Açúcar ou adoçante? A pergunta na hora de servir um cafezinho esconde um dilema. Se o açúcar virou vilão da alimentação saudável, os adoçantes também não estão imunes a críticas. Há indícios de que eles possam causar retenção de líquidos e especialistas divergem sobre o risco de câncer associado a esses produtos, mas os estudos não são suficientes para confirmar o receio. Os especialistas, portanto, recomendam apenas que as pessoas não exagerem no uso.
Desde que os primeiros adoçantes foram lançados no mercado, surgiram também as dúvidas sobre seus riscos para a saúde humana. Spams, blogs e fóruns de discussão alarmam sobre os perigosos efeitos colaterais dessas substâncias, mas a verdade é que ainda não há comprovação suficiente de que os adoçantes provocam tumores em seres humanos.
A dúvida surgiu nos anos 1970, quando pesquisadores americanos realizaram testes em ratos utilizando grandes quantidades de sacarina e ciclamato (tipos bem populares de adoçantes). O resultado foi o surgimento de câncer de bexiga nas cobaias. Porém, os testes utilizaram quantidades altíssimas dos produtos, o equivalente ao consumo humano de 700 latas de refrigerantes por dia.
O medo aumentou quando outros testes realizados no Japão indicaram que o ciclamato não era completamente absorvido pelo intestino, e parte desse resíduo era convertido pelo organismo em ciclohexilamina, uma substância considerada cancerígena. Porém, pesquisas posteriores mostraram que a quantidade de ciclohexilamina produzida era muito pequena - cerca de 0,1% na maioria dos usuários regulares do ciclamato.
Devido a esses testes, o ciclamato é proibido nos Estados Unidos desde 1969. Outros países seguiram o exemplo, mas, como as inúmeras pesquisas posteriores não comprovaram o risco, o produto foi novamente liberado para comercialização em muitos lugares.
Hoje, o ciclamato é aprovado e utilizado em mais de 50 países, inclusive na União Europeia e no Brasil, e o adoçante está sendo reavaliado pela Food And Drug Administration, o FDA (agência norte-americana que regula medicamentos e aditivos alimentares), com grandes chances de voltar a ser comercializado.
Outro adoçante, o aspartame, também foi acusado de ser cancerígeno. Em 2006, testes realizados na Itália pela Fundação Europeia de Oncologia e Ciências do Meio Ambiente apontaram que a substância era capaz de provocar linfomas e leucemia em ratos, mesmo quando administrada em doses muito parecidas com a dose diária admitida para o homem. Novamente, os testes seguintes não puderam comprovar o risco do produto em seres humanos, o que levou a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) a divulgar um parecer alegando que não havia evidências que sustentassem uma associação entre o aspartame e o câncer.
"A literatura científica apresenta muitas controvérsias sobre os compostos substitutos do açúcar. No entanto, é preciso levar em conta que estudos populacionais requerem uma grande amostragem, com seguimento contínuo, sintomas semelhantes etc. No caso do câncer, que se apresenta como uma doença multifatorial, é perigoso mostrar essa relação causal", ressalta a bioquímica Aureluce Demonte, professora do Departamento de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara.
Além do câncer
As suspeitas sobre os efeitos dos adoçantes na saúde vão além do câncer. Há quem diga que o ciclamato é responsável por alterações genéticas e atrofia testicular. E o aspartame é acusado de causar danos neurológicos, por ter como um dos principais elementos de sua composição o ácido aspártico, uma neurotoxina (substância que causa a morte dos neurônios e danos ao sistema nervoso).
O que coloca em xeque essas acusações é o fato de que os testes realizados utilizaram doses muito grandes dessas substâncias. "Sabe-se hoje que, para ter um efeito semelhante, seria necessário consumir um pote inteiro de adoçante por dia, por um tempo prolongado. Para indivíduos saudáveis e com consumo moderado, os adoçantes não trazem riscos à saúde", afirma a nutricionista Vanessa Kirsten, professora e coordenadora do Curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano (Unifra), no Rio Grande do Sul.
Um consolo para os consumidores desses produtos é que eles são inspecionados e liberados para o consumo por agências reguladoras. Tanto a sacarina como o ciclamato e o aspartame são aprovados pela agência europeia e pela brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com exceção do ciclamato, a FDA, a Associação Americana do Coração e a Associação Americana de Diabetes também aprovam as substâncias. Mas lembre-se de respeitar os limites indicados nos rótulos!
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