Cassiano Ricardo Leite nasceu em São José dos Campos em 1895. Formou-se em direito no Rio de Janeiro, em 1917. Rumando para São Paulo, trabalhou como jornalista em diversas publicações, e chegou a fundar alguns jornais. Aproximou-se de Menotti Del Picchia e Plínio Salgado, à época da Semana de Arte Moderna de 1922. Pertenceu às academias paulista e brasileira de letras. Em 1924 fundou A Novíssima, revista modernista. Em 1928 publica Martim Cererê, importante experiência modernista primitivista-nacionalista na linha mitológica de Macunaíma (de Mário de Andrade) e Cobra Norato (de Raul Bopp).
Afastando-se das ideias de Plínio Salgado, que por essa época já começavam a descaracterizar-se como nacionais e pareciam-se mais com imitações imperfeitas de dogmas nazistas, Cassiano Ricardo funda com Menotti del Picchia o grupo da Bandeira, em 1937. Neste ano ainda foi eleito para a cadeira número 31 da Academia Brasileira de Letras, sendo o segundo modernista aceito na instituição (o primeiro havia sido Guilherme de Almeida, que foi encarregado de recebê-lo).
Em 1950 foi eleito presidente do Clube da Poesia de São Paulo, e entre 1953 e 1954 foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris, vindo a ocupar outros cargos públicos nos anos seguintes.
Sua obra passa por diversos momentos; inicialmente apresenta-se presa ao Parnasianismo e ao Simbolismo. Com a fase modernista, explora temas nacionalistas e depois restringe-se mais, louvando a epopeia bandeirante, detendo-se, em seguida, em temas mais intimistas, cotidianos, ou mais próximos da realidade observável.
Poeta de caráter lírico-sentimental, em seus primeiros livros, "Dentro da Noite" (1911) e "A Flauta de Pã" (1917), ainda está preso ao Parnasianismo. A partir de "Vamos Caçar Papagaios" (1926) adere ao movimento de 1922, embora ainda não tenha superado a sensibilidade parnasiana.
Sua linguagem incorpora os valores da prosa, com definições e explicações freqüentes, mas sem prejuízo da linguagem poética. Obras mais expressivas: "Borrões de Verde e Amarelo" (1927), "Martim Cererê" (1928) e "Marcha para Oeste" (1940).
Acompanhou de perto as experiências do Concretismo e do Praxismo, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60.
Faleceu em São Paulo, em 1975.
Principais obras do escritor Cassiano Ricardo
Poesia:
Indômitus
Papagaio Gaio
Os nomes dados a terra descoberta
Coroa mural
Canção para poder viver
Relâmpago
A rua
A graça triste
O acusado
Desejo
A outra vida
Montanha russa
A medusa de fogo
Espaço lírico
Ficaram-me as penas
Rotação
Posições do corpo
A física do susto
Ensaio, crítica, resenha & comentário:
Texto sobre Álvaro Pacheco
Ensaio
- O Brasil no original (1936)
- O negro da bandeira (1938)
- A Academia e a poesia moderna (1939)
- Marcha para Oeste (1940)
- Algumas reflexões sobre a poética de vanguarda (1964)
Curiosidades sobre Cassiano Ricardo
- É formado em Direito
- Participou dos grupos modernistas “Verde Amarelo” e “Anta”, juntamente com Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros;
- Presidente do Clube da Poesia em São Paulo e foi reeleito várias vezes
- Muitos de seus poemas foram traduzidos para vários idiomas
- Aos 12 anos fundou a revista Íris
- Recebeu influências do Concretismo e Praxismo.
Principais características da obra de Cassiano Ricardo
Como outros modernistas da primeira fase, Cassiano Ricardo estreou sob influências parnasiano-simbolistas, de que são exemplos os livros Dentro da noite (1915) e A frauta de Pã (1917). Contudo, sua inquietação estética fez com que chegasse a experiências das vanguardas poéticas mais recentes.
Com Vamos caçar papagaios (1926) e Martim-Cererê (1928), o poeta entra em sua fase nacionalista “verde-amarelista”, em que predomina a brasilidade dos temas.
Martim-Cererê, o livro mais importante dessa fase, é uma recriação poética da descoberta e colonização do Brasil. Nele, o poeta incorpora ao seu canto a fauna e a flora brasileiras, o índio, o bandeirante, o imigrante, a temática penetração territorial, a fundação das cidades, nossos heróis e o crescimento de São Paulo.
Em O sangue das horas (1943) e Um dia depois do outro (1947), encontramos o poeta voltado para a reflexão sobre o destino humano e para os sentimentos de solidão, melancolia, frustração, angústia e perplexidade diante da vida.
Sala de Espera
(Ah, os rostos sentados
numa sala de espera.
Um "Diário Oficial" sobre a mesa.
Uma jarra com flores.
A xícara de café, que o contínuo
vem, amável, servir aos que esperam a audiência
[marcada.
Os retratos em cor, na parede,
dos homens ilustres
que exerceram, já em remotas épocas,
o manso ofício
de fazer esperar com esperança.
E uma resposta, que será sempre a mesma: só amanhã.
E os quase eternos amanhãs daqueles rostos sempre
[adiados
e sentados
numa sala de espera.)
Mas eu prefiro é a rua.
A rua em seu sentido usual de "lá fora".
Em seu oceano que é ter bocas e pés
para exigir e para caminhar.
A rua onde todos se reúnem num só ninguém coletivo.
Rua do homem como deve ser:
transeunte, republicano, universal.
Onde cada um de nós é um pouco mais dos outros
do que de si mesmo.
Rua da procissão, do comício,
do desastre, do enterro.
Rua da reivindicação social, onde mora
o Acontecimento.
A rua! uma aula de esperança ao ar livre.
Publicado no livro Um dia depois do outro, 1944/1946 (1947).
O Relógio
"Diante de coisa tão doida
Conservemo-nos serenos
Cada minuto da vida
Nunca é mais, é sempre menos
Ser é apenas uma face
Do não ser, e não do ser
Desde o instante em que se nasce
Já se começa a morrer."
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