quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Biografia, obras e características literárias de Bento Teixeira

Biografia, obras, características e estilo de Bento Teixeira

Bento Teixeira foi um poeta luso-brasileiro nascido na cidade do Porto, Portugal, no ano de 1561. Filho de Manoel Álvares de Barros e Leonor Rodrigues, cristãos-novos, veio para o Brasil em 1567, instalando-se na capitania do Espírito Santo. Estudou em colégios jesuítas, tentou seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu.

Depois da morte dos pais mudou-se para Ilhéus, na Bahia. Em 1584 casou-se com a cristã Filipa Raposa. Profere, em 31 de julho de 1589, um auto de fé - ritual público de penitência exigido pelos tribunais da Santa Inquisição -, devido às acusações de blasfêmia e obtém a absolvição. Formou-se em colégio na Bahia e em seguida mudou-se para Pernambuco onde, em 1590 abriu uma escola em Olinda e se dedica ao magistério e também ao comércio.

Foi acusado de práticas judaizantes e preso em Olinda, em 1594. Processado pela Inquisição, foi mandado para Lisboa, em 1595, para julgamento. Confessou e foi condenado à prisão perpétua, em 1599.

Bento Teixeira faleceu em Lisboa, Portugal, pouco depois de renegar o judaísmo e ser solto, no ano de 1600.

Obras de Bento Teixeira

  •   Prosopopeia, Lisboa, 1601

Nessa obra, o escritor fala sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. É a única obra reconhecida e aceita como de sua autoria.

Características literárias de Bento Teixeira
Como podemos notar, Bento Teixeira é um escritor Barroco. Portanto, logo a princípio notamos sua relação com o contraste, bem como descontentamento.Porém, observe a influência greco-romana no seu estilo, simplesmente notando que "Prosopopéia" é uma obra épica, a primeira brasileira. Mesmo sendo tão português e repleto de mitologia greco-romana, parte do assunto é brasileiro, pois há a "Descrição do Recife de Pernambuco", que já foi vista acima,explicando o nome indígena da Capitania; a contemplação de "Olinda florescente" e de "Olinda celebrada", por Duarte Coelho, seu fundador, além, é claro, dos próprios feitos do homenageado. 

Assim, podemos contestar o fato de que, mesmo sendo nascido em Portugal, como afirmam alguns, notamos que ele possuía um ar de "Brasil" em suas obras.Note então o quanto diversificado e perspicaz era Bento Teixeira, visto que, suas obras envolviam tanto características do país aonde fora criado, e aparentemente amava quanto sinais claros dos quais conhecia e admirava gênios da literatura europeia como Camões.


PROSOPOPEIA

Cantem Poetas o Poder Romano, 
Sobmetendo Nações ao jugo duro; 
O Mantuano pinte o Rei Troiano, 
Descendo à confusão do Reino escuro; 
Que eu canto um Albuquerque soberano, 
Da Fé, da cara Pátria firme muro, 
Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira, 
Pode estancar a Lácia e Grega lira. 
  
  
II 
As Délficas irmãs chamar não quero, 
que tal invocação é vão estudo; 
Aquele chamo só, de quem espero 
A vida que se espera em fim de tudo. 
Ele fará meu Verso tão sincero, 
Quanto fora sem ele tosco e rudo, 
Que per rezão negar não deve o menos 
Quem deu o mais a míseros terrenos. 
  
  
III 
E vós, sublime Jorge, em quem se esmalta 
A Estirpe d'Albuquerques excelente, 
E cujo eco da fama corre e salta 
Do Cauro Glacial à Zona ardente, 
Suspendei por agora a mente alta 
Dos casos vários da Olindesa gente, 
E vereis vosso irmão e vós supremo 
No valor abater Querino e Remo. 
  
  
IV 
Vereis um sinil ânimo arriscado 
A trances e conflictos temerosos, 
E seu raro valor executado 
Em corpos Luteranos vigurosos. 
Vereis seu Estandarte derribado 
Aos Católicos pés victoriosos, 
Vereis em fim o garbo e alto brio 
Do famoso Albuquerque vosso Tio. 
  
  
Mas em quanto Talia no se atreve, 
No Mar do valor vosso, abrir entrada, 
Aspirai com favor a Barca leve 
De minha Musa inculta e mal limada. 
Invocar vossa graça mais se deve 
Que toda a dos antigos celebrada, 
Porque ela me fará que participe 
Doutro licor milhor que o de Aganipe. 
  
  
VI 
O marchetado Carro do seu Febo 
Celebre o Sulmonês, com falsa pompa, 
E a ruína cantando do mancebo, 
Com importuna voz, os ares rompa. 
Que, posto que do seu licor não bebo, 
À fama espero dar tão viva trompa, 
Que a grandeza de vossos feitos cante, 
Com som que Ar, Fogo, Mar e Terra espante 
   
  
 VII 
A Lâmpada do Sol tinha encuberto, 
Ao Mundo, sua luz serena e pura, 
E a irmã dos três nomes descuberto 
A sua tersa e circular figura. 
Lá do portal de Dite, sempre aberto, 
Tinha chegado, com a noite escura, 
Morfeu, que com subtis e lentos passos 
Atar vem dos mortais os membros lassos. 
  
  
VIII 
Tudo estava quieto e sossegado, 
Só com as flores Zéfiro brincava, 
E da vária fineza namorado, 
De quando em quando o respirar firmava 
Até que sua dor, d’amor tocado, 
Per antre folha e folha declarava. 
As doces Aves nos pendentes ninhos 
Cubriam com as asas seus filhinhos. 
  
  
IX 
As luzentes Estrelas cintilavam, 
E no estanhado Mar resplandeciam, 
Que, dado que no Ceo fixas estavam, 
Estar no licor salso pareciam. 
Este passo os sentidos comparavam 
Àqueles que d’amor puro viviam, 
Que, estando de seu centro e fim absentes, 
Com alma e com vontade estão presentes. 
  
  
Quando ao longo da praia, cuja area 
É de Marinhas aves estampada, 
E de encrespadas Conchas mil se arrea, 
Assim de cor azul, como rosada, 
Do mar cortando a prateada vea, 
Vinha Tritão em cola duplicada, 
Não lhe vi na cabeça casca posta 
(Como Camões descreve) de Lagosta 
  
  
XI 
Mas ô a Concha lisa e bem lavrada 
De rica Madrepérola trazia, 
e fino Coral crespo marchetada, 
Cujo lavor o natural vencia. 
Estava nela ao vivo debuxada 
A cruel e espantosa bataria, 
Que deu a temerária e cega gente 
Aos Deoses do Ceo puro e reluzente. 
  
  
XII 
Um Búzio desigual e retrocido 
Trazia por Trombeta sonorosa, 
De Pérolas e Aljôfar guarnecido, 
Com obra mui subtil e curiosa. 
Depois do Mar azul ter dividido, 
Se sentou nô a pedra Cavernosa, 
E com as mãos limpando a cabeleira 
Da turtuosa cola fez cadeira. 
  
  
XIII 
Toca a Trobeta com crescido alento, 
Engrossa as veas, move os elementos, 
E, rebramando os ares com o acento, 
Penetra o vão dos infinitos assentos. 
Os Pólos que sustem o firmamento, 
Abalados dos próprios fundamentos, 
Fazem tremer a terra e Ceo jucundo, 
E Neptuno gemer no Mar profundo. 
  
  
XIV 
O qual vindo da vã concavidade, 
Em Carro Triunfal, com seu tridente, 
Traz tão soberba pompa e majestade, 
Quanta convém a Rei tão excelente. 
Vem Oceano, pai de mor idade, 
Com barba branca, com cerviz tremente: 
Vem Glauco, vem Nereu, Deoses Marinhos, 
Correm ligeros Focas e Golfinhos. 
  
  
XV 
Vem o velho Proteu, que vaticina 
(Se fé damos à velha antiguidade) 
Os males a que a sorte nos destina, 
Nascidos da mortal temeridade. 
Vem numa e noutra forma peregrina, 
Mudando a natural propriedade. 
Não troque a forma, venha confiado, 
Se não quer de Aristeu ser sojigado. 
  
  
XVI 
Tétis, que em ser fermosa se recrea, 
Traz das Ninfas o coro brando e doce : 
Clímene, Efire, Ópis, Panopea,  
Com Béroe, Talia, Cimodoce; 
Drimo, Xanto, Licórias, Deiopea, 
Aretusa, Cidipe, Filodoce, 
Com Eristea, Espio, Semideas, 
Após as quais, cantando, vem Sereas. 

DESCRIPÇÃO DO RECIFE DE PARANAMBUCO 
    
XVII 
Pera a parte do Sul, onde a pequena 
Ursa se vê de guardas rodeada, 
Onde o Ceo luminoso mais serena 
Tem sua influïção, e temperada; 
Junto da Nova Lusitânia ordena 
A natureza, mãe bem atentada, 
Um porto tão quieto e tão seguro, 
Que pera as curvas Naus serve de muro. 
  
  
XVIII 
É este porto tal, por estar posta 
Uma cinta de pedra, inculta e viva, 
Ao longo da soberba e larga costa, 
Onde quebra Neptuno a fúria esquiva. 
Antre a praia e pedra descomposta, 
O estanhado elemento se diriva 
Com tanta mansidão, que ô a fateixa 
Basta ter à fatal Argos aneixa. 
  
  
XIX 
Em o meio desta obra alpestre e dura, 
ô a boca rompeo o Mar inchado, 
Que, na língua dos bárbaros escura, 
Paranambuco de todos ‚ chamado. 
de Para’na, que é Mar; Puca, rotura, 
Feita com fúria desse Mar salgado, 
Que, sem no dirivar cometer míngua, 
Cova do Mar se chama em nossa língua. 
  
  
XX 
Pera entrada da barra, à parte esquerda, 
Está ua lajem grande e espaçosa, 
Que de Piratas fora total perda, 
Se ô a torre tivera sumptuosa. 
Mas quem por seus serviços bons não herda 
Desgosta de fazer cousa lustrosa, 
Que a condição do Rei que não é franco 
O vassalo faz ser nas obras manco. 
  
  
XXI 
Sendo os Deoses à lajem já chegados, 
Estando o vento em calma, o Mar quieto, 
Depois de estarem todos sossegados, 
Per mandado do Rei e per decreto, 
Proteu, no Ceo cos olhos enlevados, 
Como que invistigava alto secreto, 
Com voz bem entoada e bom meneio, 
Ao profundo silêncio larga o freio. 
  
  
XXII 
"Pelos ares retumbe o grave acento 
De minha rouca voz, confusa e lenta, 
Qual torvão espantoso e violento 
De repentina e hórrida tormenta; 
Ao Rio de Aqueronte turbulento, 
Que em sulfúreas burbulhas arrebenta, 
Passe com tal vigor, que imprima espanto 
Em Minos riguroso e Radamanto. 
  
  
XXIII 
De lanças e d’escudos encantados 
Não tratarei em numerosa Rima, 
Mais de Barões Ilustres afamados, 
Mais que quantos a Musa não sublima. 
Seus heróicos feitos extremados 
Afinarão a dissoante prima, 
Que não é muito tão gentil subjeito 
Suplir com seus quilates meu defeito. 
  
  
XXIV 
Não quero no meu Canto algua ajuda 
Das nove moradoras de Parnaso, 
Nem matéria tão alta quer que aluda 
Nada ao essencial deste meu caso. 
Porque, dado que a forma se me muda, 
Em falar a verdade serei raso, 
Que assim convém fazê-lo quem escreve, 
Se à justiça quer dar o que se deve. 
  
  
XXV 
A fama dos antigos coa moderna 
Fica perdendo o preço sublimado: 
A façanha cruel, que a turva Lerna 
Espanta com estrondo d’arco armado: 
O cão de três gargantas, que na eterna 
Confusão infernal está fechado, 
Não louve o braço de Hércules Tebano. 
Pois procede Albuquerque soberano. 
  
  
XXVI 
Vejo (diz o bom velho) que, na mente, 
O tempo de Saturno renovado, 
E a opulenta Olinda florescente 
Chegar ao cume do supremo estado. 
Ser de fera e belicosa gente 
O seu largo destricto povoado; 
Por nome ter  Nova Lusitânia, 
Das Leis isenta da fatal insânia. 
  
  
XXVII 
As rédeas ter desta Lusitânia 
O grão Duarte, valeroso e claro, 
Coelho por cognome, que a insânia 
Reprimir  dos seus, com saber raro. 
Outro Troiano Pio, que em Dardânia 
Os Penates livrou e o padre caro; 
Um Públio Cipião, na continência; 
Outro Nestor e Fábio, na prudência. 
  
  
XXVIII 
O braço invicto vejo com que amansa 
A dura cerviz bárbara insolente, 
Instruindo na Fé, dando esperança 
Do bem que sempre dura e ‚ presente; 
Eu vejo co rigor da tesa lança 
Acossar o Francês, impaciente 
De lhe ver alcançar ua victória 
Tão capaz e tão digna de memória. 
  
  
XXIX 
Ter o varão Ilustre da consorte, 
Dona Beatriz, preclara e excelente, 
Dous filhos, de valor e d’alta sorte. 
Cada qual a seu Tronco respondente. 
Estes se isentarão da cruel sorte, 
Eclipsando o nome … Romana gente, 
De modo que esquecida a fama velha 
Façam arcar ao mundo a sobrancelha. 
  
  
XXX 
O Princípio de sua Primavera 
Gastarão seu destricto dilatando, 
Os bárbaros cruéis e gente Austera, 
Com meio singular, domesticando. 
E primeiro que a espada lisa e fera 
Arranquem, com mil meios d’amor brando, 
Pretenderão tirá-la de seu erro, 
E senão porão tudo a fogo e ferro. 
  
  
XXXI 
Os braços vigorosos e constantes 
Fenderão peitos, abrirão costados, 
Deixando de mil membros palpitantes 
Caminhos, arraiais, campos juncados; 
Cercas soberbas, fortes repugnantes 
Serão dos novos Martes arrasados, 
Sem ficar deles todos mais memória 
Que a qu’eu fazendo vou em esta História. 
  
  
XXXII 
Quais dous soberbos Rios espumosos, 
Que, de montes altíssimos manando, 
Em Tétis de meter-se desejosos, 
Vem com fúria crescida murmurando, 
E nas partes que passam furiosos 
Vem árvores e troncos arrancando, 
Tal Jorge d’Albuquerque e o grão Duarte 
Farão destruição em toda a parte. 
  
  
XXXIII 
Aquele branco Cisne venerando, 
Que nova fama quer o Ceo que merque, 
E me está com seus feitos provocando, 
Que dele cante e sobre ele alterque; 
Aquele que na Idea estou pintando, 
Hierônimo sublime d’Albuquerque 
Se diz, cuja invenção, cujo artifício 
Aos bárbaros dar total exício. 
  
  
XXXIV 
Deste, como de Tronco florescente, 
Nascerão muitos ramos, que esperança 
Prometerão a todos geralmente 
De nos berços do Sol pregar a lança. 
Mas, quando virem que do Rei potente 
O pai por seus serviços não alcança 
O galardão devido e glória digna, 
Ficarão nos alpendres da Piscina. 
  
  
XXXV 
Ó sorte tão cruel, como mudável, 
Por que usurpas aos bons o seu direito? 
Escolhes sempre o mais abominável, 
Reprovas e abominas o perfeito, 
O menos digno fazes agradável, 
O agradável mais, menos aceito. 
Ó frágil, inconstante, quebradiça, 
Roubadora dos bens e da justiça! 
  
XXXVI 
Não tens poder algum, se houver prudência; 
Não tens Império algum, nem Majestade; 
Mas a mortal cigueira e a demência 
Co título te honrou de Deïdade. 
O sábio tem domínio na influência 
Celeste e na potência da vontade, 
E se o fim não alcança desejado, 
É por não ser o meio acomodado. 
  
XXXVII 
Este meio faltará ao velho invicto, 
Mas não cometerá nenhum defeito, 
Que o seu calificado e alto esprito 
Lhe fará a quanto deve ter respeito. 
Aqui Balisário, e Pacheco aflicto, 
Cerra com ele o número perfeito. 
Sobre os três, ô a dúvida se excita: 
Qual foi mais, se o esforço, se a desdita? 
  
XXXVIII 
Foi o filho de Anquises, foi Acates, 
À região do Caos litigioso, 
Com ramo d’ouro fino e de quilates, 
Chegando ao campo Elíseo deleitoso. 
Quão mal, por falta deste, a muitos trates 
(Ó sorte!) neste tempo trabalhoso, 
Bem claro no-lo mostra a experiência 
Em poder mais que a justiça a aderência. 
  
XXXIX 
Mas deixando (dizia) ao tempo avaro 
Cousas que Deos eterno e ele cura, 
E tornando ao Preságio novo e raro, 
Que na parte mental se me figura, 
De Jorge d’Albuquerque, forte e claro, 
A despeito direi da enveja pura, 
Pera o qual monta pouco a culta Musa, 
Que Meónio em louvar Aquiles usa. 
  
XL 
Bem sei que, se seus feitos não sublimo, 
É roubo que 1he faço mui notável; 
Se o faço como devo, sei que imprimo 
Escândalo no vulgo variável. 
Mas o dente de Zoilo, nem Minimo, 
Estimo muito pouco, que agradável 
É impossível ser nenhum que canta 
Proezas de valor e glória tanta. 
  
XLI 
Uô a cousa me faz dificuldade 
E o esprito profético me cansa, 
A qual é ter no vulgo autoridade 
Só aquilo a que sua força alcança. 
Mas, se é um caso raro, ou novidade 
Das que, de tempo em tempo, o tempo lança, 
Tal crédito lhe dão, que me lastima 
Ver a verdade o pouco que se estima." 
  
XLII 
E prosseguindo (diz: "que Sol luzente 
Vem d’ouro as brancas nuvens perfilando, 
Que está com braço indômito e valente 
A fama dos antigos eclipsando; 
Em quem o esforço todo juntamente 
Se está como em seu centro tresladando? 
É Jorge d'Albuquerque mais invicto 
Que o que desceo ao Reino de Cocito. 
  
XLIII 
Depois de ter o Bárbaro difuso 
E roto, as portas fechar de Jano, 
Por vir ao Reino do valente Luso 
E tentar a fortuna do Oceano." 
Um pouco aqui Proteu, como confuso, 
Estava receando o grave dano, 
Que havia de acrescer ao claro Herói 
No Reino aonde vive Cimotoe. 
  
XLIV 
"Sei mui certo do fado (prosseguia) 
Que trará o Lusitano por designo 
Escurecer o esforço e valentia 
Do braço Assírio, Grego e do Latino. 
Mas este pressuposto e fantasia 
Lhe tirará de enveja o seu destino, 
Que conjurando com os Elementos 
Abalará do Mar os fundamentos. 
  
XLV 
Porque Lémnio cruel, de quem descende 
A Bárbara progênie e insolência, 
Vendo que o Albuquerque tanto ofende 
Gente que dele tem a descendência, 
Com mil meos ilícitos pretende 
Fazer irreparável resistência 
Ao claro Jorge, baroil e forte, 
Em quem não dominava a vária sorte. 
  
XLVI 
Na parte mais secreta da memória, 
Terá mui escripta. impressa e estampada 
Aquela triste e maranhada História, 
Com Marte, sobre Vênus celebrada. 
Verá que seu primor e clara glória 
Há de ficar em Lete sepultada, 
Se o braço Português victória alcança 
Da nação que tem nele confiança. 
  
XLVII 
E com rosto cruel e furibundo, 
Dos encovados olhos cintilando, 
Férvido, impaciente, pelo mundo 
Andará estas palavras derramando": 
- Pôde Nictélio só no Mar profundo 
Sorver as Naus Meónias navegando, 
Não sendo mor Senhor, nem mais possante 
Nem filho mais mimoso do Tonante? 
  
XLVIII 
E pôde Juno andar tantos enganos, 
Sem razão, contra Tróia maquinando, 
E fazer que o Rei justo dos Troianos 
Andasse tanto tempo o Mar sulcando? 
E que vindo no cabo de dez anos, 
De Cila e de Caríbdis escapando, 
Chegasse à desejada e nova terra, 
E co Latino Rei tivesse guerra? 
  
XLIX 
E pôde Palas subverter no Ponto 
O filho de Oileu per causa leve? 
Tentar outros casos que não conto 
Por me não dar lugar o tempo breve? 
E que eu por mil razões, que não aponto, 
A quem do fado a lei render se deve, 
Do que tenho tentado já desista, 
E a gente Lusitana me resista? 
  
Eu por ventura sou Deus indigete, 
Nascido da progênie dos humanos, 
Ou não entro no número dos sete, 
Celestes, imortais e soberanos? 
A quarta Esfera a mim não se comete? 
Não tenho em meu poder os Centimanos? 
Jove não tem o Ceo? O Mar, Tridente? 
Plutão, o Reino da danada gente? 
  
LI 
Em preço, ser, valor, ou em nobreza, 
Qual dos supremos é mais qu’eu altivo? 
Se Neptuno do Mar tem a braveza, 
Eu tenho a região do fogo activo. 
Se Dite aflige as almas com crueza, 
E vós, Ciclopes três, com fogo vivo, 
Se os raios vibra Jove, irado e fero, 
Eu na forja do monte lhos tempero. 
  
LII 
E com ser de tão alta Majestade, 
Não me sabem guardar nenhum respeito? 
E um povo tão pequeno em quantidade 
Tantas batalhas vence a meu despeito? 
E que seja agressor de tal maldade 
O adúltero lascivo do meu leito? 
Não sabe que meu ser ao seu precede, 
E que prendê-lo posso noutra rede? 
  
LIII 
Mas seu intento não porá no fito, 
Por mais que contra mim o Ceo conjure, 
Que tudo tem em fim termo finito, 
E o tempo não há cousa que não cure. 
Moverei de Neptuno o grão districto 
Pera que meu partido mais segure, 
E quero ver no fim desta jornada 
Se val a Marte escudo, lança, espada. 
  
LIV 
"Estas palavras tais, do cruel peito, 
Soltará dos Ciclopes o tirano, 
As quais procurará pôr em efeito, 
Às cavernas descendo do Oceano. 
E com mostras d’amor brando e aceito, 
De ti, Neptuno claro e soberano, 
Alcançará seu fim: o novo jogo, 
Entrar no Reino d’Água o Rei do fogo. 
  
LV 
Logo da Pátria Eólia virão ventos, 
Todos como esquadrão mui bem formado, 
Euro, Noto os Marítimos assentos 
Terão com seu furor demasiado. 
Fará natura vários movimentos, 
O seu Caos repetindo já passado, 
De sorte que os varões fortes e válidos 
De medo mostrarão os rostos pálidos. 
  
LVI 
Se Jorge d’Albuquerque soberano, 
Com peito juvenil, nunca domado, 
Vencerá da Fortuna e Mar insano 
A braveza e rigor inopinado, 
Mil vezes o Argonauta desumano, 
Da sede e cruel fome estimulado, 
Urdirá aos consortes morte dura, 
Pera dar-lhes no ventre sepultura. 
  
LVII 
E vendo o Capitão calificado 
Empresa tão cruel e tão inica, 
Per meio mui secreto, acomodado, 
Dela como convém se certifica. 
E, dô a graça natural ornado, 
Os peitos alterados edifica, 
Vencendo, com Tuliana eloqüência, 
Do modo que direi, tanta demência." 
  
LVIII 
- Companheiros leais, a quem no Coro 
Das Musas tem a fama entronizado, 
Não deveis ignorar, que não ignoro, 
Os trabalhos que haveis no Mar passado. 
Respondestes ‘te ‘gora com o foro, 
Devido a nosso Luso celebrado, 
Mostrando-vos mais firmes contra a sorte 
Do que ela contra nós se mostra forte. 
  
LIX 
Vós de Cila e Caríbdis escapando, 
De mil baixos e sirtes arenosas, 
Vindes num lenho côncavo cortando 
As inquietas ondas espumosas. 
Da fome e da sede o rigor passando, 
E outras faltas em fim dificultosas, 
Convém-vos aquirir ô a força nova, 
Que o fim as cousas examina e prova. 
  
LX 
Olhai o grande gozo e doce glória 
Que tereis quando, postos em descanso, 
Contardes esta larga e triste história, 
Junto do pátrio lar, seguro e manso. 
Que vai da batalha a ter victória, 
O que do Mar inchado a um remanso, 
Isso então haverá de vosso estado 
Aos males que tiverdes já passado. 
  
LXI 
Per perigos cruéis, per casos vários, 
Hemos d’entrar no porto Lusitano, 
E suposto que temos mil contrários 
Que se parcialidam com Vulcano, 
De nossa parte os meios ordinários 
Não faltem, que não falta o Soberano, 
Poupai-vos pera a próspera fortuna, 
E, adversa, não temais por importuna. 
  
LXII 
Os heróicos feitos dos antigos 
Tende vivos e impressos na memória: 
Ali vereis esforço nos perigos, 
Ali ordem na paz, digna de glória. 
Ali, com dura morte de inimigos, 
Feita imortal a vida transitória, 
Ali, no mor quilate de fineza, 
Vereis aposentada a Fortaleza. 
  
LXIII 
Agora escurecer quereis o raio 
Destes Barões tão claros e eminentes, 
Tentando dar princípio e dar ensaio 
A cousas temerárias e indecentes. 
Imprimem neste Peito tal desmaio 
Tão graves e terríbeis acidentes 
Que a dor crescida as forças me quebranta, 
E se pega a voz débil à garganta. 
  
LXIV 
De que servem proezas e façanhas, 
E tentar o rigor da sorte dura? 
Que aproveita correr terras estranhas, 
Pois faz um torpe fim a fama escura? 
Que mais torpe que ver uas entranhas 
Humanas dar a humanos sepultura, 
Cousa que a natureza e lei empede, 
E escassamente às Feras só concede. 
  
LXV 
Mas primeiro crerei que houve Gigantes 
De cem mãos, e da Mãe Terra gerados, 
E Quimeras ardentes e flamantes, 
Com outros feros monstros encantados; 
Primeiro que de peitos tão constantes 
Veja sair efeitos reprovados, 
Que não podem (falando simplesmente) 
Nascer trevas da luz resplandecente. 
  
LXVI 
E se determinais a cega fúria 
Executar de tão feroz intento, 
A mim fazei o mal, a mim a injúria, 
Fiquem livres os mais de tal tormento. 
Mas o Senhor que assiste na alta Cúria 
Um mal atalhará tão violento, 
Dando-nos brando Mar, vento galerno, 
Com que vamos no Minho entrar paterno. 
  
LXVII 
"Tais palavras do peito seu magnânimo 
Lançará o Albuquerque famosíssimo, 
Do soldado remisso e pusilânimo, 
Fazendo com tal práctica fortíssimo. 
E assim todos concordes, e num ânimo, 
Vencerão o furor do Mar bravíssimo, 
Até que já a Fortuna, d’enfadada, 
Chegar os deixe a Pátria desejada. 
  
LXVIII 
À Cidade de Ulisses destroçados 
Chegarão da Fortuna e Reino salso, 
Os Templos visitando Consagrados, 
Em procissão, e cada qual descalço. 
Desta maneira ficarão frustrados 
Os pensamentos vãos de Lémnio falso, 
Que o mau tirar não pode o benefício 
Que ao bom tem prometido o Ceo propício. 
  
LXIX 
Neste tempo Sebasto Lusitano, 
Rei que domina as águas do grão Douro, 
Ao Reino passará do Mauritano, 
E a lança tingirá em sangue Mouro; 
O famoso Albuquerque, mais ufano 
Que Iason na conquista do veo d’ouro, 
E seu Irmão, Duarte valeroso, 
Irão co Rei altivo, Imperioso. 
  
LXX 
Nô a Nau, mais que Pístris, e Centauro, 
E que Argos venturosa celebrada, 
Partirão a ganhar o verde Lauro 
À região da secta reprovada. 
E depois de chegar ao Reino Mauro, 
Os dous irmãos, com lança e com espada, 
Farão nos Agarenos mais estrago 
Do que em Romanos fez o de Cartago. 
  
LXXI 
Mas, ah! ínvida sorte, quão incertos 
São teus bens e quão certas as mudanças; 
Quão brevemente cortas os enxertos 
A ô as mal nascidas esperanças. 
Nos mais riscosos trances, nos apertos, 
Antre mortais pelouros, antre lanças, 
Prometes triunfal palma e victória, 
Pera tirar no fim a fama, a glória. 
  
LXXII 
Assim sucederá nesta batalha 
Ao mal afortunado Rei ufano, 
A quem não valerá provada malha, 
Nem escudo d’obreiros de Vulcano. 
Porque no tempo que ele mais trabalha 
Victória conseguir do Mauritano 
Num momento se vê cego e confuso, 
E com seu esquadrão roto e difuso". 
  
LXXIII 
Anteparou aqui Proteu, mudando 
As cores e figura monstruosa, 
No gesto e movimento seu mostrando 
Ser o que há de dizer cousa espantosa. 
E com nova eficácia começando 
A soltar a voz alta e vigorosa, 
Estas palavras tais tira do peito, 
Que é cofre de profético conceito: 
  
LXXIV 
"Antre armas desiguais, antre tambores 
De som confuso, rouco e redobrado, 
Antre cavalos bravos corredores, 
Antre a fúria do pó, que é salitrado; 
Antre sanha, furor, antre clamores, 
Antre tumulto cego e desmandado, 
Antre nuvens de setas Mauritanas, 
Andará o Rei das gentes Lusitanas. 
  
LXXV 
No animal de Neptuno, já cansado 
Do prolixo combate, e mal ferido, 
Será visto por Jorge sublimado, 
Andando quási fora de sentido. 
O que vendo o grande Albuquerque ousado, 
De tão trágico passo condoído, 
Ao peito fogo dando, aos olhos água, 
Tais palavras dirá, tintas em magoa": 
  
  
LXXVI 
- Tão infelice Rei, como esforçado, 
Com lágrimas de tantos tão pedido, 
Com lágrimas de tantos alcançado, 
Com lágrimas do Reino, em fim perdido. 
Vejo-vos co cavalo já cansado, 
A vós, nunca cansado, mas ferido, 
Salvai em este meu a vossa vida, 
Que a minha pouco vai em ser perdida. 
  
LXXVII 
Em vós do Luso Reino a confiança 
Estriba, como em base só, fortíssimo; 
Com vós ficardes vivo, segurança 
Lhe resta de ser sempre florentíssimo. 
Antre duros farpões e Maura lança, 
Deixai este vassalo fidelíssimo, 
Que ele fará por vós mais que Zopiro 
Por Dario, até dar final suspiro. 
  
LXXVIII 
"Assim dirá o Herói, e com destreza 
Deixará o genete velocíssimo, 
E a seu Rei o dará: Ó Portuguesa 
Lealdade do tempo florentíssimo! 
O Rei Promete, se de tal empresa 
Sai vivo, o fará senhor grandíssimo, 
Mas ‘te nisto lhe será avara a sorte, 
Pois tudo cubrirá com sombra a morte. 
  
LXXIX 
Com lágrimas d’amor e de brandura, 
De seu Senhor querido ali se espede, 
E que a vida importante e mal segura 
Assegurasse bem, muito lhe pede, 
Torna à batalha sanguinosa e dura, 
O esquadrão rompe dos de Mafamede, 
Lastima, fere, corta, fende, mata, 
Decepa, apouca, assola, desbarata. 
  
LXXX 
Com força não domada e alto brio, 
Em sangue Mouro todo já banhado, 
Do seu vendo correr um caudal Rio, 
De giolhos se pôs, debilitado. 
Ali dando a mortais golpes desvio, 
De feridas medonhas trespassado, 
Será captivo, e da proterva gente 
Maniatado em fim mui cruelmente. 
  
LXXXI 
Mas adonde me leva o pensamento? 
Bem parece que sou caduco e velho, 
Pois sepulto no Mar do esquecimento 
A Duarte sem par, dicto Coelho. 
Aqui mister havia um novo alento 
Do Poder Divinal e alto Conselho, 
Porque não hai quem feitos tais presuma 
A termo reduzir e breve suma. 
  
LXXXII 
Mas se o Ceo transparente e alta Cúria 
Me for tão favorável, como espero, 
Com voz sonora, com crescida fúria, 
Hei de cantar Duarte e Jorge fero. 
Quero livrar do tempo e sua injúria 
Estes claros irmãos, que tanto quero, 
Mas, tornando outra vez a triste História, 
Um caso direi digno de memória. 
  
LXXXIII 
Andava o novo Marte destruindo 
Os esquadrões soberbos Mauritanos, 
Quando sem tino algum viu ir fugindo 
Os tímedos e lassos Lusitanos. 
O que de Pura mágoa não sufrindo 
Lhe diz"; - Donde vos is, homens insanos? 
Que digo: homens, estátuas sem sentido, 
Pois não sentis o bem que haveis perdido? 
  
LXXXIV 
Olhai aquele esforço antigo e puro 
Dos ínclitos e fortes Lusitanos, 
Da Pátria e liberdade um firme muro 
Verdugo de arrogantes Mauritanos; 
Exemplo singular pera o futuro 
Dictado, e resplandor de nossos anos, 
Subjeito mui capaz, matéria digna 
Da Mantuana e Homérica Buzina. 
  
LXXXV 
Ponde isto por espelho, por treslado, 
Nesta tão temerária e nova empresa. 
Nele vereis que tendes já manchado 
De vossa descendência a fortaleza. 
À batalha tornai com peito ousado, 
Militai sem receo, nem fraqueza, 
Olhai que o torpe medo é Crocodilo 
Que custuma, a quem foge, persegui-lo. 
  
LXXXVI 
E se o dito a tornar vos não compele, 
Vede donde deixais o Rei sublime? 
Que conta haveis de dar ao Reino dele? 
Que desculpa terá, tão grave crime? 
Quem haverá que por traição não sele 
Um mal que tanto mal no mundo imprime? 
Tornai, tornai, invictos Portugueses, 
Cerceai malhas e fendei arneses. 
  
LXXXVII 
"Assim dirá: mas eles sem respeito 
À honra e ser de seus antepassados 
Com pálido temor no frio peito, 
Irão per várias partes derramados. 
Duarte, vendo neles tal defeito, 
Lhe dirá": - Corações efeminados, 
Lá contareis aos vivos o que vistes, 
Porque eu direi aos mortos que fugistes. 
  
LXXXVIII 
"Neste passo carrega a Maura força 
Sobre o Barão insigne e velicoso; 
Ele, onde vê mais força, ali se esforça, 
Mostrando-se no fim mais animoso. 
Mas o fado, que quer que a razão torça. 
O caminho mais recto e proveitoso, 
Fará que num momento abreviado 
Seja captivo, preso e mal tratado. 
  
LXXXIX 
Eis ambos os irmãos em captiveiro. 
De Peitos tão protervos e obstinados, 
Por cópia inumerável de dinheiro 
Serão (segundo vejo) resgatados. 
Mas o resgate e preço verdadeiro, 
Por quem os homens foram libertados, 
Chamará neste tempo o grão Duarte, 
Pera no claro Olimpo lhe dar parte. 
  
XC 
Ó Alma tão ditosa como pura, 
Parte a gozar dos dotes dessa glória, 
Donde terás a vida tão segura, 
Quanto tem de mudança a transitória! 
Goza lá dessa luz que sempre dura; 
No mundo gozarás da larga história, 
Ficando no lustroso e rico Templo 
Da Ninfa Gigantea por exemplo. 
  
XCI 
Mas, enquanto te dão a sepultura, 
Contemplo a tua Olinda celebrada, 
Cuberta de fúnebre vestidura, 
Inculta, sem feição, descabelada. 
Quero-a deixar chorar morte tão dura 
‘Té que seja de Jorge consolada, 
Que por ti na Ulissea fica em pranto, 
Em quanto me disponho a novo Canto. 
  
XCII 
Não mais, esprito meu, que estou cansado, 
Deste difuso, largo e triste Canto, 
Que o mais será de mim depois cantado 
Per tal modo, que cause ao mundo espanto. 
Já no balcão do Ceo o seu toucado 
Solta Vênus, mostrando o rosto Sancto; 
Eu tenho respondido co mandado 
Que mandaste Neptuno sublimado". 
  
XCIII 
Assim diz; e com alta Majestade 
O Rei do Salso Reino, ali falando, 
Diz: - Em satisfação da tempestade 
Que mandei a Albuquerque venerando, 
Pretendo que a mortal Posteridade 
Com Himnos o ande sempre sublimando, 
Quando vir que por ti o foi primeiro, 
Com fatídico esprito verdadeiro. 
  
    
EPÍLOGO 
  
XCIV 
Aqui deu [fim] a tudo, e brevemente 
Entra no Carro [de] Cristal lustroso; 
Após dele a demais Cerúlea gente 
Cortando a vea vai do Reino acoso. 
Eu que a tal espetáculo presente 
Estive, quis em Verso numeroso 
Escrevê-lo por ver que assim convinha 
Pera mais Perfeição da Musa minha. 
  

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