segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Mário de Andrade - Biografia, obras e frases


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Mário de Andrade nasceu em São Paulo. Um espírito inquieto animava sua impressionante atividade cultural: professor de música, grande pesquisador do folclore, colaborador de vários jornais e revistas, poeta, romancista, crítico literário, crítico musical, ensaísta de arte, folclore, literatura e música.

No ano de 1917, três fatos importantes: morte do pai, conclusão do curso de piano; e há uma gota de sangue em cada poema, primeiro livro, publicado sob o pseudônimo de Mário Sobral. Nessa altura, Mário já adquiria fama de erudito. A participação na semana, a publicação de Pauliceia Desvairada e a nomeação como professor catedrático do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo consolidavam o prestígio de Mário Andrade. A cidade de São Paulo, sua mais profunda paixão, constitui tema frequente de sua obra. 

Publicou Pauliceia Desvairada, em 1922 – sua primeira obra considerada tipicamente modernista. Em 1924 empreendeu a primeira viagem rumo “às descobertas do Brasil”; acompanhado por alguns de seus amigos também modernistas, foi para Minas Gerais e visitou as cidades históricas. A essa altura já se mostrava como um pesquisador das artes literária e musical, além de ser um estudioso do folclore brasileiro.

Por volta de 1934, Mário foi chefe do Departamento de Cultura de São Paulo. Quatro anos depois, motivos políticos provocaram seu afastamento e a mudança para o Rio, onde exerceu o cargo de professor da Universidade do Distrito Federal. Lá ficou pouco tempo. A ligação com São Paulo era muito forte. A Segunda Guerra Mundial afetou profundamente o ânimo do poeta. Parece que essa foi uma fase de grande angústia existencial.

Na tarde e 25 de fevereiro de 1945, faleceu Mário de Andrade, que pedira num de seus poemas:

"Meus pés enterrem na rua Aurora,
No paissandu deixem meu sexo.
...............................................
Na Lopes Chaves a cabeça esqueçam
No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano....

Obras de Mário de Andrade

Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, poesia, 1917
Pauliceia Desvairada, poesia, 1922
A Escrava que não é Isaura, ensaio, 1925
Losango Cáqui, poesia, 1926
Primeiro Andar, conto, 1926
Clã do Jabuti, poesia, 1927
Amar, Verbo Intransitivo, romance, 1927
Macunaíma, romance, 1928
Ensaio sobre a Música Brasileira, 1928
Compêndio da História da Música, 1929
Modinhas e Lundus Imperiais, 1930
Remate de Males, poesia, 1930
Música, Doce Música, 1933
Belazarte, conto, 1934
O Aleijadinho, ensaio, 1935
Álvares de Azevedo, ensaio, 1935
Namoros com a Medicina, 1939
Música do Brasil, 1941
Poesias, 1941
O Baile das Quatro Artes, ensaio, 1943
Aspectos da Literatura Brasileira, ensaio, 1943
Os Filhos da Candinha, crônicas, 1943
O Empalhador de Passarinhos, ensaio, 1944
Lira Paulistana, poesia, 1946
O Carro da Miséria, poesia, 1946
Contos Novos, 1946
Padre Jesuíno de Monte Carmelo, 1946
Poesias Completas, 1955
Danças Dramáticas do Brasil, 3 vol., 1959
Música de Feitiçaria, 1963
O Banquete, ensaio, 1978

Características das obras de Mário de Andrade

Poesia

Há uma gota de sangue em cada poema é o primeiro livro de poemas. Feito sob o aspecto da Primeira Guerra, apresenta poucas novidades estilísticas. Poucas mais suficientes para incomodar a crítica mais acadêmica, que não gostou do livro. O trecho seguinte ilustra a linguagem da obra

De noite tempestuou
Chuva de neve e granizo...
Agora, calma e paz. Somente o vento
Continuou com seu oou...

Pauliceia Desvairada vinha repleto de inovações que logo transformaram o livro numa espécie de ponto de referência obrigatório para os modernistas. Além disso, trazia o "Prefácio interessantíssimo" , escrito em versos, no qual Mário de Andrade expôs sua teoria poética, denominada desvairismo. Leia alguns trechos do prefácio:

Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem 
pensar tudo o que meu inconsciente me grita.
Penso depois: não só para corrigir, como para
justificar o que escrevi.

Impossível não ver aí traços do Futurismo.

(...) Sou passadista,
confesso. Ninguém pode se libertar duma só vez
das teorias-avós que bebeu.

Como todos os modernistas, Mário propõe  o distanciamento do naturalismo que até então tinha marcado a literatura e outras artes.

Fujamos da natureza! Só assim a arte
não se ressentirá da ridícula fraqueza da 
fotografia...colorida.

Seguindo a mesma linhagem, destacamos Ode ao burguês, declamado em uma das noites da Semana. Nele se constata um toque de ironia fazendo menção à superficialidade e ao conservadorismo da burguesia – marca registrada do autor:
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os “Printemps” com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará sol? Choverá? Arlequinal!
Mas as chuvas dos rosais
O êxtase fará sempre Sol!
[...]
Losango cáqui, segundo o próprio poeta, constitui-se de "sensações, ideias, alucinações, brincadeiras, liricamente anotadas". Em outras palavras, o cotidiano de sua vivência transformado em poesia.

Clã do jabuti, certamente resultado das viagens culturais do autor, vale-se do folclore, de costumes e linguagem regionais, numa tentativa de analisar a diversidade cultural do Brasil. Essa intenção de Mário de Andrade evidencia-se já no titulo de alguns poemas: " Noturno de Belo Horizonte", "Carnaval carioca", "Moda da cadeia de Porto Alegre", "Dois poemas acreanos".

Remate de males, além de dar sequência à temática principal da obra anterior, de caráter nacionalista, apresenta poemas líricos que expressam o mundo interior do poeta, como o seguinte:

Eu sou trezentos...

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas, sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Lira Paulistana retoma, numa perspectiva diversa, o mesmo tema da Pauliceia Desvairada, ou seja, São Paulo. Nessa obra está o longo poema "A meditação sobre o Tietê", provavelmente o último poema escrito por Mário e considerado uma obra-prima de sua poesia.

Prosa

Conto

Os contos mais significativos acham-se em Belazarte e em Contos Novos. No primeiro, a escolha do assunto predominante - o proletariado em seu problemático do cotidiano- mostra a preocupação do autor na denúncia das desigualdades sociais. No segundo, constituídos de textos esparsos reunidos em publicação póstuma (1946) estão os contos mais importantes como Primeiro de maio, O peru de Natal e Frederico Paciência.

Romance

O primeiro romance data de 1927: Amar, verbo intransitivo. Nele, Mário desmascara o convencionalismo da burguesia paulistana.

Em 1928, publicou-se  Macunaíma, a obra mais importante de Mário de Andrade. Ele foi classificado pelo autor não como romance, mas como rapsódia. Como nas rapsódias musicais, que se utilizam da colagem de elementos extraídos de cantos populares tradicionais, a obra resulta de lendas, ditos, provérbios, máximas, em resumo, fragmentos da cultura popular sul-americana, reunidos em torno da personagem central - Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. A narrativa pode ser assim resumida: Macunaíma, índio tapanhuma, era o filho mais novo de uma família (a mãe e os irmãos Maanape e Jiguê) que vivia nas margens do rio Uraricoera, na Amazônia. Preguiçoso, manhoso, matreiro e mentiroso, desde pequeno não deixa de arranjar encrenca com os irmãos, principalmente com Jiguê, de quem sempre levava as esposas para "brincar". Com a morte da mãe, os irmãos resolvem sair pelo mundo, que sempre se mostra mágico e cheio de personagens míticos. 

Macunaíma encontra Ci, a mãe do mato, e a toma como esposa, tornando-se o Imperador do Mato Virgem. Depois de perderem um filho, Ci morre e lhe dá uma pedra verde que serve de amuleto: o muiraquitã. Num confronto entre os irmãos e um monstro chamado de Boiúna Capei (que logo se torna a rechonchuda lua), Macunaíma perde o seu amuleto. Sabe, por intermédio de um pássaro, que a tal pedra foi engolida por uma tartaruga tracajá na praia do rio. Segundo o pássaro, um homem pegou o bicho e encontrou o amuleto, vendendo-o a um mascate peruano que mora na cidade de São Paulo, de nome Venceslau Pietro Pietra.

Os três irmãos vão até São Paulo resgatar a pedra e descobrem que o mascate peruano é, na verdade, o gigante Piaimã, comedor de gente. Seguem-se várias aventuras entre eles, sendo que dessas aventuras, contadas como se fossem lendas, nascem várias tradições e costumes do povo brasileiro, como o jogo de truco e a festa do Bumba-meu-boi. Por fim, trava-se o confronto final entre Macunaíma e Venceslau Pietro Pietra: a casa deste possuía um cipó que ficava logo acima de uma grande panela de macarronada fervendo. Persuadindo as pessoas a se balançar, o gigante Piaimã conseguia derrubar sua vítima e obter comida. Macunaíma, no entanto, emprega a mesma técnica contra ele, matando-o na panela e recuperando o amuleto.

De volta à Amazônia com os irmãos, Macunaíma recebe da deusa-sol, Vei, suas duas filhas. Envolve-se, no entanto, com uma portuguesa, o que causa insatisfação em Vei. Esta, por vingança, atrai Macunaíma até um lago onde uma moça de nome Uiara o seduz. O índio acaba por se entregar aos desejos da moça do lago e tem os membros de seu corpo comidos pelos peixes. Recupera a todos, menos a perna e o amuleto muiraquitã, engolidos pelo monstro Ururau. 

Desgostoso da vida, sem o amuleto e sem os irmãos (transformados, numa das peripécias, na sombra leprosa e segunda cabeça do pai do urubu), vai até o feiticeiro Piauí-Pódole, que o transforma na constelação de Ursa Maior.

Célebres frases de Mário de Andrade

"Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi".

"Eu sou um escritor difícil Que a muita gente enquizila, Porém essa culpa é fácil De se acabar duma vez: É só tirar a cortina Que entra luz nesta escurez"

"Quando a alma fala, já não fala nada".

"Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição".

"Devo confessar preliminarmente, que eu não sei o que é belo e nem sei o que é arte".

"Não exijas mais nada. não desejo também mais nada, só te olhar,enquanto A realidade é simples e isto apenas".

"Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo".

"O passado é uma lição para se meditar, não para se reproduzir".

"O essencial faz a vida valer a pena".

"Cheiro de cama quente, corpo ardente e perfumado recendente".

"Que coisa misteriosa o sono!... Só aproxima a gente da morte para nos estabelecer melhor dentro da vida..."

"O passado é lição para refletir, não para repetir".







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