Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na antiga cidade de Curralinho (hoje chamada Castro Alves), na Bahia, no dia 14 de março de 1847. Iniciou o curso de direito em recife, onde já se manifestaram os primeiros sintomas da tuberculose que o consumia. Transferiu-se para São paulo junto com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, com quem vivia.
Na faculdade de Direito conviveu com outros poetas românticos importantes, além do intelectual baiano Rui Barbosa. Destacou-se logo como poeta revolucionário e declamador muito eloquente.
Castro Alves publica em 1863, seu primeiro poema contra a escravidão "A Primavera", nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida estudantil e literária, mas volta para a Bahia no mesmo ano e só retorna ao Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.
Castro Alves inicia em 1866, um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves parte para o Rio de Janeiro onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Vai para São Paulo e ingressa no terceiro ano da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.
Em 1868 rompe com Eugênia. Na comemoração do dia da Independência, Castro Alves declamou pela primeira vez seu conhecido poema “Navio negreiro”.Pouco tempo depois, por volta de 1869, feriu o pé acidentalmente durante uma caçada, contudo, o ferimento agravou-se e o escritor foi obrigado a amputá-lo. Neste mesmo ano, sobreveio o agravamento da doença pulmonar do poeta, o que o fez retornar à Bahia em estado de tuberculose. Em 1870 volta para Salvador onde publica "Espumas Flutuantes".
Voltou para Salvador e lá faleceu em 6 de julho de 1871. Estava no auge de sua popularidade como poeta e declamador.
Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do realismo. Foi também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve a beleza e a sedução do corpo da mulher. É patrono da cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras.
Principais obras de Castro Alves
- Espumas Flutuantes, 1870
- A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876
- Os Escravos, 1883
- Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921)
- Navio Negreiro (1869)
- Tragédia no lar
Características literárias de Castro Alves
Duas vertentes se distinguem na poesia de Castro Alves: a feição lírico-amorosa, mesclada da sensualidade de um autêntico filho dos trópicos, e a feição social e humanitária, em que alcança momentos de fulgurante eloquência épica. Como poeta lírico, caracteriza-se pelo vigor da paixão, a intensidade com que exprime o amor, como desejo, frêmito, encantamento da alma e do corpo, superando completamente o negaceio de Casimiro de Abreu, a esquivança de Álvares de Azevedo, o desespero acuado de Junqueira Freire. A grande e fecundante paixão por Eugênia Câmara percorreu-o como corrente elétrica, reorganizando-lhe a personalidade, inspirando alguns dos seus mais belos poemas de esperança, euforia, desespero, saudade. Outros amores e encantamentos constituem o ponto de partida igualmente concreto de outros poemas.
Enquanto poeta social, extremamente sensível às inspirações revolucionárias e liberais do século XIX, Castro Alves viveu com intensidade os grandes episódios históricos do seu tempo e foi, no Brasil, o anunciador da Abolição e da República, devotando-se apaixonadamente à causa abolicionista, o que lhe valeu a antonomásia de "Cantor dos escravos". A sua poesia se aproxima da retórica, incorporando a ênfase oratória à sua magia. No seu tempo, mais do que hoje, o orador exprimia o gosto ambiente, cujas necessidades estéticas e espirituais se encontram na eloqüência dos poetas. Em Castro Alves, a embriaguez verbal encontra o apogeu, dando à sua poesia poder excepcional de comunicabilidade.
Dele ressalta a figura do bardo que fulmina a escravidão e a injustiça, de cabeleira ao vento. A dialética da sua poesia implica menos a visão do escravo como realidade presente do que como episódio de um drama mais amplo e abstrato: o do próprio destino humano, presa dos desajustamentos da história. Encarna as tendências messiânicas do Romantismo e a utopia libertária do século. O negro, escravizado, misturado à vida cotidiana em posição de inferioridade, não se podia elevar a objeto estético. Surgiu primeiro à consciência literária como problema social, e o abolicionismo era visto apenas como sentimento humanitário pela maioria dos escritores que até então trataram desse tema. Só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano.
Características da obra Navio Negreiros de Castro Alves
Navio Negreiro é considerado um poema épico. Foi escrito no dia 18 de abril de 1868, mas foi tornado público no dia 7 de setembro deste mesmo ano quando foi declamado durante a sessão magna comemorativa da Independência.
É dividido em 6 partes:
1ª Parte) descrição do cenário em que a ação se passará. Exaltação ao belo natural:
‘Stamos em pleno mar...Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta –
E as vagas após ele correm...cansam
Como turba de infantes inquieta.
(...)
Brinca o luar - dourada borboleta –
E as vagas após ele correm...cansam
Como turba de infantes inquieta.
(...)
2ª Parte) o poeta elogia os marinheiros. Exaltação do belo humano:
Nautas de todas as plagas!
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu
3ª Parte) uma visão do navio negreiro. Um quadro de tristeza e horror:
“Que cena infame e vil! Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
4ª Parte) descrição mais detalhada do navio. O escritor fala, também, sobre o sofrimento dos escravos:
“Era um sonho dantesco...”
5ª Parte) em oposição à desgraça dos negros aprisionados, temos a imagem do povo africano em sua terra natal:
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje...cúmulo de maldade
Nem são livres pra... morrer...
A vontade por poder...
Hoje...cúmulo de maldade
Nem são livres pra... morrer...
6ª Parte) presença da antítese: África livre X África que se beneficia com a escravidão:
E existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro bacante* fria!...
Meu Deus! Meus Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente* na gávea tripudia*?!...
Silêncio!...Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
(...)
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro bacante* fria!...
Meu Deus! Meus Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente* na gávea tripudia*?!...
Silêncio!...Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto...
(...)
Bacante: mulher devassa, libertina
Impudente: cínico, sem pudor
Tripudia: diverte-se, humilha
Impudente: cínico, sem pudor
Tripudia: diverte-se, humilha
Castro Alves foi um grande escritor e até hoje sua obra é analisada e estudada. Sua vida também foi muito curiosa, apesar de ter presenciado o enlouquecimento e suicídio do irmão - José Antônio. Teve diversos amores, mas ao que parece, foi com a atriz portuguesa Eugênia Câmara, que ele viveu um grande amor, pois é ela quem serve de referência para sua poesia lírica-amorosa.
Castro Alves viveu em um tempo de mudanças e transformações:
No mundo
- Questão Coimbrã em Portugal
- Positivismo
- Socialismo
- Charles Darwin e a teoria da evolução
- Lutas operárias
- Positivismo
- Socialismo
- Charles Darwin e a teoria da evolução
- Lutas operárias
No Brasil
- Decadência da monarquia
- Luta abolicionista
- Guerra do Paraguai
- Pensamento republicano
- Luta abolicionista
- Guerra do Paraguai
- Pensamento republicano
Vozes d’África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
[...]
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária do universo,
Eu - pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
[...]
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos - alimária do universo,
Eu - pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
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