quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Revolução de 1930 questões vestibular


 Artigo sobre as causas e consequências da Revolução de 1930 com questões de vestibular.

Revolução de 1930

A Revolução de 1930, que pôs fim à Primeira República, foi, para muitos historiadores, o movimento mais importante da história do Brasil do século XX. Foi ela quem, para o historiador Boris Fausto, acabou com a “hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma de inserção do Brasil, no sistema capitalista internacional”¹. Na Primeira República, o controle político e econômico do país estava nas mãos de fazendeiros, mesmo e as atividades urbanas eram o pólo mais dinâmico da sociedade. Entre 1912 e 1929, a produção industrial cresceu cerca de 175%. No entanto, a política econômica do governo continuava privilegiando os lucros das atividades agrícolas. Mas, com a crise mundial do capitalismo em 1929, a economia cafeeira não conseguiu manter-se. O Presidente Washington Luís (1926-1930), com algumas medidas, tentou conter a crise no Brasil, mas em vão. Em 1929, a produção brasileira chegava a 28,941 milhões, mas só foram exportados 14, 281 milhões de sacas, e isto num momento em que existiam imensos estoques acumulados.



    O maior partido de oposição ao partido republicano de Washington Luís era a Aliança Liberal. Era liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Dorneles Vargas. Mesmo sendo apoiado por muitos políticos que tinham sido influentes na Primeira República, como os ex-presidentes Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, seu programa apresentava um certo avanço progressista: jornada de oito horas, voto feminino, apoio às classes urbanas. A Aliança Liberal foi muito influenciada pelo tenentismo, que foi um movimento de jovens militares que defendiam a moralização administrativa e cujo slogan era “representação e justiça”. Nas eleições de 1930, a Aliança Liberal perdeu, vencendo o candidato republicano Júlio Prestes. Mas, usando como pretexto o assassinato do aliancista João Pessoa por um simpatizante de Washington Luís, João Dantas, Getúlio Vargas e seus partidários organizaram um golpe que, em outubro de 1930, tirou Washington Luís do poder. Getúlio Vargas tomou posse do governo no dia 3 de novembro 1930, data que ficou registrada como sendo o fim da Primeira República.

    No início de seu governo, com a centralização do poder, Vargas iniciou a luta contra o regionalismo. A administração do país tinha que ser única e não, como ocorria na República Velha, ser dividida pelos proprietários rurais. Muitas medidas que tomou “no plano econômico financeiro não resultaram de novas circunstâncias, mas das circunstâncias impostas pela crise mundial”². O Brasil dependia demais do comércio do café para que o novo presidente o abandonasse. Para controlar a superprodução e a crise no Brasil, Vargas mandou destruir todos os estoques de café. Mesmo, com a crise mundial, conhecida como “crash de 1929”, houve uma intensa aceleração do desenvolvimento industrial. Entre 1929 e 1939, a indústria cresceu 125%, enquanto na agricultura o crescimento não ultrapassou 20%. Esse desenvolvimento deu-se por causa da diminuição das importações e da oferta de capitais, que trocaram a lavoura tradicional em crise, pela indústria. Mas, foi a participação do Estado, com tarifas protecionistas e investimentos, que mais influiu nesse crescimento industrial. Diferentemente do que ocorreu na República Velha, começaram a surgir planos para a criação de indústrias de base no Brasil. Esses planos realizar-se-iam com a inauguração da usina siderúrgica de Volta Redonda em 1946.

    A partir de 1930, a sociedade brasileira viveu importantes mudanças. Acelerou-se o processo de urbanização e a burguesia começa a participar cada vez mais na vida política. Com o progresso da industrialização, a classe operária cresceu muito. Vargas, com uma política de governo dirigida aos trabalhadores urbanos, tentou atrair o apoio dessa classe que era fundamental para a economia, pois tinha em mãos o novo motor do Brasil: a indústria. A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, resultou numa série de leis trabalhistas. Parte delas visava ampliar direitos e garantias do trabalhador: lei de férias, regulamentação do trabalho de mulheres e crianças.

    Todo esse processo de desenvolvimento, no Brasil, foi acompanhado por uma verdadeira revolução cultural e educacional que acabou garantindo o sucesso de Vargas na sua tentativa de transformar a sociedade. Como disse Antônio Cândido, “não foi o movimento revolucionário que começou as reformas [ do ensino]; mas ele propiciou a sua extensão para todo o país”³. Em 1920, reformas promovidas separadamente por Sampaio Dória, Lourenço Filho, Anísio Teixeira e Fernando Campos já buscavam a renovação pedagógica. A partir de 1930, as medidas para a criação de um sistema educativo público foram controladas oficialmente pelo governo. Esta vontade de centralizar a formação e de torná-la acessível aos mais pobres ficou clara com a criação do Ministério da Educação e Saúde em novembro de 1930. Seu primeiro ministro foi Francisco Campos (1930-1932). Com a difusão da instrução básica, Vargas acreditava poder formar um povo mais consciente e mais apto às exigências democráticas, como o voto, e uma elite de futuros políticos, pensadores e técnicos. Em 1931, o governo decretou a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas públicas. Esta aproximação entre Estado e Igreja também foi marcada pela inauguração, a 12 de outubro de 1931, da estátua do Cristo Redentor no Corcovado. O historiador Boris Fausto afirmou que a Igreja, em troca, “levou a massa da população católica a apoiar o novo governo”4. Em relação ao ensino superior, o governo procurou estabelecer as bases do sistema universitário, investindo nas áreas de ensino e pesquisa. Foram contratados jovens professores europeus como Claude Lévy-Strauss que se tornaria, mais tarde, o criador da antropologia estruturalista.

    Além de haver um desenvolvimento educacional, houve uma verdadeira revolução cultural em relação à República Velha. O modernismo, tão criticado antes de 1930, tornou-se o movimento artístico principal a partir do golpe de Vargas. A Academia de Letras, tão admirada antes, não tinha mais nenhum prestígio. A cultura predominante era a popular que, com o rádio, desenvolveu-se por todo o Brasil. Como analisou Antônio Cândido, “nos anos 30 e 40, por exemplo, o samba e a marcha, antes praticamente confinados aos morros e subúrbios do Rio, conquistaram o país e todas as classes, tornando-se um pão-nosso quotidiano de consumo cultural”5.

    No entanto, foram os intelectuais partidários da Revolução de 1930, como Caio Prado Júnior, quem tiveram um papel essencial no processo de desenvolvimento cultural do Brasil. Sérgio Buarque de Holanda, com Raízes do Brasil principalmente, influenciou muito o desenvolvimento do nacionalismo no Brasil. Em este ensaio, Sérgio Buarque de Holanda buscou entender como se fez o processo da formação do Brasil como nação. Analisou a história desde a chegada dos ibéricos à América até os anos 1930. Este livro, como apontou Antônio Cândido, formou a mentalidade de muitos estudantes a partir de 1936, quando foi publicado6. Nesse livro, Sérgio Buarque de Holanda não só analisa o passado mas também dá os objetivos brasileiros para o futuro, principalmente no último capítulo do livro ( Nossa Revolução).

    Raízes do Brasil demonstrou que a independência do Brasil não se fez em 1822, pois a formação de uma nação não só se devia entender em relação à administração. O Brasil, para o autor, só seria independente quando não houvesse mais marcos, a não ser o passado, da era colonial. O retrato que Sérgio Buarque fez do livro é extremamente comparativo e psicológico. O conceito de “homem cordial”, que estudou em seu quinto capítulo, caracterizou o brasileiro como tendo uma personalidade única, diferente da dos europeus. Mas, como disse, “com a simples cordialidade não se criam os bons princípios”7. Por isso, defendeu tanto a industrialização e a centralização do poder, pois eram características da era pós 30

    Sérgio Buarque de Holanda, com Giberto Freyre, formavam uma nova ala de intelectuais inovadores do Brasil. São os fundadores da Universidade de Ciências Sociais do Brasil e são os pioneiros dos movimentos nacionais e a favor da democratização da sociedade. Raízes do Brasil, mas também outros livros como Casa-Grande e Senzala de Gilbetro Freyre, quebra com todos os pensamentos expostos antes da Revolução de 1930. Como aponta Renato Ortiz, “o que era mestiço torna-se nacional” 8. Na República Velha, como o mostra Os Sertões de Euclides da Cunha, todas as raças que não fossem brancas eram inferiores. Mas, com suas obras, o entendimento popular da escravidão transformou-se muito. Sérgio Buarque de Holanda entende que não adianta mais separar o mundo em classes. Mas uni-las para formar uma nação.

    Vem daí a crítica dos sociólogos dos anos 30 aos movimentos integralistas (fascismo brasileiro) e comunistas. Nisto ele foi importantíssimo para a Revolução de 1930 pois os grupos extremistas já estavam bem fortes e, com sua obra-prima, queriam até tomar o poder. Mesmo não sendo oficialmente marxista, sua análise do processo histórico que abriria, no futuro, a total independência do país em relação à agricultura e à Europa.

Bibliografia: http://www.culturabrasil.org/revolucaode30.htm

Questões sobre a Revolução de 1930

1) (UDESC 2008) A Revolução de 1930 marcou a história republicana brasileira, que passou a ser dividida, a partir de então, entre República Velha e República Nova. Sobre esse episódio, leia e analise as afirmativas abaixo.

I – Denomina-se Revolução de 1930 o movimento armado que depôs o então presidente da República Washington Luiz Pereira de Souza, pouco antes do término do seu mandato.

II – Getúlio Vargas não tomou parte nesse movimento, assumindo uma postura legalista e democrática, que marcaria sua história política.

III – O objetivo principal desse movimento era impedir a posse de Júlio Prestes, que havia derrotado a chapa de Getúlio Vargas e João Pessoa, nas eleições presidenciais de março de 1930.

IV – Os protagonistas desse episódio esforçaram-se por ampliar o significado da Revolução, investindo na idéia de República Nova como ruptura em relação à República Velha, e associando o regime instalado em 1930 à idéia de Brasil moderno.

V – A Revolução de 1930 marcou a história republicana brasileira, ao romper com o controle oligárquico do poder político e inaugurar uma longa fase de governo democrático, somente rompida com o Golpe de 1964.

Assinale a alternativa correta, em relação às afirmativas.

a) Somente as afirmativas I, II, III e IV são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas I, III e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

2) (Unificado-RS) “A escolha dos candidatos à sucessão presidencial funcionará como um estopim para a mais importante revolução da história republicana. (...) Os entendimentos políticos evoluíram no sentido de agruparem-se em torno de Getúlio Vargas as forças da oposição (...) Realizaram-se, contudo, as eleições e o resultado foi favorável a Júlio Prestes. Entretanto, vinte e dois dias antes de terminar o mandato de Washington Luís, a revolução estava nas ruas.”

A que revolução o texto faz referência e quem assumiu a Presidência da República sucedendo a Washington Luís?

a)     Revolução de 1930; Júlio Prestes.
b)     Revolução de 1930; Getúlio Vargas.
c)      Revolução de 1930; João Pessoa.
d)     Revolução Constitucionalista de 1932; Júlio Prestes.
e)     Revolução Constitucionalista de 1932; Getúlio Vargas.

3) (UFPA) A crise social e política que abalou a estabilidade da República Velha (1889 -1930) quebrou a hegemonia das oligarquias no poder e preparou o terreno para a Revolução de 1930 foi motivada pelo(a):

a) aprofundamento das cisões oligárquicas, pelas rebeliões tenentistas, pela insatisfação das classes médias urbanas excluídas da representação política e pela pressão reivindicatória das classes operárias.
b) aliança política entre a burguesia industrial, as classes médias urbanas e o operariado fabril contra o sistema liberal e democrático da República Velha, controlado pelas oligarquias agrárias.
c) quebra do compromisso político entre as oligarquias agrárias e os trabalhadores rurais, o que, durante toda a República Velha, impediu o desenvolvimento dos setores industriais e a organização do movimento operário.
d) fortalecimento da união entre as oligarquias paulistas e mineiras na indicação de Júlio Prestes à sucessão presidencial em 1930, o que desagradou as oposições constituídas pelas classes médias urbanas e operariado, defensores de Getúlio Vargas.
e) descontentamento da burguesia industrial com o tratamento dado pelas oligarquias ao movimento operário - "caso de polícia" - e sua decisão de apoiar a Revolução de 30 e a legislação trabalhista.

4) Com relação à revolução de 1930, do ponto de vista econômico-social, é possível afirmar que ela:

a) assinala o início da primazia política das classes médias sobre o Estado;
b) representa a derrota da burguesia mercantil diante das pressões conjuntas do campesinato e operariado urbano;
c) traduz a vitória do tenentismo, das camadas médias e dos segmentos industriais sobre os setores agroexportadores;
d) identifica a passagem para a dominação burguesa no Brasil, com a vitória dos grupos industriais;
e) significa o início do desenvolvimentismo e a decadência da agricultura de exportação.

5) O rompimento da política do café com leite enfraqueceu o grupo dominante, fortalecendo as oligarquias dissidentes, ávidas de poder. II- O Tenentismo desde 1922 apresentava-se como um sintoma de insatisfação e mudança de sociedade: a luta política seria realizada pelo exército "em nome do povo". III- Após a vitória de Júlio Prestes, João Pessoa, favorável à luta armada, desencadeou o movimento para a derrubada do governo. IV- A política de perseguições do governo Washington Luís, a degola dos aliancistas e o assassinato de João Pessoa desencadearam o movimento revolucionário. Considere as afirmações anteriores, relativas aos antecedentes da Revolução de 1930, e assinale:

a) se todas forem corretas.
b) se apenas I , II e IV forem corretas.
c) se apenas III for correta.
d) se apenas I e IV forem corretas.
e) se todas forem incorretas.

6) om a vitória da Revolução de 1930, nasceu a Segunda República. Embora os historiadores ainda não estejam de acordo quanto à duração desse período da História brasileira, vamos considerar que se estendeu até o golpe político-militar de 1964. Durante esses 34 anos, algumas tendências importantes caracterizaram a evolução brasileira, entre elas; exceto:

a) o setor da economia, voltado para o mercado interno, superou em importância o setor exportador
b) um rápido processo de industrialização tornou a indústria o principal setor da economia nacional
c) a burguesia industrial, transformou-se no grupo social mais rico do país
d) a classe média fortaleceu-se e o operariado urbano cresceu rapidamente
e) acelerou-se o processo de ruralização, principalmente no Sudeste e Sul

Gabarito:
1) B   2) B   3) A    4) C   5) B   6) E

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