Paulo medita duas horas diariamente há quase 20 anos e livrou-se de problemas de saúde, como as crises renais
Estudos recentes têm oferecido resultados promissores sobre o impacto da meditação na redução da pressão arterial
Para chegar aos reguladores moleculares que promovem os benefícios já comprovados, o grupo analisou pontos específicos de expressão genética antes e oito horas após a meditação. No primeiro momento, não observaram qualquer diferença entre os dois grupos. “Por outro lado, após a breve meditação, detectamos redução da expressão de genes histona deacetilase (HDAC 2, 3 e 9), alterações na modificação global de histonas (H4ac e H3K4me3) e diminuição da expressão de genes pró-inflamatórios (RIPK2 e COX2) em meditadores comparados aos do grupo de controle”, detalha Davidson. A expressão dos genes RIPK2 e HDAC2 foi associada a uma recuperação mais rápida do cortisol em ambos os grupos. Esse hormônio está intimamente ligado ao controle de inflamações, a alergias, a níveis de estresse, à regulação da imunidade, à estabilidade emocional, a estímulo de açúcar do sangue e à criação de proteínas.
O produtor rural Paulo Meireles, 63 anos, pratica a meditação por cerca de duas horas diariamente, há quase duas décadas. Ele afirma que o hábito o ajudou a superar momentos difíceis e recuperou o organismo que, aos 40 anos de idade, já estava muito debilitado. “Eu tinha crises renais seríssimas, enxaqueca e fui diagnosticado com prostatite. Com a meditação, também tive uma mudança na minha alimentação. Na minha idade, eu já deveria estar frequentando médicos, mas não é assim”, comemora. Preferencialmente, Paulo escolhe o lugar para meditar durante as primeiras horas da manhã, quando o barulho da rua ainda é baixo. “Tem dias que mergulho de tal forma na minha meditação que pode cair uma bomba lá fora que eu não vou perceber.”
Sem descanso
Estudos anteriores em roedores e seres humanos já haviam demonstrado respostas epigenéticas — herança de características adquiridas pelos genitores ao longo da vida — ágeis a estímulos físicos, como estresse, dieta ou exercício. “Nossos genes são bastante dinâmicos na sua expressão e esses resultados sugerem que a calma da nossa mente pode realmente ter uma influência potencial sobre a expressão deles”, diz Davidson. O cientista norte-americano acredita que os resultados definem as bases para futuros estudos que deverão avaliar melhor as estratégias de meditação para o tratamento de condições inflamatórias crônicas.
Professora da Universidade Federal de São Paulo e neurocientista do Hospital Israelita Albert Einstein, Elisa Kozasa não se surpreendeu com o potencial da meditação. Ela é uma das autoras de um artigo publicado na revista internacional NeuroImage sobre o tema. A pesquisa comparou o desempenho de meditadores com o de não praticantes durante uma atividade que exigia alto nível de atenção e controle de impulsos. Segundo ela, as imagens cerebrais registradas por meio de ressonância magnética funcional mostraram que, nos meditadores, o número de áreas neurais ativadas para a realização da tarefa era muito menor que em pessoas do grupo de controle. “É como se o cérebro dos meditadores precisasse fazer menos esforço que o dos indivíduos no outro grupo”, resume.
Kozasa considera que o principal resultado do grupo de Davidson não está na constatação das alterações na expressão genética, mas no fato de os efeitos da meditação serem muito distintos de um mero descanso. “Ele mostra que meditar é muito diferente de apenas descansar ou fazer uma atividade tranquila de lazer. Isso é muito importante para demonstrar a importância da técnica”.
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