim seco,
é este boi ruminador.
Estava desfeito ou feito?
No ato da exumação,
apareceram sangrantes
as feridas do aguilhão,
da corda e do pau da canga,
da asfixia do cambão,
do ferro em brasa nas ancas,
da chaga da castração.
As quatro rodas chiadeiras
do carro que já puxara
rodaram sobre o esqueleto,
fizeram sulcos na cara.
A semente vacum dentro
do chão mole do curral.
O boi vegetariano,
vegetal e mineral,
comeu do pasto e foi pasto,
misturou-se com o chão
para nascer no roçado,
oculto na plantação,
dando marradas no vento
da várzea pernambucana,
esse boi de chifres doces,
chifres de cana-caiana.
Toca o chocalho. O mugido
do boi de barro enche a sala.
(Cresce a grama no tapete.)
Pego no boi, ele racha.
De Os Epitáfios Rio de Janeiro:Livraria José Olympio Editora, 1959APARIÇÃO DE 1900
O vulto jovem, longe, longilíneo.
Partida no meio a cabeleira preta.
A barba passa-piolho, as abas do
fraque no hemistíquio do soneto.
Conversa na varanda do sobrado,
pince-nez, cravo na lapela, junto
da moça de marrafa no cocó.
(O piano, chocolate, chá, café),
pastéis de nata, ameixas de Bordeaux,
a louça brasonada, o pão-de-ló.
Roda pelo arrebalde o cabriolé.
Boa noite, Maria, e o poeta volta
ao domicílio do álbum e do silêncio.
DECLARAÇÃO DE BENS DE FAMÍLIA
Cadeiras e sofás, consolo e jarra,
camas e bules, redes e bacias,
a caixa de charão, o guarda-louça,
tetéias, mesa, aparador, fruteira,
a cesta de costura, o papagaio,
a cafeteira, o cromo da parede,
o jogo de gamão, as urupemas,
o álbum, o espelho, o candeeiro belga,
alguidares, baús de roupa, esteiras
de pipiri, a tábua do engomado,
pilão de milho, o tempo do relógio,
quartilhas, almanaques, tamboretes,
o santo da família, a lamparina,
o carneiro de Belém e o seu balido.
(De Itinerário, 1975).
O galoÉ a noite negra e é o galo rubro,da madrugada o industrial.É a noite negra sobre o mundoe o galo rubro no quintal.A noite desce, o galo sobe,plumas de fogo e de metal,desfecha golpe sobre golpena trova indimensional.Afia os esporões e o bico,canta o seu canto auroreal.O galo inflama-se e fabricaa madrugada no quintal.
Frases de Mauro Mota
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