A maneira como o ser humano vê o universo está mudando. Cada vez mais, fica claro o quão pouco sabemos sobre ele. Na verdade, os cosmologistas têm a resposta: 4%.
Os dados do observatório espacial Planck, desligado no fim de outubro, formam o capítulo mais recente da cosmologia. A sonda da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) calculou com maior precisão a idade do universo (13,8 bilhões de anos), estudou a radiação cósmica de fundo – a qual se originou no Big Bang e envolve todo o universo -, comprovou teorias anteriores e apontou números surpreendentes, como a taxa de expansão do universo, que deve provocar discussão entre os especialistas.
E isso é apenas o começo. “Em 2014, serão liberados novos resultados que certamente irão marcar profundamente a cosmologia moderna”, afirma o professor Lúcio Marassi, doutor em cosmologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e especialista em cosmologia computacional pelo Instituto de Astrofísica de Paris.
A cosmologia é a ciência que estuda a origem, a estrutura e a evolução do universo. Não se encarrega, portanto, de tarefa fácil. Mas descobertas recentes estão revirando conceitos antigos, mudando o que se sabia até há algum tempo e desdobrando um universo inimaginável – ou, pelo menos, digno de ficção científica – poucos anos atrás. Trata-se de um universo repleto, segundo a cosmologia atual, por matéria escura e energia escura, as quais formam 96% do todo.
"Só começamos a nos tornar sábios quando aprendemos o quanto ignoramos. Nesse sentido, sabendo que toda nossa ciência atual baseia-se em apenas 4% de tudo o que existe, vemos que temos ainda muito o que descobrir”, aponta Marassi. “Está começando a Era de Ouro da Cosmologia, e todo dia há uma enxurrada de novas descobertas, desvendando o quanto nosso universo é misterioso e maravilhoso".
A fim de descobrir um pouco mais sobre a Era de Ouro da Cosmologia, e o que ela significa para a nossa compreensão do universo, o Terra entrevistou o doutor Lucio Marassi, que se prestou a explicar, do modo mais acessível possível, os recentes avanços, descobertas e perspectivas dessa fascinante área da astronomia.
Terra - Por que você diz que uma era de ouro da Cosmologia está começando?
Lucio Marassi - A Cosmologia moderna iniciou-se com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, no início do século 20. Quando Edwin Hubble detectou que as galáxias estão afastando-se de nós, em 1929, iniciou-se a hipótese de que o universo teve um início e expandiu-se continuamente até hoje em dia; essa foi a hipótese do Big Bang, que começou a tornar-se bastante sólida com as observações da Radiação Cósmica de Fundo (RCF). A RCF, que é uma radiação de fundo que envolve todo o universo, e que originou-se no início do Big-Bang, foi descoberta observacionalmente primeiro por Penzias e Wilson em 1965 (apenas um ponto do espectro, nesta época), e confirmada totalmente pelo satélite COBE (sigla em inglês de “Cosmic Background Explorer”), lançado em 1989.
Lucio Marassi - A Cosmologia moderna iniciou-se com a Teoria da Relatividade Geral de Einstein, no início do século 20. Quando Edwin Hubble detectou que as galáxias estão afastando-se de nós, em 1929, iniciou-se a hipótese de que o universo teve um início e expandiu-se continuamente até hoje em dia; essa foi a hipótese do Big Bang, que começou a tornar-se bastante sólida com as observações da Radiação Cósmica de Fundo (RCF). A RCF, que é uma radiação de fundo que envolve todo o universo, e que originou-se no início do Big-Bang, foi descoberta observacionalmente primeiro por Penzias e Wilson em 1965 (apenas um ponto do espectro, nesta época), e confirmada totalmente pelo satélite COBE (sigla em inglês de “Cosmic Background Explorer”), lançado em 1989.
É exatamente neste ponto, com o lançamento do COBE, o primeiro satélite dedicado unicamente à obtenção de dados cosmológicos, que começa minha afirmação de que iniciamos a “era de ouro da Cosmologia”. Com o COBE descobrimos que o universo é extremamente homogêneo e isotrópico em grandes escalas, mas há anisotropias na radiação de fundo (ou seja, há variações, irregularidades); são destas pequenas irregularidades iniciais que surgiram todas as galáxias, todos os aglomerados e superaglomerados de galáxias que vemos hoje. Todas as teorias sobre formações de aglomerados galáticos começaram a ter suporte observacional a partir dos dados do COBE, divulgados em 1992.
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