sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Estudo explica por que dormir mal não aumenta o apetite, mas engorda

Pesquisadores americanos mostraram que a privação do sono por si só tem uma ação dupla no cérebro: intensifica a resposta diante de uma comida gordurosa e prejudica a capacidade de rejeitar alimento desse tipo

Pesquisa publicada nesta terça-feira nos Estados Unidos explica como uma noite de sono mal dormida afeta o cérebro e aumenta o apetite das pessoas. A descoberta ajuda a explicar a relação entre uma noite de pouco sono e a preferência por alimentos calóricos. O estudo foi realizado na Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, e ganhou as páginas da revista Nature Communications.
De acordo com o trabalho, a privação do sono tem um efeito duplo na mente no que diz respeito ao apetite. Um deles é estimular a resposta de uma parte do cérebro que administra a motivação de o indivíduo comer diante de um alimento gorduroso – ou seja, a reação diante da ingestão de uma batata frita ou hambúrguer é mais forte quando se dorme pouco e estimula a pessoa a comer mais. Ao mesmo tempo, a falta de sono reduz a atividade do córtex frontal, parte do cérebro responsável por medir as consequências de se consumir determinado alimento e por tomar decisões de forma racional.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The impact of sleep deprivation on food desire in the human brain​

Onde foi divulgada: periódico Nature Communications

Quem fez: Stephanie Greer, Andrea Goldstein   e Matthew Walker

Instituição: Universidade da Califórnia, Berkeley, Estados Unidos

Dados de amostragem: 23 homens e mulheres saudáveis

Resultado: Após dormir pouco, o cérebro de uma pessoa apresenta uma atividade mais intensa quando se depara com alimentos gordurosos. Ao mesmo tempo, ele apresenta uma atividade reduzida em uma área cerebral responsável pela tomada de decisões e por medir as consequências de ingerir certos alimentos.
Ou seja: o cérebro de uma pessoa que dormiu mal responde de forma mais intensa a alimentos não saudáveis e, para piorar, tem prejudicada a sua capacidade de rejeitar esse tipo de comida. A pesquisa mostrou que esse impacto no cérebro ocorre mesmo quando as pessoas se alimentaram e não estão com fome.
A fome não justifica — Outra descoberta do estudo americano foi a de que a privação do sono, na verdade, não faz com que uma pessoa sinta mais fome do que sentiria se tivesse dormido adequadamente. Essa conclusão contraria outras pesquisas que explicaram a relação entre a privação do sono e a obesidade a partir da teoria de que, ao dormir pouco, uma pessoa precisa repor as calorias que queimou durante o tempo em que ficou acordada.
“Isso é importante porque mostra que as mudanças no cérebro que observamos são causadas pela privação do sono em si, e não somente por um possível prejuízo ao metabolismo”, disse ao jornal The New York Times Matthew Walker, professor de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia em Berkeley e um dos autores do estudo.
Avaliação — Participaram deste estudo 23 homens e mulheres saudáveis. Em uma ocasião, eles puderam dormir cerca de oito horas em um noite e, depois, foram ao laboratório dos pesquisadores, onde tomaram um pequeno café-da-manhã, com torrada e geleia. A equipe mostrou a esses participantes 80 imagens de alimentos diferentes e pediram que eles avaliassem a vontade de comer cada item. Durante o teste, uma máquina de exame de imagem mediu a atividade cerebral dos participantes. Uma semana após esse experimento, os mesmos participantes passaram pelo mesmo teste. Porém, dessa vez eles ficaram acordados a noite toda e puderam comer biscoitos e frutas para repor a energia que gastaram durante e noite em que ficaram acordados.
A pesquisa mostrou que quanto mais sono as pessoas sentiam, mais elas preferiam alimentos calóricos e gordurosos, como doces e frituras. Segundo os resultados, passar uma noite sem dormir fez com que os participantes quisessem comer 600 calorias a mais, em média, do que quando dormiram adequadamente. Além disso, as imagens do cérebro dos participantes reveleram a ação dupla que os alimentos calóricos têm no cérebro de uma pessoa que não dormiu adequadamente.

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