quarta-feira, 2 de abril de 2014

Descoberto processo celular fundamental que poderá estar associado a doenças humanas



Muitos dos genes – e, portanto, das proteínas – da humilde levedura do padeiro (Saccharomyces cerevisiae) possuem versões humanas. E, aproveitando a simplicidade do ADN da levedura, uma equipa liderada por Tiago Outeiro – do Instituto de Medicina Molecular (IMM) de Lisboa e da Universidade de Goettingen (Alemanha) – e Flaviano Giorgini, da Universidade de Leicester (Reino Unido), decidiu estudar nesse microrganismo unicelular os processos subjacentes à doença de Parkinson. Os seus resultados foram publicados na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os cientistas analisaram, mais precisamente, uma família de proteínas da levedura que são “primas” de uma proteína humana, designada DJ-1, explica a Universidade de Leicester em comunicado. Sabe-se que as mutações na proteína DJ-1 provocam no ser humano formas hereditárias e precoces da doença de Parkinson – e que alterações dessa proteína também estão associadas a formas mais comuns desta doença neurodegenerativa sem cura e a certas formas de cancro. Mas o que ainda não é claro é como a proteína DJ-1 consegue, quando não funciona devidamente, dar origem a estas doenças devastadoras.

“A nossa ideia foi que, ao estudarmos as 'primas' da proteína humana [DJ-1] na levedura, poderíamos descobrir coisas importantes sobre o seu funcionamento, e daí por que é que causam doenças”, diz Tiago Outeiro, citado no mesmo comunicado.

O que os cientistas descobriram foi que aquela família de proteínas da levedura é importante para a manutenção do tempo de vida normal da célula de levedura. E também que essas proteínas estão envolvidas na regulação da autofagia, o processo que a célula utiliza para degradar e reciclar os seus componentes quando se encontram danificados.

Ora, tanto o mecanismo de autofagia como a longevidade celular são processos centrais no contexto da doença de Parkinson e do cancro, lê-se ainda no comunicado. Por isso, os cientistas pensam que os seus resultados poderão permitir perceber melhor os mecanismos que contribuem para essas doenças humanas.

“O nosso trabalho é importante, porque sugere que a proteína DJ-1 humana poderá ter um funcionamento semelhante ao das versões dessa proteína na levedura”, salienta a autora principal do trabalho, Leonor Miller-Fleming, do IMM, citada no mesmo comunicado.

Os cientistas querem, em seguida, analisar os pormenores do processo de regulação da autofagia pelas proteínas da família da DJ-1 e ver se o mesmo se aplica aos neurónios humanos – em particular aos que fabricam um “mensageiro químico” cerebral, a dopamina, e que são os mais afectados na doença de Parkinson.

“Pensamos que são necessários estudos semelhantes da proteína humana nos neurónios, de forma a clarificar a sua função”, frisa Leonor Miller-Fleming. Para, talvez um dia, “descobrir novas estratégias terapêuticas da doença de Parkinson, do cancro e de outras doenças relacionadas”.

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