quinta-feira, 1 de maio de 2014

Biografia e obras de Cassiano Ricardo


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Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos em 1895. Formou-se em direito no Rio de Janeiro, em 1917. Rumando para São Paulo, trabalhou como jornalista em diversas publicações, e chegou a fundar alguns jornais. Aproximou-se de Menotti Del Picchia e Plínio Salgado, à época da Semana de Arte Moderna de 1922. Pertenceu às academias paulista e brasileira de letras. Em 1924 fundou A Novíssima, revista modernista. Em 1928 publica Martim Cererê, importante experiência modernista primitivista-nacionalista na linha mitológica de Macunaíma (de Mário de Andrade) e Cobra Norato (de Raul Bopp).

Afastando-se das ideias de Plínio Salgado, que por essa época já começavam a descaracterizar-se como nacionais e pareciam-se mais com imitações imperfeitas de dogmas nazistas, Cassiano Ricardo funda com Menotti del Picchia o grupo da Bandeira, em 1937. Neste ano ainda foi eleito para a cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, sendo o segundo modernista aceito na instituição (o primeiro havia sido Guilherme de Almeida, que foi encarregado de recebê-lo).

Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo, e entre 1953 e 1954 foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes.
Sua obra passa por diversos momentos; inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a epopeia bandeirante, detendo-se, em seguida, em temas mais intimistas, cotidianos, ou mais próximos da realidade observável.

Poeta de caráter lírico-sentimental, em seus primeiros livros, "Dentro da Noite" (1911) e "A Flauta de Pã" (1917), ainda está preso ao Parnasianismo. A partir de "Vamos Caçar Papagaios" (1926) adere ao movimento de 1922, embora ainda não tenha superado a sensibilidade parnasiana.

Sua linguagem incorpora os valores da prosa, com definições e explicações freqüentes, mas sem prejuízo da linguagem poética. Obras mais expressivas: "Borrões de Verde e Amarelo" (1927), "Martim Cererê" (1928) e "Marcha para Oeste" (1940).

Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60.

Faleceu em São Paulo, em 1975.

Principais obras do escritor Cassiano Ricardo

Poesia:

Indômitus

Papagaio Gaio

Os nomes dados a terra descoberta

Coroa mural

Canção para poder viver

Relâmpago

A rua

A graça triste

O acusado

Desejo

A outra vida

Montanha russa

A medusa de fogo

Espaço lírico

Ficaram-me as penas

Rotação

Posições do corpo

A física do susto

Ensaio, crítica, resenha & comentário: 

Texto sobre Álvaro Pacheco

Ensaio 
- O Brasil no original (1936)
- O negro da bandeira (1938)
- A Academia e a poesia moderna (1939)
- Marcha para Oeste (1940)
- Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964)

Curiosidades sobre Cassiano Ricardo

- É formado em Direito
- Participou dos grupos modernistas “Verde Amarelo” e “Anta”, juntamente com Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros;
- Presidente do Clube da Poesia em São Paulo e foi reeleito várias vezes
- Muitos de seus poemas foram traduzidos para vários idiomas
- Aos 12 anos fundou a revista Íris
- Recebeu influências do Concretismo e Praxismo.

Principais características da obra de Cassiano Ricardo

Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes. 
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas. 

Martim-Cererê, o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo. 

Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.

Sala de Espera

(Ah, os rostos sentados 
numa sala de espera. 
Um "Diário Oficial" sobre a mesa. 
Uma jarra com flores. 
A xícara de café, que o contínuo 
vem, amável, servir aos que esperam a audiência 
[marcada. 

Os retratos em cor, na parede, 
dos homens ilustres 
que exerceram, já em remotas épocas, 
o manso ofício 
de fazer esperar com esperança. 
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã. 
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre 
[adiados 
e sentados 
numa sala de espera.) 

Mas eu prefiro é a rua. 
A rua em seu sentido usual de "lá fora". 
Em seu oceano que é ter bocas e pés 
para exigir e para caminhar. 
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo. 
Rua do homem como deve ser: 
transeunte, republicano, universal. 

Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros 
do que de si mesmo. 
Rua da procissão, do comício, 
do desastre, do enterro. 
Rua da reivindicação social, onde mora 
o Acontecimento. 

A rua! uma aula de esperança ao ar livre. 

Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947). 

O Relógio

"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos

Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos

Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser

Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."





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